Dentro do contexto, mas fora da curva (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, eu sempre digo que o resultado é só um de muitos indicadores. Essa derrota específica para o Inter, se inserida no contexto, pode parecer um maremoto. E a verdade é que não se faz análise de um ponto fora de seu contexto. O Fluminense chega à quarta derrota consecutiva no Campeonato Brasileiro, cai para a 15ª posição e está, agora, a dois pontos da zona de rebaixamento. Pode piorar se o América MG vencer a Chapecoense daqui a pouco lá em Chapecó.

A questão é que não é produto da derrota para o Inter a situação que estamos vivenciando. O Fluminense chega a essa condição pelo conjunto da obra. Escalações ruins e substituições piores, essa tem sido a marca registrada de Roger. Derrotas para Grêmio e América MG são inconcebíveis. E tudo isso acontece num momento em que teremos pela frente verdadeiras decisões no mata-mata.

Para piorar a situação, ainda temos uma pedreira na próxima rodada, que é o Atlético MG, mesmo adversário das quartas de final da Copa do Brasil. Diante disso, é natural que tenhamos essa percepção de terra arrasada, sobretudo quando somos derrotados pelo Inter com dois gols depois dos 48 minutos do segundo tempo. Num jogo em que nosso sistema defensivo falha clamorosamente em três dos gols colorados.

Diante de tudo isso, podemos então nos reunir para a ingestão da cicuta?

Não, de jeito nenhum. Eu disse que o ponto precisa ser analisado dentro do contexto, mas o ponto ainda é um ponto e o jogo de ontem foi um ponto fora da curva. Eu venho há semanas apregoando algo muitíssimo parecido com o que Roger levou a campo ontem. Acredito até que Roger teria reproduzido fielmente a minha escalação de sábado se não tivesse perdido Gabriel Teixeira.

A solução encontrada foi Ganso, um jogador com características completamente diferentes, que, de certa forma, ajuda a explicar o colapso do nosso sistema defensivo, mesmo com três volantes em campo. Não deu tempo nem de gelar a cerveja e o Inter, no seu primeiro ataque, marca em falha de nossa defesa, a primeira de três.

O Inter aproveita o evento para jogar do jeito que mais gosta: no contra-ataque. Quase marca o segundo logo em seguida, mas então o Fluminense começa a assumir o comando da partida. É bem verdade que nossa posse de bola era improdutiva, mas já era possível ver qualidades no nosso tipo de movimentação. Numa jogada em que Ganso abre na lateral do campo, André muda a direção do corpo e Yago parte por dentro pedindo a bola nas costas da zaga. O passe é de almanaque, tanto quanto o toque sutil na saída do goleiro.

Na sequência, antes do apito final, Abel Hernández volta a atacar o espaço às costas da zaga colorada, domina e não vira o jogo porque o goleiro do Inter faz grande defesa. Reparem bem que nesses dois lances tempos jogadores atacando as costas da defesa colorada, algo que talvez não tenhamos visto em nenhum momento em nenhum dos últimos cinco ou seis jogos do Fluminense.

Quando volta para o segundo tempo, o Fluminense já se encontrou dentro desse esquema e parte para cima do Inter, criando duas oportunidades claras de gol. Mas você não pode dar mole para um adversário que a uma semana atrás meteu quatro na Dissidência. Nova falha da nossa defesa, mais um gol do Inter, novamente em bola cruzada na área, mas dessa vez com erro de marcação começando antes do cruzamento, quando Luis Henrique e Samuel Xavier se confundem na marcação e deixam o jogador colorado livre para cruzar.

É aí que entra aquela questão de termos Ganso e não Gabriel Teixeira. Não por culpa do Ganso, mas pelo fato de quebrar aquela dinâmica dos dois ponteiros. É bem verdade que Luis Henrique estava no lance, mas com três volantes e sem um dos pontas nossa linha tinha dificuldades de leitura. Nada que não se possa corrigir para o próximo jogo.

O Fluminense volta a comandar a partida, mantendo o Inter desconfortável no jogo. Até que vem o verdadeiro filme de terror. Roger, que não mexera no time, resolver promover o tradicional pacotão. Tira Luis Henrique e coloca Matheus Martins. Seis por meia dúzia. Tira Martinelli e põe Nenê. Aí você já desmontou o esquema que vinha dando certo. Tira Yago e coloca John Kenedy. Aí que bagunçou de vez. Passamos a jogar com quatro atacantes e dois meias.

Não deu tempo nem de esperar a conta da bobagem e Egídio acertou um belíssimo lançamento para Nino subir livre de cabeça, tirar do goleiro e empatar o jogo. E agora? O que fazer com a bagunça? Roger corre para tirar Ganso do time e colocar Wellington. Ali termina o domínio do Fluminense e o próprio Wellington se encarrega de falhar no lance do terceiro gol do Inter, marcado aos 48 minutos.

Eu acho que mesmo para a besteira que, no meu entender, Roger cometeu, a conta veio doída de mais. Porque um minuto depois nós perdemos a bola no ataque e o Inter sai em velocidade, no três contra um, para fazer 4 a 2 no placar. Eu entendo que a conta veio alta demais, porque o Fluminense merecia um bom resultado pelo que fez em campo e pela ousadia de Roger de levar a campo uma outra proposta de jogo.

Tivemos um Fluminense com mais posse de bola que o adversário e que criou mais oportunidades de gols que, provavelmente, nas últimas três partidas somadas. E isso contra um adversário qualificado, que é vice-campeão brasileiro e vem de uma goleada sobre a Dissidência dentro do Maracanã.

A questão é saber se Roger terá pulso e respaldo para aproveitar a porta que escancarou para colocar o Fluminense definitivamente nos trilhos. Eu até repetiria o time contra o Barcelona para dar quilometragem à formação. Até porque a atuação de Ganso e a dinâmica ofensiva me deixaram com a pulga atrás da orelha.

Eu só lamento que nós já tenhamos atirado o Campeonato Brasileiro pela janela. Se Roger agir com coerência a partir de agora na escalação da equipe, vamos começar a subir na tabela, lembrando que temos um jogo a menos disputado. Com a formação de ontem mais treinada temos tudo para passar pelo América e encarar a Dissidência de igual para igual.

Aliás, a ironia está no fato de que escalamos três volantes para melhorar absurdamente nossa produção ofensiva e nossa defesa piorou. Tomara que consigamos corrigir isso até quinta-feira!

Saudações Tricolores!

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2 Comments

  1. América? Não seria Barcelona? Eu já odeio o Roger, e juro solenemente que quem decidiu a copa do brasil 2007 pra gente foi o Adriano Magrão. E tenho dito. ST

    1. O Fluminense está me deixando tão desorientado que a cada coluna eu troco o nome de um adversário.

      ST!

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