Lágrimas e esperanças (por Eric Costa)

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Na quarta, você chorou. E nós fomos junto a você.  Sem exceções. Na sua peculiaridade, obviamente, os comedidos seguravam-se; os mais exaltados gritavam e se emocionavam tal qual autores também fossem do gol.  E quem irá dizer que não são? Já diria outro tricolor que nas coisas feitas pelo coração – e como você o colocou em campo naquele dia – não existe tanta razão. Talvez nenhuma.

O choro nos humaniza, como bem postulou Nelson. “Sentimentalismo é um ponto forte”, ele bem disse. Se há um rótulo do qual não há sentido – nem desejo –  em eu me livrar é o de “muito sentimental”, em vários campos da vida. Choro por lembranças da infância, tremo em despedidas e debulho-me em lágrimas com o futebol em toda sua essência, que é solenemente transcendental às quatro linhas. Quarta, ainda que pela dor, passando pela indignação e povoando-se a frustração ao fim, não foi exceção aos arrepios que este dia da semana já com tanto costume traz a quem torce.

“Ídolo”. Há nos dicionários que tal palavra veio do grego, uma língua tão distante.

Há quem retruque: teria vindo do latim, um tanto mais próximo de nós. Não tão próximo, porém, quanto esteve na quarta passada. Sempre temos aquela mania de colocar o ídolo tão distante como uma entidade, um símbolo, uma mera imagem e quase entidade. As lágrimas de um jogador tão amado pela maioria e ferozmente questionado por outros constrói sob qualquer olhar – e inclusive dos mais resistentes – uma ponte entre o ser humano Fred, seus sentimentos, o amor dos torcedores e o Fluminense Football Club.

Frederico Chaves Guedes registrou definitivamente seu nome na história do Fluminense na última quarta-feira. Se maior ou menor que outros gigantes cujo suor fora derramado pelo clube, foge à competência coletiva ou institucional quantificar. É gigante e isso, meus amigos, basta.  Maior ou menor idolatria a um jogador é algo intrínseco à personalidade individual. Preferência tão particular quanto as mais íntimas.

O gol da classificação não veio. Por pouco. Por tão pouco, Fred.

Esteve em seus pés, eu sei. Sei tanto quanto tenho plena certeza de que todo movimento a seu alcance foi feito, ainda que com o joelho e tornozelo furados pelas injeções de anestésicos.  O acaso, para os que acreditam, não permitiu. Para os rodrigueanos, pura obra de Sobrenatural de Almeida naquela noite. Estivesse de plantão o Gravatinha ele jamais teria permitido tal descuido do destino.

O Fluminense não segue na competição. Caiu, mas com o coração imerso na certeza de ter lutado até o último minuto contra um forte adversário e perante as diversas limitações que possuímos. Fred, como todos os atletas, cai à tristeza e indignação da eliminação.

Não se limitou a isso, porém. Mesmo em queda, alçou-se a mais alta galeria de ídolos tricolores.

E ainda que outros escribas o persistam na condição de “quase herói”, eu a nego solenemente. Herói por completo. Por uma biografia com a camisa tricolor.

Porque a você, meu caro Rica Perrone, a quem tanto admiro, eu digo um sonoro “não” ao relato de que “como o mocinho morreu no final, ninguém vai contar essa história para os netos”.

Só os habitantes da objetividade para crerem em tão cético ponto de vista. E, Rica, você bem sabe que de objetividade este esporte que é a alegria e dor, sorriso e lágrima de cada um nada tem. Nada tem.

E daqui a cinquenta anos, sentado na sala com aqueles que amo e uma boa criançada, entre tantas histórias que o vovô contará, uma delas vai começar com: “Era uma vez um grande time do Fluminense. O Fluminense do tempo do Fred. Uma vez, meus filhos, até sem joelho e sem tornozelo ele jogou. Era outubro de 2015. Jamais me esqueci do dia, do ano e de vê-lo chorando após o gol”.

(*)

Duetos.

Daronco e Vuaden: um dos trabalhos mais lamentáveis da história da arbitragem brasileira foi o que vimos nessa semi-final. O término do jogo diante de um escanteio pró-Fluminense, com treze segundos restantes, lacrou a sepultura dos árbitros no Brasil.

Gum e Magno Alves: um planejamento sério para o ano que vem simplesmente não pode contar com estes dois. Identificações à parte, tecnicamente ambos não têm a mínima condição de vestir a camisa do Fluminense. E não falo sobre o pênalti perdido apenas. Aquilo é mera orelha do antológico livro de falhas de nosso zagueiro.

“Fred sentiu” e “Fred decide”: duas frases, quatro palavras e um Saara de distância entre aquela que mais aterroriza o torcedor tricolor desde 2009 e a outra, já tão comum, já tão frequente, mas que não cai em clichê. E jamais cairá.

Florida Cup e bom planejamento: andam juntos? Do ponto de vista fisiológico, estou quase certo que não. Do marketing, quem pode afirmar algo diante de tanta opacidade nos dados a respeito da última? Quantos planos de sócio e/ou camisas foram vendidas? Torneio de verão sem objetivo definido. Há mais coisas entre o gramado de Laranjeiras e o Cristo Redentor do que pode crer nossa vã consciência, caro leitor.

Saudações tricolores.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri 

LANÇAMENTO O ESPIRITO DA COPA RJ

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