Festinhas de criança (por Zeh Augusto Catalano)

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“Um dia para esquecer” (foto de um botafoguense com as mãos no rosto)

Tarde de domingo, duas festinhas de criança pra ir com minha filhinha. A segunda delas, do irmão mais velho de uma amiguinha da escola. Festinha do botafogo. Bandeira do Botafogo na parede. Pirulitos do Botafogo e (em muito menor número) dos demais times do Rio e SP.

Como brinde pras crianças levarem para casa, taças. Douradas.

Juro que me passaram pela cabeça as ideias mais incríveis. Botafogo, taça…

Havia algo de errado.

Enquanto isso, no Rio, o elefante continuava a cair de cima da árvore. Com direito a gol de Obina.

Na festinha, todos da família com camisas do Botafogo. Fora estes,  uma arquiteta com camisa do Atlético. Entre as crianças, duas com camisas do Barcelona. E um único tricolor.

Depois, com a festa já perto do final, sentei-me para testemunhar o finzinho do 1o tempo do jogo do Vasco, cercado pelos mesmos pirralhos. Todos berrando “galo”. Um flamenguista se deliciava com o que via. Só um dos meninos, com a camisa do Barça, não berrava. Era um vascaininho, furibundo com o que via na tv e fora dela.

Repito isso aqui N vezes. O futebol por aqui não vai conseguir se reerguer se, em vez dos pais darem uma camisa do Flu, Vasco, Flamengo, derem Chelsea, Real Madrid, Barcelona, Milan, Inter… A paixão também vem do orgulho de desfilar uma camisa do seu time. Mas por que uma camisa destes times custa o mesmo (ou mais barato) que a camisa do time local? Até quando nosso futebol vai suportar essa globalização de marcas e exportação de jogadores?

A propósito: o outro Barceloninha era filho do flamenguista. Se disse torcedor do galo. Pai e mãe flamenguistas tentam contornar. Não sabem a origem da paixão. Ganhou camisa do Barcelona.

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“Diante do lanterna do Brasileiro, o que a torcida do Flamengo mais esperava era a vitória, para afastar a crise que ronda o clube após a saída do técnico Mano Menezes, na quinta-feira.”

Rola festinha na casa do craque improdutivo, batida de carro do outro craque – também improdutivo – do time, goleada de quatro diante da torcida, pedido de demissão do técnico, empate com o último colocado do campeonato, mas a crise RONDA o clube. O presidente fica sabendo da saída do técnico pelo rádio do carro, mas não há crise. A imprensa é barrada do clube, em medida claramente euriquista, mas não há crise. Os grandes craques têm de pedir permissão pra entrarem no clube, Zico inclusive, mas não há crise. Crise há nos outros.

No Vasco, que ontem perdeu “dignamente” de um dos melhores times do país, depois de um começo de jogo apavorante.

No Botafogo, que ontem diante de sua (não) torcida perdeu para o Bahia e começa a derrocada. É o segundo colocado, a oito pontos já do líder. Crise!

No Flu, um empate terrível com um time do meio da tabela. Viés de baixa.Más atuações de jogadores. Política efervescente. Patrocinador negociando. Crise!

O que precisa acontecer para ter uma crise na Gávea? Cair um meteoro no campo? Acho que não, pois este só mataria gatos e ratos. Mas isso talvez seja, por si só, uma excelente notícia. Se houver crise, haverá mudanças. E mudança é o que não deve ocorrer no estado atual das coisas. Que continuem assim. Mesmo que isso signifique o estado atual do Vasco.

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Ainda no meio da festa, Andel me liga: “Cara, o flamengo acaba de perder um gol inacreditável no último minuto. Você tem de ver”. Sim… Inacreditável. Mas não há crise.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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