Lançamento do livro “O Fluminense que eu vivi” (da Redação)

CAPINHA O FLUMINENSE QUE EU VIVI

No próximo dia 17/10 (sábado), acontece na cidade de Nova Friburgo a primeira sessão de autógrafos do livro “O Fluminense que eu vivi”, o sexto do nosso cronista Paulo-Roberto Andel entre coautorias e carreira solo, no Bar America. 

A seguir, novos eventos na cidade do Rio de  Janeiro, na Delicatessen O Sabor do Queijo (dia 22/10, quinta-feira, logo após o primeiro jogo das semifinais da Copa do Brasil contra o Palmeiras) e em Petrópolis (dia 24/10, sábado, na loja Só Tricolor.

No mês de novembro, acontece o lançamento em Brasília (dia 21/11, no bar Estação 102) e a data de São Paulo ainda está a confirmar.

Em cerca de 200 páginas, “O Fluminense que eu vivi” já chama a atenção pela capa, de cor preta e com um velho ícone da história do Maracanã: a animação do antigo placar eletrônico que funcionou no estádio entre 1978 e 2008. As informações preliminares dão conta de que o livro é uma homenagem a Moacy Cirne, grande intelectual brasileiro, criador do poema-processo, falecido recentemente e que homenageou o Tricolor em seu livro derradeiro, “Maraca, Maracanã que te quero Fluminense”.

“O Fluminense que eu vivi” tem tiragem bastante limitada (150 exemplares); não é recomendado pela menores de 16 anos devido à linguagem forte em algumas passagens; é uma coletânea de crônicas, perfis e poemas retratando o período compreendido entre o início dos anos 1970 até perto do fim de 2010, quando o Maracanã encerrou suas atividades. O livro terá desconto para sócios do clube e para compras à vista acima de dois exemplares.

LANÇAMENTOS:

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS

Para falar mais sobre a obra,  Paulo respondeu às perguntas da seleção de craques da crônica esportiva convocada pelo PANORAMA:

ZEH AUGUSTO CATALANO (escritor e editor dos blogs Panorama Tricolor, Panorama Vascaíno e Encefálica)

1 – É certo que 99% dos livros de futebol que vemos nas livrarias falam de grandes conquistas e omitem os malfeitos, as derrotas, os personagens trágicos. Por que o seu livro contraria essa “regra”?

Porque entendo que a história não pode ser editada. Torcer por um time de futebol vai muito além de seus resultados e glórias. Estou alinhado com amigos de arquibancada como Antonio Leal (Cinefoot): gosto mais do Fluminense do que seus títulos e vitórias, embora estas sejam muito importantes. A história do Flu tem vitórias a cinco mil léguas de qualquer ponto que se aviste, mas as três cores são muito mais do que vencer. Não deixo de falar nas grandes vitórias, mas não poderia praticar estelionato literário ao escrever um livro com o título de “O Fluminense que eu vivi”: ele tem glórias, fascínio, vitórias, mas também dores, varizes e todos os sinais inequívocos de vida. Meu objetivo é fazer literatura com algumas pitadas de história e reflexão – para isso, é preciso um pouco de tudo. Concordo com você: a literatura de futebol precisa ser revitalizada, buscar outras vertentes. É natural que os clubes promovam o esplendor de suas histórias – o próprio Fluminense já tem o Flu Memória, que cumpre esse papel de maneira espetacular e digna de aplausos, sem concorrências -, mas é preciso também refletir, trocar, experimentar outras possibilidades. A vitória é ótima, mas quantas coisas mais vivenciamos por causa do futebol? Comemorei qualquer vitória na terceira divisão como se fosse na Libertadores, qual o problema? Gosto do Flu em qualquer situação. O livro aborda nossos momentos dolorosos dos anos 1990, acho importante ajudar para que erros do passado não sejam repetidos – dados os anos de 2003, 2006, 2008, 2009 e 2013 além do sinal de alerta de agora, hoje -, nem sejam camuflados. E, no fim das contas, prestar uma justa homenagem a um de nossos maiores tricolores: Moacy Cirne.

2 – Por que escrever um livro de memórias se o Fluminense vive, atualmente, uma grande fase, tendo conquistado dois dos últimos cinco títulos brasileiros?

Não há relação com os títulos de 2010 e 2012. O livro compreende o início da minha vida como torcedor, no começo dos anos 1970, e vai até o fim do Maracanã em 2010, meses antes do Fluminense se tornar tricampeão brasileiro. E digo fim do Maracanã porque ele faleceu mesmo: o que existe hoje é um outro estádio no mesmo endereço, com parte da antiga fachada e mais nada. Só. Eu quis contar a minha trajetória de torcedor de arquibancada testemunhando quase 40 anos do Fluminense, de um jeito muito diferente do que se vê hoje em dia. Ah, a grande fase é um referencial elástico; caso não vença a Copa do Brasil (e eu gostaria muito que vencesse), o Flu terá ficado três anos sem títulos em 2015.

3 – O Fluminense de hoje é muito diferente do Fluminense que o leitor encontrará nas suas páginas?

Sim e não. Em alguns aspectos, talvez os leitores riam ao perceberem que certas questões se repetem com o passar dos anos. Outras, no entanto, parecem irrecuperavelmente perdidas. Então vivenciei em alguns momentos do livro o clima do grande show acústico do Nirvana, meses antes da morte de Kurt Cobain: sinais de despedida, velas acesas, mas ao mesmo tempo uma celebração da vida. Cronicar é isso: registrar os tempos, as coisas, o presente que vira passado a cada instante. Falei de coisas lindas e difíceis. Talvez a maior vitória que eu possa ter com esse livro é se ele levar algum torcedor mais jovem a questionamentos: “O Fluminense não começou agora, rapaz: ele já tinha muita coisa pelo caminho, muita dor e muita alegria”, “O Fluminense é maior do que suas milhares de vitórias”.


JOÃO MARCELO GARCEZ (jornalista, consagrado escritor e editor do Blog Terno e Gravatinha/NetFlu)

4 – A redação deste livro é fruto de uma comparação – ou reflexão – do Fluminense romântico, lúdico, do passado contrastada com este do presente, descaracterizado, sem alma?

De certa forma, sim. Eu não diria este presente imediato porque o livro não chega até ele, parando em 2010 antes do título. Mas ao ler alguns trechos e compará-los com o que temos vivido recentemente, o choque poderá ser gritante. Quando você fala do Fluminense romântico, eu entendo isso na melhor acepção da palavra para todos nós, e é possível ver que o romance deu lugar ao thriller. Não sei se é coisa da saudade, da idade, mas o fato é que você olha para trás e começa a fazer sua própria retrospectiva, avaliando melhor os acontecimentos, as pessoas, o cenário inteiro. O meu Maracanã era o das cem mil pessoas nos clássicos, da geral lotada, da torcida combativa que questionava equívocos e não servia de massa de manobra chocha, dos bandeirões entrando todos juntos e fazendo a festa das crianças apaixonadas com aqueles enormes panos tricolores. O Maracanã de uma só torcida do Fluminense. Ídolos que choravam de verdade nas derrotas. Conheci uma parte desse pessoal: apertei a mão de Castilho, vi Telê de perto, Deley, Assis, Romerito, Edinho, Paulo Victor, todo mundo. E chego a ficar assustado que essa tenha sido a hora da reflexão, de olhar para trás e navegar na saudade. Até nos erros o Fluminense era mais romântico. Duro é especular que o Fluminense que eu vivi talvez não possa ser novamente vivido à frente, mas ficou uma bela história. Fiz o volume 1 e já tenho umas 70 páginas do volume 2 prontas, mas não está prevista a data de conclusão ou lançamento.

5 – Na sua opinião, qual é a melhor passagem do livro e por quê?

Sinceramente eu não saberia te dizer ao certo a respeito de uma passagem específica, mas, quando vi o miolo pronto, fiquei emocionado ao reler homenagens que fiz a heróis que já se foram, pessoas ainda bem vivas que não tiveram o reconhecimento necessário e outras situações. O livro não tem uma ordem cronológica definida – pode ser lido livremente e isso permite várias reflexões. Agora, dá pra dizer que a capa é um excelente referencial de início: o negrume da noite e você sonhando com aquele velho placar do Maracanã num jogo sem importância. As letras tricolores sugerem uma bandeira do Fluminense aberta no meio da noite: experimente apertar os olhos e espiá-la. Ou o preto do luto contra a ditadura que alguns tentam impor aos que não lhe são subservientes: filho e sobrinho de presos da ditadura cívico-militar de 1964, deixo claro que nenhuma mordaça se antepõe à minha literatura, venha de quem vier. Dentro do livro, em vários momentos, há uma brincadeira que sugere a revisão geral e o sonho geral, inspirada num dos maiores poetas brasileiros: Carlito Azevedo em “Monodrama”, um livro imprescindível para se navegar poeticamente pelo Brasil. Com todo respeito às casas editoriais que me ampararam em outros livros, pela primeira vez eu publiquei um livro exatamente como quis: capa, fontes, ondenamento, estilo. Decidi tudo, a maior parte das ilustrações foi feita por mim e não há espaço para pilantras. Catalano deu a mão necessária e pronto. É o tipo de coisa que você só publica sendo independente, livre; senão, lá vem o editor com sua tesoura para contar trechos essenciais em nome de uma economia de centavos por exemplar. Livros não me dão dinheiro, mas uma satisfação enorme.


FAGNER TORRES (jornalista, colunista ESPN FC Brasil)

6 – Do Fluminense que você viveu, o que não existe mais que te dá mais saudade?

O senso crítico comum de parte da torcida. O diálogo. Tudo trocado pela tentativa oca de se estabelecer cultos contemporânos à personalidade (sem trocadilhos). O bom senso, ao contrário dessa incapacidade de alguns em perceber que o Fluminense não nasceu em 2010, não morreu em 1996 e não ficou tetraplégico por causa de 2008 – meio século antes disso já era campeão do mundo. Saudades de um tricolor ver outro na rua ou no Maracanã e imediatamente cumprimentá-lo, abraçá-lo. A hostilidade atual é deplorável e passa por todos os segmentos do Fluminense, o que considero nossa maior derrota em todos os tempos. Eu mesmo já cansei de divulgar trabalhos de pessoas, sites, blogs, livros mesmo de gente que sequer conhecia, simplesmente porque ali estava a defesa do Tricolor, o mais importante de tudo. O Fluminense é uma república, mas parte da torcida perdeu o senso republicano – e o pior é desconfiar que alguns sequer o tiveram na vida. Espero que isso também não seja irrecuperável, mas confesso que não tenho muitas esperanças. Tomara que eu esteja errado. As coisas estão aí a olhos nus, só não vê quem não quer ou ainda por causa da vista turva em função de alguma benesse pessoal, o que felizmente não me atinge porque não dependo do Fluminense para absolutamente nada que não seja o meu amor. Tenho um ótimo e modesto emprego completamente alheio ao futebol, exercido com dedicação há 23 anos e sem apadrinhamentos. Logo, não faço parte de qualquer chapa branca e minhas eventuais críticas à condução do clube não estão atreladas a nenhum compromisso que não seja o das minhas próprias convicções – e quem acompanha este PANORAMA sabe muito bem da pluralidade de opiniões que nele dividimos em todos os aspectos, com democracia de verdade e sem ética de fachada – sou o editor e publico textos dos quais discordo completamente, sem contar que geralmente só sei dos conteúdos minutos antes deles serem programados. Escrevo por hobby, publico por amor ao Fluminense e só. Se eu visasse somente o lucro, não deixaria de publicar em editoras com tiragem de 3 mil exemplares para imprimir 150 exemplares do meu bolso, sem divulgação nas majors e fazendo lançamentos modestos. “O Fluminense que eu vivi”, por mais de um motivo, é para poucos. É para gente com amor. Falsos, jamais.

7 – Qual é a figura que você acha que representa mais o Fluminense que você viveu? Por quê?

São tantas, tantas, mas tantas pessoas que pode parecer injustiça escolher um único nome. Vou falar de duas que significaram muito para mim como jogadores leais, guerreiros de verdade, homens do mais absoluto caráter: Rubens Galaxe e Ézio. Rubens foi a encarnação do Fluminense em campo: proletário, dedicado, polivalente, jogador de grupo que aceitava ser escalado em qualquer posição. Era um protagonista que se fazia de coadjuvante: ganhou cinco títulos cariocas nos tempos em que este era o campeonato mais importante do Brasil, igualando-se à turma do timaço do fim dos anos 1930, além de quarto jogador a mais vezes vestir a nossa camisa. Ézio era o gallant, o homem de família, o mais carinhoso e simpático de todos os ídolos tricolores. Seus últimos momentos em campo pelo Flu foram no Fla-Flu imortal do gol de barriga, fechou o ciclo em apoteose. Um dos maiores artilheiros da história do clube, estava no banco de reservas, em má fase, mas nunca desuniu o grupo por isso. Estes dois jogadores são para mim os paradigmas do espírito do Fluminense, mas é claro que isso é apenas uma pergunta momentânea: há dezenas e dezenas de nomes importantes, inclusive os que eu não vi em campo mas tive a oportunidade de conversar pessoalmente. Imagine um Pinheiro, um Altair, tantos outros. Quando eu cheguei, o Fluminense já tinha 66 anos, uma vida inteira.


ANTONIO GONZALEZ (cronista do site Explosão Tricolor e decano das arquibancadas)

8 – Paulo, quem era o torcedor mais folclórico daquela época que você viveu “aquele” Maracanã?

Rapaz, você é a melhor pessoa para falar disso. Agora, na minha lembrança pessoal é o Toninho “Maluco”, ícone da Fôrça Flu – que nós, crianças, chamávamos de “Biquinho”. Imagine você ser capaz de explicar a alguém sobre como uma pessoa é… simplesmente pelas cutucadas que dava e recebia nas arquibancadas, ou nos intermináveis pedidos para filar cigarros? Um cara que, onde quer que o Fluminense jogasse, estava lá. Outro dia, fiquei muito feliz em ver que o Biquinho da minha distante infância ainda estava lá no Maracanã, superando tudo: a mudança dos tempos, a escrotidão, os dissabores. Não podia esquecer do Zezé, ícone da torcida tricolor ao teu lado, que inclusive é tema de uma das páginas num acontecimento impensável para os jovens torcedores de hoje: um “furo” numa greve da torcida contra o mau rendimento do time e dos dirigentes (risos).

9 – O que era o “Conversa de Arquibancada” para você?

Falo no livro. Imagine um programa dominical de televisão, onde assistíamos os líderes das torcidas organizadas dos times debatendo juntos, criticando, propondo soluções no começo dos anos 1980? Era isso que acontecia. Quando vejo hoje que alguns quererm a extinção das torcidas em prol de uma new order, me dá vontade de chorar ou de fazer coisas impublicáveis. Éramos um outro Brasil – mesmo sob os escombros do fim da maldita ditadura -, um outro Rio de Janeiro, um outro Maracanã e, principalmente, um outro Fluminense. A torcida na televisão aberta, céus! Claro que havia muitos erros, mas também havia outras qualidades muito escassas nos dias atuais.

10 – Diretas já ou Maluf?

Diretas já sempre! Mesmo com os eventuais papagaios de pirata pelo caminho. A turma do Maluf é a mesma que gosta de criticar a Venezuela, mas não resiste em tentar censurar os outros à primeira contrariedade pessoal, na mais fina hipocrisia.

LUIZ ALBERTO COUCEIRO (antropólogo, escritor, idealizador do livro “Pagar o quê?”)

11- O que você não sente mais pelo futebol, em que parte está neste livro?

Começa pelo título. O Fluminense que eu vivo é bem diferente do que eu vivi, por algumas questões já relatadas nas relações humanas, afetivas e sociais. Era uma segurança sentimental chegar ao Maracanã e ver o Seu Armando, a Tia Helena, a garotada da Fôrça. Treinos nas Laranjeiras, os jogadores atenciosos, próximos, longe dessa coisa de superstars empolados. O futebol mais espontâneo, solto, dentro e fora de campo. Uma arquibancada de amigos. O Flu continua sua permanente história rumo à eternidade, mas para quem viveu as décadas anteriores à demolição do velho Mário Filho, ficou a sensação do fim de uma era mais romântica, simplória e fraternal, enquanto. chegou outra, mais sombria, individualista, uma espécie de Gotham City do esporte bretão. Em vez da geral e das cem mil pessoas, as cadeiras gourmetizadas para vinte mil e alguns deslumbrados, preocupados se a selfie vai aparecer no telão. Tomara que os mais jovens se salvem da mediocridade.

12 – Fazendo um contraste com o livro, quais são as mais fortes emoções, e em quais momentos ir ao Maracanã pós reforma vem te mobilizando? 

Bom, aquele gol do Gum no finzinho contra o São Paulo em 2013, que pode ter evitado o rebaixamento (nos tempos em que o zagueiro se preocupava mais com o Fluminense do que em ser cabo eleitoral). Novamente contra o São Paulo, nos 5 a 2 do ano passado, um segundo tempo mágico. Neste 2015, a vitória sobre o Botafogo por 3 a 1 na Taça Guanabara foi uma boa partida. O segundo gol contra o Paysandu pela Copa do Brasil foi bem legal também; eu estava perto da trave, parecia até que a geral tinha renascido por dois ou três segundos. Pouca coisa para dois anos, espero que melhore. Não falo só de títulos e vitórias, mas do resgate dos paradigmas tricolores, que andam sendo desperdiçados às custas de vaidade, prepotência e fanfarronice. Acho que todo jogador, torcedor ou dirigente do Fluminense deveria ter uma aula de iniciação à história do clube; assim, certas bobagens poupariam ouvidos e mentes mais desenvolvidas. Edição dos fatos é dose. O Flu é muito maior do que tudo isso.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Vilarejo

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