Cuiabá 2 x 2 Fluminense – Senta na cadeira e abre a cerveja, que a análise é longa (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, vamos começar dizendo que o Fluminense sofreu um empate injusto com gosto de derrota. Pelo que produziram as duas equipes na noite de hoje, merecíamos um resultado melhor, mas aí vêm os erros.

O primeiro deles foi de Samuel Xavier. Um erro de fundamento no primeiro quarto do jogo, quando já vencíamos por 2 a 0 e tínhamos uma janela aberta para sair de Cuiabá com uma goleada. Dar carrinho na área não existe num lance em que você não tem a visão da movimentação do adversário, que corria em direção à lateral.

O Fluminense joga há rodadas e mais rodadas com três volantes. O que faz Marcão, em determinado momento do jogo, com o Flu vencendo por 2 a 1, tirar Nonato, que fazia ótima partida, para colocar Casares, desmontando o esquema de três volantes? Foi ali que a defesa do Fluminense se desmontou e os caras conseguiram empatar o jogo na primeira jogada de construção coletiva.

Para piorar, Marcão tira Caio Paulista, que fazia boa partida, para colocar Lucca em campo. Para que Lucca, Marcão? Eu fico imaginando aqui se algum torcedor do Fluminense pediria Casares e Lucca naquela altura do jogo, tirando de ação Nonato e Caio Paulista.

Talvez alguns torcedores, como eu, pedissem JK, para a gente conseguir acelerar o ataque, até porque o Fluminense marcava muito bem em todas as fases do jogo e o Cuiabá andava nos entregando a bola em situações de risco. A gente até esperaria que, com o passar do tempo, Arias e Gabriel Teixeira entrassem no jogo, que se desenhava todo para nós, mas Marcão errou e todos nós pagamos caro por isso, perdendo a oportunidade de chegar ao G-6.

Alguns jogadores precisam ser exaltados, apesar do péssimo resultado. Luís Henrique, que eu já andava querendo ver na lateral-esquerda, mais como homem de criação, mostrou mais uma vez que tem incríveis habilidades como finalizador, o que é muito bom, porque estamos diante de algo muito parecido com um craque. Que golaço! Sem contar com a assistência para o terceiro gol, absurdamente anulado pela arbitragem e uma finalização que quase faz o goleiro deles se esborrachar contra a trave para evitar, mais uma vez, o terceiro gol.

Caio Paulista também fez boa partida e fez por merecer a nossa confiança de que o aparentemente absurdo investimento feito em 50% dos seus direitos econômicos não será mais uma marmota da atual gestão. Foi uma das referências do time em campo, sempre participativo e ajudando a construir boas jogadas, inclusive a do segundo gol.

Gostei de Bobadilla, não só pelo gol, mas pela entrega e intensidade na primeira linha de marcação, algo que não temos quando Fred está em campo. O mais surpreendente, no entanto, é a atuação de Danilo Barcelos, não só pela assistência para o segundo gol, marcado por Bobadilla, mas pelo conjunto da obra, embora o espaço deixado pelo seu lado tenha sido bastante explorado pelo Cuiabá, mas aí é problema do técnico. Ofensivamente, Danilo foi muito bem.

Mas eu tenho que abrir um parêntese, em que pese a genialidade cada vez mais visível de Luís Henrique, para falar de Sir Nino. Vale a pena você ir a um jogo de futebol só para ver o Nino jogar. O sujeito conseguiu ligar dois contra-ataques nossos no segundo tempo atuando como zagueiro. É quase inacreditável a facilidade com que essa criatura joga bola. O Nino é o melhor jogador do Fluminense na atualidade e não tenho dúvidas em afirmar que é o melhor zagueiro do futebol brasileiro.

Mas essa análise não pode parar por aí, porque os movimentos táticos do jogo são dignos de provocar reflexão. Ainda que tenha errado clamorosamente na primeira substituição, Marcão, ao que me parece, tentou dar sustentação a uma visão totalmente diferente de jogo. O Fluminense volta para o segundo tempo e sai da zona de conforto, da acomodação. Vai buscar a marcação o tempo todo no campo do adversário, marcando pressão e desestruturando a saída de bola do Cuiabá para criar chances de gol, que de fato aconteceram.

Para alimentar essa postura, era até aceitável que se tirasse um dos volantes do time, mas não para a entrada do Casares, que até não foi mal no jogo, muito menos do Lucca. Era para vir com Gabriel Teixeira e Arias, que gerariam a mesma aproximação no meio, aumentando a qualidade técnica e mantendo a intensidade do time, o que teria colocado o Cuiabá a nocaute.

É muito bom, no entanto, que Marcão pense fora dessa caixinha do 4-3-2-1, ainda que a aplicação tenha sido em momento inapropriado e com as peças erradas. O segundo tempo do Fluminense esteve muito longe de ser ruim. Foi melhor que o primeiro. Foi uma seta indicando um possível caminho.

A entrada de JK nos dá alguma motivação, embora tardia, quando já cedêramos o empate. Precisa começar jogando, no 4-2-3-1 ou no 4-3-2-1, com Caio Paulista e Luís Henrique pelos lados. Vai ser um inferno para as defesas adversárias.

Nós temos um caminho que pode ser muito virtuoso pela frente. Só não cabem mais os erros recorrentes, como o pênalti infantil de Samuel Xavier, as mexidas erradas de Marcão e a insistência em peças que até podem ser úteis, mas não podem ser obrigatórias.

Nossa missão é terminar o campeonato no G-4 ou, se for o caso, no G-5. Eu tenho certeza absoluta de que podemos e de que Marcão tem capacidade para nos levar até esse objetivo. Já mostrou isso antes, mas é preciso coragem e autonomia.

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Daniel Alves? Traz para ontem! Não é só por causa do pênalti cometido pelo Samuel Xavier. É porque Daniel Alves é um jogador cerebral, um organizador de jogo, que caberia perfeitamente na ideia que Marcão tem de futebol.

Além do ganho técnico, a simbologia dessa contratação seria muito forte num momento em que o futebol brasileiro exige ousadia e uma visão mais impregnada pelo marketing. Mas de nada isso adianta se não houver mais seriedade nas decisões tomadas, porque trabalhar sério eu sei que essa equipe trabalha. E Marcão vai arcar com as consequências do sucesso ou do fracasso. E Marcão tem a faca e o queijo na mão.

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Ah, a entrevista do Mário? É o retrato translúcido de que não dá para levar essa gestão muito a sério. A gente tem que torcer para os Deuses continuarem conspirando ao nosso favor no futebol, porque nossos resultados, ainda que muito aquém do que seria digno, são excelentes se confrontados com o que está sendo feito.

Eu espero que tenha gente no Fluminense se articulando para montar um projeto para o clube. Há caminhos para o Fluminense chegar a 2023 como uma força competitiva importante no futebol brasileiro e mundial. Há caminhos, mas precisamos de gente que queira percorrê-los e não é o caso de quem está hoje à frente do clube, pelo menos não é o que podemos enxergar, e espero apaixonadamente estar errado.

Saudações Tricolores!

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2 Comments

  1. Concordo bastante com a sua análise. Mas o Luiz Henrique, além de craque é o típico número 10. Tem a mesma vocação do Assis. Ele deve jogar livre pelo meio, caindo pelas pontas, mas nunca fixo numa ponta.
    Perceba isso.

    1. Verdade. Ele me faz recordar o Gerson(este que tava no flamengo, de volante) quando iniciou no Fluminense. Jogava mais ou menos por ali na intermediária de onde partia muitas vezes com a bola dominada ou enfiava pros atacantes. Este menino vai evoluir se ganhar liberdade e deixar de ser secretário de lateral. É muito habilidoso, mas o treinador tem que tirar a “tornozeleira eletrônica” dele. Tem que deixar o garoto jogar do meio pra frente.

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