Que tal falarmos da sobrevivência do Fluminense enquanto força competitiva? (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, eu sei que tem pessoas que me adoram e outras que me detestam. E sei, também, que esse é o preço para quem se posiciona e acredita no que fala. A informação é algo que se pode e se deve levar a todos. Agradar, infelizmente, só a alguns.

Mesmo assim, eu sei que tem muita gente que pensa diferente, às vezes o oposto do que eu penso, e mesmo assim me adora. São os que me conhecem de fato e sabem identificar quais são minhas lutas e meu propósito. Pois é justamente nessa capacidade de respeitar visões diferentes que está o segredo dos grandes projetos, pois eles estão no centro das visões e perspectivas de cada um.

Eu peço desculpas pela longa ausência. Creio que lá se vão quase três semanas desde a última crônica. Confesso  que minha capacidade de produzir conteúdo sobre o Fluminense entrou em colapso junto com nossas vidas, mas não por isso. O grande problema é sobre o que falar.

Parece que muito da mídia global e tricolor se volta para as recordações do passado. Quando não isso, nos deparamos com uma rotina repetitiva de assuntos superficiais e vazios de novidade.

De modo que ler o noticiário do Fluminense hoje me entedia, com consequente falta de insumos para construir narrativas que não sejam banais. Quanto ao aspecto histórico, o que mais fiz nos últimos dez anos foi tentar tirar de sobre a fabulosa história do Fluminense os véus ali colocados. Mesmo assim, o que vejo é que parece que o Fluminense nasceu em 1995, para alguns, e em 1983, para tantos outros.

Sem querer aqui desvalorizar o trabalho dos colegas da mídia tricolor, o que eu percebi, depois dessas três semanas, é que a comunidade tricolor está desperdiçando uma grande oportunidade.

Ao final dessa crise humana, econômica e social que vivemos, por causa da pandemia de COVID-19, é bem possível que a mesma seja justificativa para tudo. De certo modo, não haverá equívoco nisso, mas não duvidem de que também uma forte dose de desonestidade.

O momento do Fluminense é crítico. Temos uma dívida gigantesca, uma forte pressão sobre o caixa e, no momento atual, praticamente nenhuma receita, mas vale lembrar, também, que uma das principais receitas de que poderíamos estar usufruindo, que eram as premiações e bilheteria com Sul-Americana, foi jogada pela janela bem antes do mundo esportivo fechar as portas.

Inclusive, falando em bilheteria, ao mesmo tempo em que nos priva de receitas, a pandemia nos livra dos prejuízos recorrentes no Maracanã, uma rotina absolutamente injustificável para um clube que convive há anos com atrasos de salários e bloqueio judicial de receitas.

É o que, invariavelmente, nos remete ao projeto de revitalização das Laranjeiras, jogado para escanteio pela atual gestão, atestando a falta de visão estratégica que assola o Fluminense desde 2014.

Por que ninguém fala sobre o projeto, nem que seja para dizer por qual razão foi abandonado pelo clube? Talvez porque não haja um único argumento plausível. E eu duvido que haja, porque até o Abad, que falava abertamente que era contra, acabou se rendendo diante das evidências e dos números.

Eliminar despesas, aumentar receitas e tornar o Match Day 100% lucrativo são propósitos que parecem estar fora do radar da gestão tricolor. O que parece estar de acordo com a visão reinante desde que Xerém se revelou uma mina de ouro é a lógica do capitalismo inverso: vendemos matéria prima de qualidade barato e compramos caro as sobras de qualidade duvidosa. É só olhar os movimentos do Fluminense no mercado nos últimos anos.

Mesmo quando vamos buscar joias no mercado, como Richalison, Caio Henrique, Allan e Yony, somos obrigados a vender por preços depreciados ou perdemos os caras de graça.

É esse modelo perverso e ultrapassado que nós queremos? Vendemos depreciados nossos ativos de valor para manter times sofríveis e sem valor comercial, que não geram receitas, porque não cativam, não empolgam?

Já falei aqui mais de quinhentas vezes que isso não é por acaso. O Fluminense, desde 2014, vem sendo moldado para viver de compra e venda de atletas, não de conquistas. Por isso, não há que se estranhar que elas não venham. E não virão enquanto a mentalidade for essa.

Enquanto isso, a torcida é responsabilizada por todas as mazelas do clube. O torcedor não se associa, o torcedor não vai ao estádio… Pois eu lembro bem de como a torcida foi crédula logo após a concretização da panaceia da eleição antecipada. Não tinha jogo com menos de 20 mil pessoas, todos esperando ansiosos, dia após dia, pelo anúncio do patrocinador que estava na manga, como se um patrocínio de R$ 10 milhões fosse resolver os problemas de um clube que não consegue solucioná-los com um faturamento anual na casa dos R$ 300 milhões.

Ao contrário, temos uma dívida gigantesca, torramos nossos bons e ótimos ativos a preço de saldão e ficamos nas mãos de empresários, que empurram suas sobras, como os tais Orinhos, Felipes Cardozos, Ewandros e tantos outros que fomos obrigados a engolir esses anos todos.

É isso que é o Fluminense dos dias atuais: uma empresa de varejo, que fatura muito bem com as vendas (estamos entre os clubes do Brasil que mais faturam), mas administra pessimamente seus preços e o dinheiro obtido com eles, para continuar, assim, administrando pessimamente e afundando em areia movediça.

Perdemos, portanto, a oportunidade de, nesse momento crítico de nossa história, debater saídas e pressionar quem comanda o clube a se movimentar, sair da inércia, romper com esse modelo ultrapassado, que jamais nos levará a lugar algum.

A única forma de romper com esse modelo é com a entrada de dinheiro grande, que rompa, de um só golpe, com a dependência do clube das receitas de transferências, como fez a Globo com o Inominável da Praia do Pinto. É claro que não estamos falando em doação de dinheiro, como fez a Globo com os café com leite, mas em investimento, mas para que haja investimento é preciso que haja profissionalização do clube e um projeto ousado, inteligente e que se venda com perspectiva de lucro.

É disso que deveríamos estar falando agora, porque disso depende a sobrevivência do Fluminense enquanto força competitiva no cenário nacional. Talvez dependa disso a nossa própria existência e as pessoas não falam sobre isso, ninguém quer saber, o que é absolutamente desesperador.

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Estava no WhatsApp descontraindo um pouco e fiz uma brincadeira sobre criar um comércio de máscaras, que teriam vários estilos: esportivo, luxo, despojado e… máscaras tricolores.

Pois isso acabou virando um verdadeiro brainstorming sobre campanhas de marketing que o Fluminense poderia fazer. Depois de muitas ideias, surgiu uma bem legal, que seria o Fluminense lançar as camisas oficiais novas, com vendas online, dando duas ou três máscaras de brinde para os compradores.

Seria uma forma de incentivo a que as pessoas usassem máscaras, já que essa é a recomendação das autoridades de saúde, além de fazer com que o clube seja lembrado nesses dias de preocupação para todos nós.

Sem contar com a geração de receitas para o clube, pois eu imagino que o volume de receitas esteja relacionado ao volume de vendas, o que é um completo absurdo, pois o principal, que é o clube disponibilizar sua marca para o fornecedor de materiais esportivos fazer branding, não é remunerado. Para vocês verem a que ponto chegaram os clubes brasileiros e nós aceitamos isso passivamente.

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Acho que encontrei uma linha que me parece útil para escrever e gostaria que me dessem um feedback sobre isso.

Já vou adiantando que na próxima quinta falarei sobre a grande farsa construída nos últimos anos para colocar os café com leite onde estão.

Aceito sugestões de pauta para as próximas crônicas. Vamos tentar fazer uma produção colaborativa, o que acham?

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

1 Comments

  1. Infelizmente nos últimos anos o FFC não tem gestões sérias e competentes. Hoje dia 07 de abril e ainda não temos publicado as Demonstrações Financeiras de 2019.
    O orçamento, que para o MB é obra de ficção, não foi votado, ou seja, não há um planejamento ou estratégia de curto, médio e longo prazo.
    Num site hoje, ventila-se que a “diretoria” do FFC pretende negociar com Fred (R$ 500k), TSilva (R$ 1,00 milhão e Mariano (R$ 300k), para que este triunvirato seja o mote do Sócio Futebol. Somente…

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