O “timinho” e o “timão” (por Paulo-Roberto Andel)

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No ano de 1951, o Fluminense foi campeão carioca – o título mais importante do país à época. Numa crônica do mestre Nelson Rodrigues, escrita oito anos depois e reproduzida numa coluna de PVC, um dos poucos grandes jornalistas esportivos que merece respeito, assim era dito:

“… no caso do Fluminense, o diminutivo nasceu quando? Precisamente, há oito anos, ou seja: — em 51. Começamos, naquela ocasião, com um time que parecia uma vergonha. Se virássemos esse time pelo avesso, se o vasculhássemos de alto a baixo, se o espremêssemos até a última gota, não encontraríamos, lá, um cobra. Talvez Castilho. O resto era uma garotada infrene. Tudo novo, tudo imaturo, tudo começando. O neutro olhava a escalação da equipe e concluía: – “São uns cabeças-de-bagre! Uns pernas de pau!” Foi, então, que nasceu o diminutivo exato: — “Timinho!” Amigos, poucos apelidos terão tido um êxito tão instantâneo. Imediatamente, todo o mundo só viu o Fluminense como um irremediável “Timinho”.”

Nada como o tempo, a maturidade e a perspectiva histórica para rever conceitos. Uma escalação com os nomes de Castilho, Píndaro, Pinheiro, Telê, Orlando Pingo de Ouro, Carlyle e Didi jamais poderia ser um “timinho”. Mas a imprensa esportiva comprou a galhofa dos torcedores rivais e até de alguns tricolores. No ano seguinte, Fluminense campeão mundial. Dali em diante, muitas vezes a história do timinho foi repetida, caso de 1980. Título novamente, com vários jogadores que passariam pela Seleção Brasileira. Certas coisas não mudam nunca.

É curioso pensar que este final de 2015 seja uma espécie de matriz inversa do timinho. Antigamente boa parte da torcida sabia que tínhamos um enorme potencial, mas sofríamos a descrença de todos os adversários e jornalistas. Hoje em dia, boa parte da torcida acredita que temos uma Seleflu intocável – um “timão”, uma parte dos jornalistas endossa a crença e então vivemos de momentos esparsos. Pequenas migalhas incapazes de nutrir a alma tricolor.

Chegar à semifinal de Copa do Brasil (começando pelas oitavas) não pode ser uma grande façanha se decidimos o título da competição em 2005 e chegamos às semifinais de 2006, além de finalmente alcançarmos o título em 2007. O Brasileiro de 2015 não foi o de 2013 por duas rodadas de diferença. E, sinceramente, ao espiar rapidamente certos movimentos do clube para 2016, trago uma dose de pessimismo – no que espero estar absolutamente enganado futuramente. Todavia, prefiro esperar o início da temporada para uma análise definitiva, assim como das negociações recentemente efetivadas com as saídas de Vinicius e de Biro-Biro. Na verdade, para não me deixar trair pelas curvas do futebol, é sempre melhor avaliar um tempo maior – e por isso várias vezes critiquei a máquina do tempo que, às vezes, parece insistir em nos teletransportar a 2012, belo ano que infelizmente passou e levou junto seu grande time. No futebol, quatro anos significam tempo demais.

Gosto muito mais do Fluminense do que seus títulos, o que nunca vai significar acomodação de torcedor. Precisamos entrar para ganhar em todas as competições que venhamos a disputar. E não é somente isso, não basta apenas ganhar, mas também solidificar caminhos e honrar a trajetória secular do Fluminense: elegância, transparência, unidade. É sabida a nossa anemia atual: um clube esfacelado politicamente, completamente disforme nas arquibancadas, incapaz de promover uma dialética regular entre seus pares de próceres.

O Natal está às portas, o ano novo também. Sem grandes expectativas, bem mais próximo do fim do que do começo – não tenho mais 15 anos de idade -, de toda forma eu ainda sonho com o verdadeiro Fluminense, aquele dos meus sonhos e dignidade, que ganhava muito e perdia de cabeça erguida, sem edições da história, sem a desprezível new order já relatada pelo camarada Marcelo Savioli em O’Tricolor. O Fluminense da ética, do respeito, da camaradagem, da lisura. Tomara mesmo que o ano de 2016 seja muito diferente das últimas três temporadas – e torço por isso 36 horas por dia. Acreditar nas palavras e nas pessoas já é outra coisa, mas torcer é como respirar.

Abaixo, minha mensagem de Boas Festas. Muito obrigado a todos os que ajudam esta casa de literatura do Fluminense de alguma forma. Que tenhamos um grande 2016. Mesmo.

o fluminense poema livro

Nota: acabo de saber pelo camarada Fagner Torres que o Museu da Língua Portuguesa sofre um incêndio. Ano de 2015, que tal ir para o inferno de uma vez?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: exulla

2 Comments

  1. Valeu, Grande Andel !

    Boas Festas pra vc e todos do Panorama.

    Abracos !

    ST

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