Deco, Deley e Romerito (por Paulo-Roberto Andel)

Lá atrás, o destino sorriu para o Fluminense. Numa mesma semana, nasceram em anos diferentes três grandes feras do clube, dos tempos que o Flu as tinha. Campeões que deixaram suas marcas no livro dos dias tricolores.

Deco jogando era algo como apreciar John Coltrane com seu quarteto marcante, ou talvez Paul Chambers no baixo. Jazz em essência. Seu último lance em campo foi um lançamento preciso de 50 metros. Nunca me esqueço de um jogo no Engenhão contra o Cruzeiro, num sábado em 2011, acho. Eu fui com Marô e acho que empatamos, mas o lance fenomenal foi uma cobrança de falta ou chute corrido que Deco acertou no travessão: a bola ganhou muita altura e, quando desceu atrás do gol, quicou cheia de efeito várias vezes. Às crianças que viram aquilo nunca mais se esqueceram. Um cracaço que eu merecia ter visto criança, mas já vi quarentão. Deco foi peça fundamental no título brasileiro em 2012, o Fluminense talvez não fosse um campeão tão expressivo sem ele.

Deley e Romerito nasceram no mesmo dia com um ano de diferença. É difícil crer que vi Deley nas preliminares do Maracanã e no inesquecível campeão de 1980, isso tem mais de 40 anos. O Flu jogava geralmente todo de Branco. Deley era o cabeça de área, substituindo ninguém menos do que o monstruoso Carlos Alberto Pintinho (Givanildo veio para o Flu mas, quando sentiu que a vaga seria de Deley, sabiamente se mandou: não ia jogar nunca). Deley, Gilberto e Mário; Jandir, Deley e Assis: trios que marcaram época. Procure pelo mitológico gol de Assis 1983 e lá está a assinatura eterna de Deley, tetracampeão carioca e campeão brasileiro.

Romerito pisou no Maracanã com a camisa do Fluminense em 1984 e mudou o time para sempre – o Flu era excelente e virou excepcional, com passes rápidos, triangulações, velocidade e uma marcação fulminante que. Jogava em todas as posições, corria o tempo inteiro, era implacável sempre. Garra e talento permanentes em campo, foram Edinho, Romerito e Conca (peça monumental em 2010). Carismático e divertido, ele até hoje é figura fundamental no clube. Um jogador fabuloso. Tricampeão carioca e brasileiro, autor de gols inesquecíveis, ídolo, verbete.

Com o Deco não pude falar, mas Deley e Romerito mandaram agradecimentos pela lembrança de seus aniversários no WhatsApp. Fiquei olhando a tela, aqueles caras, pensando naqueles tempos imortais, tempos em que o Fluminense era protagonista e não figurante. Tempos de uma torcida vibrante, combativa, sem espaços para adesistas de gestão. A gente conversava com os amigos e ninguém sonhava em ser picocelebridade da internet. Meus ídolos dizendo “muito obrigado”. Eu, menino daquele tempo, hoje um cinquentão, sofria com várias coisas, mas o Fluminense tinha cheiro de grandes jogos e títulos. Era bom demais.

Já pensou os três juntos?

[É certo que os amigos que acompanham este PANORAMA estão mais preocupados com o importante jogo desta segunda-feira. Diversos cronistas da casa já pontuaram a questão. E, por outro lado, é melhor que o cronista queira falar dos melhores tempos, em vez dos piores.

[Eu tenho saudades do Fluminense, da torcida, de um ethos tricolor que hoje parece esquecido, abandonado. Éramos muito diferentes de tudo o que aí está, do panaca do Twitter à direção.

[O Fluminense não pode ser uma loja de aluguel de camisas para empresários. Não pode se contentar com quinto lugar, campanha digna, vice-campeonato sendo amassado pelo campeão. Felicidade com eliminação da Libertadores, “Chegamos longe demais”. O Fluminense não é isso. Lutem até o fim para desmentir essas sandices.

No mais, seguimos nosso tempo. Torcemos, mas não somos claque nem massa de manobra de dirigentes. Nenhum deles é maior do que o Fluminense, nem mesmo sobrenomes super poderosos como os de Laport, Guinle e Horta, imagine os mais recentes.

Que venha o afastamento da zona de rebaixamento.

1 Comments

  1. O Fluminense, instituição, hoje é um clube médio. É duro constatar isso, ainda mais com o passado marcado pelo protagonismo no futebol.
    Mas, os tempo são outros, e quanto mais cedo todos entenderem isso, mais rápido ele pode refazer o caminho da grandeza.

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