Abel, Fred e o tempo que não para (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, tenho um grande respeito pela figura de Abel Braga, não apenas por ter sido campeão brasileiro com o Fluminense, mas por todas as suas outras conquistas na carreira. Mas… assim como para Fred, um jogador veterano muito vitorioso, o tempo foi cruel com Abelão e passou muito rápido, deixando nossos dois craques para trás.

O tempo, amigos, é inexorável. Há algumas atividades que, hoje, com 41 anos, não consigo mais fazer (ou tenho bem mais dificuldade para tal), que eram triviais para mim há uns 20 anos, coisas como ter pique para trabalhar de dia, estudar à noite e ainda fazer trabalhos de faculdade de madrugada, por exemplo, e repetir o processo várias vezes na semana. Fred já vem se arrastando há algum tempo, e Abel parece ter dado seu último suspiro no vice-campeonato brasileiro recente do Inter.

Se hoje Cano parece o substituto natural de Frederico, não temos um nome imediato para substituir Abelão, a não ser que recorramos ao “always ready” Big Mark. Mas a verdade é que sua última coletiva, se fosse dada pelo Ricardo Drubscky, teria sido motivo de demissão sumária. Não dá pra “fechar a casinha” colocando Wellington e justificar que era para garantir resultado contra o… AUDAX. Não dá. Essa foi pior do que dizer que uma derrota acachapante “foi linda”, foi pior do que 0x0 é melhor que 2×1. Essa declaração foi o fundo do poço da carreira de Abel. E só estamos no terceiro jogo da temporada.

É muito difícil mesmo defender o que o Abel tem feito nos últimos jogos. Poderíamos perdoar a falta de entrosamento dos caras, o período de adaptação ao novo esquema tático, a falta de ritmo de jogo, a condição física longe do ideal… tudo isso seria compreensível, mesmo contra os times fracos do Carioca, SE todos os demais rivais não estivessem “passando o carro” por cima, tendo uma facilidade bem mais destacada que nós ao confrontarem os mesmos times. Hoje somos a quarta força do Rio dentro de campo, e isso é preocupante.

Não é temerário pelos motivos mais óbvios, como a chance real de completarmos dez anos sem um título estadual (e sem um título qualquer que seja, noves fora a Primeira Liga), mas pelo que foi planejado o ano. A expectativa criada que poderá murchar no comecinho de março, caso não apresentemos um padrão mínimo de jogo que nos permita eliminar o Millonarios pela segunda fase da pré-Libertadores. Ali, nosso ano pode acabar, pois as “badaladas” contratações vão ter que buscar títulos para os quais a concorrência é bem mais ferrenha.

Espero que esses “experimentos” que Abel tem feito ao menos sirvam para escalar um time mais coerente no final das contas. Algumas situações já ficaram claras, como o momento melhor de Calegari, a necessidade de voltar a utilizar Marlon, o bom desempenho de Martinelli e, principalmente, o azeitamento que vimos quando jogaram juntos John Arias, Luiz Henrique, Nathan, Willian Bigode e Cano, no segundo tempo contra o Madureira. É algo para pensar em investir.

O clássico contra os bastardos pode não definir o resto do ano, mas nos dará uma prévia do que poderemos pensar em alcançar com Abel no comando. Ele precisa se redimir de suas últimas palavras e ações, fazendo o óbvio, que é utilizar o Ganso em algum momento e parar com a insistência em jogadores que a torcida não aguenta mais ver em campo, como Wellington. O tempo está acabando. Faltam pouco mais de duas semanas para a estreia na Colômbia. Já passou da hora de Abel achar a equipe titular, ou talvez seja melhor pedir as contas e se aposentar. O Fluminense não pode ficar refém de ideias, jogadores e técnicos obsoletos, sob pena de suas conquistas, também, ficarem apenas no passado.

Curtas:

– Meu time para esse domingo (e provavelmente para quinta) seria: Fábio, Calegari, Nino, David Braz e Marlon; André, Martinelli, Nathan e John Arias; Luiz Henrique e Cano.

– Deu pra perceber que os três zagueiros não funcionam inicialmente e precisam de mais tempo. Não colocaria esse esquema num clássico em que precisamos vencer para ganhar moral e também mais pontos, já que fizemos o favor de perder pro Bangu na primeira rodada.

– Fábio não é o meu titular ainda, mas é meio óbvio que o Audax não é nenhum teste. Jogar um clássico seria um grande teste para ele, do tipo que precisamos para saber se realmente podemos confiar nele. Se conseguir fechar o gol contra o Flamengo (e depois contra o Botafogo), ganha moral na disputa pela titularidade e estimula Marcos Felipe a melhorar cada vez mais também.

– Palpites para as próximas partidas: Flamengo 0 x 1 Fluminense, Fluminense 2 x 1 Botafogo.

1 Comments

  1. Assino embaixo, inclusive na escalação.
    Esse papo envolvendo técnico é sempre complicado porque quando começa errado a chance do erro se perpetuar durante boa parte do ano é grande, porque se perde a pré temporada. Muda-se o técnico mas aí vem a falta de tempo pra treinar e se ele for estrangeiro então, complica mais, porque nem o elenco ele conhece. Mas é isso, vamos torcer pra ele acertar enquanto o entrosamento vem e a pré Libertadores chega.

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