Mano, um herói tricolor (por Felipe Fleury)

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Emmanuel Coelho Netto, o “Mano”, morreu em 1922. O Brasil alcançava o período do modernismo cultural, quando “Mano”, ponta direita do Fluminense, entrava em campo contra o São Cristóvão e recebia uma forte pancada no abdome. Foi retirado de campo e massageado, mas como naquela época ainda não havia as substituições, mesmo sem condições físicas, tornou ao campo de jogo, agravando seu quadro, apenas para não prejudicar o seu clube do coração, permanecendo até o final da partida. Morreria 48h depois, no dia 30 de setembro de 1922, de infecção generalizada em decorrência do golpe sofrido.

Em BARBOSA JR. WALDIR, Preguinho – Confissões de um Gigante – Depoimentos do atleta João Coelho Netto ao Jornalista Waldir Barbosa, Edição do autor, Rio de Janeiro, 2013.

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O “Mano” era o irmão mais velho – de um total de doze – de João Coelho Netto, o “Preguinho”. Este, justamente aclamado como um dos maiores ídolos da história do Fluminense Football Club, multiatleta, campeão em oito modalidades esportivas e que, em 1925, após sagrar-se campeão de natação, ajudou o seu clube a conquistar uma vitória no futebol, um verdadeiro campeão de terra e mar.

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Mas a história de Preguinho, morto em 1979, após mais de seis décadas dedicadas ao seu clube do coração, é bem mais conhecida e reverenciada pelos torcedores, um mito que será lembrado pela eternidade como um dos maiores, senão o maior nome que já envergou a camisa tricolor em todos os tempos.

Por isso faço aqui uma exceção para falar de “Mano”, cujo sangue dos Coelho Netto honrou com galhardia, desfilando seu talento pela equipe amadora do Fluminense desde o ano de 1915 até a sua morte sete anos depois. Praticamente um desconhecido por grande parte da torcida, embora seu gesto de sacrifício supremo tenha o condão de elevá-lo ao patamar dos maiores ídolos tricolores, “Mano” é um herói que o Fluminense não pode esquecer.

Emmanuel Coelho Netto foi um desportista tricolor que honrou a camisa de seu clube e, literalmente, morreu por ele. Era outra época, por certo, uma época romântica, onde o amadorismo era a fiel expressão de que os atletas competiam por amor aos seus clubes.

Impensável hoje em dia, afinal de contas o profissionalismo, que tanto impulso deu ao futebol, também foi o responsável pelo sepultamento do “amor à camisa”. Apesar de saudosista, não prego um retorno ao futebol daquela época. São outros tempos e o profissionalismo, para o bem ou para o mal, está fincado em raízes tão profundas que
jamais poderiam ser arrancadas.

Quando penso em Mano, porém, assim como quando penso em Preguinho, Castilho, Telê, por exemplo, penso em heróis. Heróis de carne e osso, gente que deu o suor, deu o sangue, deu a vida pelo Fluminense sem esperar nada em troca, senão a vitória dentro de campo. Penso no exemplo desses homens para as gerações futuras, penso que suas histórias deveriam ser transmitidas de pai para filho, penso que o clube deveria fomentar a divulgação desses belos exemplos de amor incondicional ao clube do coração entre seus empregados, dirigentes e atletas.

O exemplo arrasta, já se disse. E, conquanto os grandes ídolos tricolores já não estejam mais entre nós para contar suas histórias de paixão, seus exemplos permanecem vivos, como o do dedo amputado de Castilho, do contrato de “um tostão” firmado por Preguinho para se profissionalizar – profissionalismo que se negou a aceitar por toda a sua vida como jogador do Fluminense, porque para ele era impensável receber para defender as cores do clube amado – e, sobretudo, o da própria existência de Mano, sacrificada por seu desejo incontido de defender o Fluminense, mesmo após grave lesão sofrida em campo de jogo.

São os exemplos desses heróis que devem ser contados todos os dias. Há muitos dentro do Fluminense que precisam conhecê-los. Gente que se locupleta do clube, que pratica malfeitos e de outros, ainda, que se arvoram maiores do que a instituição.

Voltar no tempo é uma quimera, mas trazer os bons exemplos de volta é uma medida que pode não curar os males do Fluminense atual, mas fará aqueles que ainda têm um pingo de consciência repensarem suas atitudes: funcionários, dirigentes e jogadores, além de dar ao torcedor um paradigma a seguir a fim de que possa reconhecer quem serve ao clube e quem se serve dele.

Mano, por ocasião dos cinquenta anos de sua passagem, em 1972, teve uma placa de bronze oferecida pelo clube em sua homenagem. A placa eternizou o herói. Que o eternizemos, também, não deixando que o seu exemplo morra em nossas lembranças e corações.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: pra/ff/ffc

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