Nós (por Paulo-Roberto Andel)

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Onde nós fomos parar?

Houve um dia e um dia e muitos outros dias em que, por dizerem que éramos uns brochas, brincamos de ser invencíveis, desafiamos todas as normas vigentes e, juntos, levamos o Fluminense a um paradigma difícil de definir – simples apenas de sentir.

Do massacrado vice-campeão da Libertadores de 2008 nasceu o grande campeão brasileiro de 2010 e 2012, superando antes os incríveis 2008 mesmo (segundo semestre) e 2009. Antes disso, na luta contra o rebaixamento em 2006. Seis meses depois, campeão da Copa do Brasil. Em futebol, um estalar de dedos é um século.

Então não viramos mesa alguma; na verdade a rachamos a marretadas.

Desde aqueles terríveis anos que findaram o outro século, uma parte de nós não se conforma: ao primeiro sinal de febre, somos uma bosta irremediavelmente perdida. Vamos cair, vamos descer, nosso destino mora nas trevas.

Não que as coisas estejam boas agora – e nem estão – aliás estáo péssimas -, mas alguém resolve algum problema técnico com faniquitos ou negativismo? Não.

Agora estamos aí no caos outra vez. No campo e nas arquibancadas – estas, no pior padrão Flapress possível.

Está escrito que precisamos mudar. E já.

Ontem. Urgente.

Mas nada está perdido com 63 pontos em disputa. Basta conhecer tabuada.

Tem alguém satisfeito com a atual campanha? Claro que não. Torcer é querer o melhor e abortar o pior. Agora, perder é do jogo – nada a ver com empáfia -, exceto quando o time derrotado anda em campo.

Nas quatro linhas, inevitável não pensar na supressão de nomes como Anderson, Wagner e Bruno. Ou mais. Não é caça às bruxas, é a exigência do momento. Futebol é agora.

Fora delas, que tal se nós fôssemos mais juntos? Em 2009 deu muito certo diante do que poderia ser uma tragédia.

O Fluminense é muito maior do que presunções, arrogância, intimidações e falácias do “melhor diretor do mundo”, “melhor torcedor organizado do mundo”, “melhor torcedor desorganizado do mundo”, “melhor movimento do mundo”, “melhor escritor do mundo”, “melhor fodão do mundo”, “melhor tricolor da semana”. Aliás, essa megalomania delirante de melhor do mundo tem outro endereço, não é em Laranjeiras.

E tem uma história, não a de nenhum donatário iludido, mas sim a sua própria.

E tem amor e riquezas.

Onde nós fomos parar que não nos reconhecemos?

Precisamos de reflexão e autocrítica. Dentro e fora das quatro linhas.

Juntos, somos capazes de façanhas épicas como em 2009. Ali éramos o caos, a humildade e um grupo de forças reunidas que nunca mais se viu. Campo, arquibancada, clube, tudo junto e misturado.

Separados, isolados, somos carne ignara à espera da podridão ou incineração. Merda apenas. Basta uma tolice de morte e somos decomposição. O futuro é a morte, não somos nada diante do mundo, todo mundo vai ser enterrado ou cremado com sinos. Que tal jogarmos a arrogância no vaso sanitário e dar descarga?

Ainda há tempo. Curto, mas há.

De que lado afinal estamos?

Não somos uma torcida por um time? Ao menos, deveríamos ser.

Oxalá, reflitamos em coro para sabermos do futuro e onde nos encontramos.

Precisamos uns dos outros. Muito. Precisamos ser nós e não apenas alguns.

Em 1996, nossa torcida se dividiu.

Deu no que deu.

Uma estupidez defender disso.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: “Us”, Peter Gabriel, Real World, 1992

NOTA: É bom que se diga: NENHUM outro cronista tricolor defendeu e defende mais as torcidas organizadas do Fluminense, assinando o que escreve, feito eu. Embora, claro, isso não me dê o título de “maior cronista tricolor do mundo”, o que agradeço: detestaria estar no lugar de quem se considera assim e, além do mais, a concorrência é enorme. 

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4 Comments

  1. O presidente (a quem eu gosto muito e espero que seja reeleito) diz que o clube está em dificuldades financeiras e pede para o torcedor colaborar com o clube financeiramente, poderia tomar como primeira atitude a obrigatoriedade das TO pagarem ingresso para assistir aos jogos do Fluminense, senão, a ação não bate com o discurso.

  2. Caro Andel, 2009 era muito diferente. O time somente reagiu após alterações e barrações promovidas pelo Cuca e, aí sim a torcida voltou a acreditar, pois via que o time se doava em campo e tinha amor a camisa. A zaga passou a funcionar (Dalton e Digão), tinhamos dois craques no auge (Fred e Conca) e 1 jogador que complementava absurdamente o ataque (Maicon Bolt). Hj, temos um time apatico e jogadores sem qualidade. A mudança tem que vir de dentro do campo pra fora; ai teremos chances de mudar…

    1. Andel:

      “Juntos, somos capazes de façanhas épicas como em 2009. Ali éramos o caos, a humildade e um grupo de forças reunidas que nunca mais se viu. Campo, arquibancada, clube, tudo junto e misturado.

      Separados, isolados, somos carne ignara à espera da podridão ou incineração. Merda apenas. Basta uma tolice de morte e somos decomposição. O futuro é a morte, não somos nada diante do mundo, todo mundo vai ser enterrado ou cremado com sinos. Que tal jogarmos a arrogância no vaso sanitário e dar descarga?”

      cqd

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