O futuro (por Walace Cestari)

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“O que será do amanhã? Como vai ser o meu destino?” O samba de enredo de 1978 da União da Ilha ilustra a dúvida que toma conta dos tricolores nos dias atuais. Os pessimistas – sempre de plantão nesses momentos – alarmam-se com a distância da zona fatal, vaticinam uma nova queda, tricolebam, enfim. Já os otimistas, bem, esses andam cabreiros e seu otimismo esbarra nas dúvidas.

A primeira coisa a admitir é que não somos mais a “máquina” que fomos nestes últimos anos. Nem técnica, nem taticamente. Mesmo a nossa marca de guerreiros, iniciada na arrancada de 2009, caracterizada por ser o time que luta até o fim, que não se entrega por nada, até mesmo isso não se sustenta mais.

E não pense que essa é uma crítica rasa aos jogadores, tratando-os como indolentes, porque não é. O que acontece é algo absolutamente natural em qualquer atividade humana e que devemos saber como lidar com a situação. O ciclo desta equipe está chegando ao fim. Como tudo na vida, a magia esvai-se e ventos novos devem soprar ares distintos a serem respirados.

Talvez, nosso problema tenha sido ignorar este ciclo e imaginar que não chegaria ao fim ou que não teria um limite de validade. Parece-me que hoje não estamos preparados para as mudanças que seriam necessárias em algum momento. Este é o equívoco do planejamento. Nosso ápice foi em 2012, momento no qual nossa equipe “virou o fio” e entrou em declínio.

Vários jogadores entraram em uma fase técnica abaixo da esperada – muitos nem estão em fase verdadeiramente ruim, mas sim longe daquela esplendorosa forma de 2012 –, houve necessidades econômicas de vendas e, nas compras, imaginamos que o elenco que tínhamos manteria sua forma magistral indefinidamente. Assim, repusemos mal, apostamos pouco na renovação e tudo isso nos cobra seu preço agora.

Há um provérbio que diz que devemos ser flexíveis como o bambu para nos dobrarmos diante do vento forte sem quebrarmos. Abel não quis se reinventar e reformular a equipe. Óbvio que essa é uma responsabilidade compartilhada, já que nosso planejamento não previa tal reformulação. Hoje, ao bruxo Luxemburgo, não lhe resta opção a não ser inventar a reestruturação da equipe.

Claro que, com isso, corremos riscos. Em especial de “queimar” alguns jovens jogadores. Mas é fato que Luxa está garimpando em Xerém e sabemos que há boa matéria-prima para se trabalhar. É preciso, antes de tudo, paciência, pois tudo o que está sendo feito em agosto deveria ter sido pensado em janeiro, mas ficou escondido dos olhos de todos (incluo-me neste grupo, sem medo de admitir que errei nas avaliações do começo do ano).

Por isso, Luxa vai combinar as peças que tem de um time que já foi campeão e que dá sinais de esgotamento, com jogadores em maturação, suscetíveis às pressões e aos equívocos da inexperiência. Tudo isso com a preocupação dos resultados, dos pontos na tabela. Surgirão novas táticas, não pensadas para um longo prazo, mas para atingir objetivos mínimos no campeonato corrente.

Nosso ano depende de alguma sorte. Só assim vejo possibilidade de alguma posição de destaque no Campeonato Brasileiro ou na Copa do Brasil. Entretanto, torço para que não se abandone o trabalho da renovação. Tanto com os meninos de Xerém, tanto com contratações importantes que façam o elenco de 2014 render por mais três ou quatro anos em alto nível. E que saibamos remodelar um pouco a cada período, para não sofrer com safras e entressafras.

Acredito no Luxa para nos levar dignamente até o final do campeonato e calejar nossos meninos para que possamos formar um grande elenco em 2014. Afinal, o Bruxo sempre tem seus ases na manga. E, como as cartas não mentem jamais, podemos acreditar na mensagem que o realejo diz: seremos felizes.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: Gravadora AESEG.