Xô, virada de mesa! (por Paulo-Roberto Andel)

FB_IMG_1453634509121

O VENTO

Futebol é assim: o vento que venta lá nem sempre venta cá. Semana passada o Lucas Gomes fez um golaço: arrancou antes da linha divisória do gramado, deixou três para trás e encobriu o goleiro com uma elegância de Assis. Foi o destaque da rodada, cercado pelos jornalistas. Só faltou ser escalado nesse timezinho mequetrefe do Dunga – o único do mundo onde Thiago Silva não é titular.

Quem? Lucas Gomes? Aquele que quase matava a torcida do Fluminense do coração com suas jogadas exóticas, a ponto de trazer para si os versos de Caetano: “com sua burrice/ fará jorrar sangue demais”. O próprio.

Às vezes futebol é isso: o sujeito não acerta nada num clube grande mas voa num modesto. Um craque voa em seu time mas passa em branco na Seleção. E um grande craque pode jogar mais com a camisa da Amarelinha do que qualquer outra. Não que o Gomes fosse resolver a vida do Fluminense, mas, se a conjuntura tivesse sido outra, talvez até tivesse dado bem certo.

Todo mundo um dia já pensou em ceifar algum jogador do gramado e até da vida terrena. Eu mesmo já pensei em arrancar o permanente à força do nosso David Luiz chamado Henrique, ou passar-lhe a máquina zero. Só o Fluminense conseguiria ter dois trastes homônimos no time em dois anos consecutivos. Mas não é que melhorou contra a Chapecoense? Futebol é isso: vamos queimando e esfriando nossas línguas de sogra. Milton do Ó, os dois “Perigores” e o Odvan foram bem piores. Basta procurar.

Sobre o jogo, segundo seguido em que o Flu poderia ter vencido, esse e contra o Atlético. Não se pode desperdiçar oportunidades neste campeonato caudaloso e cheio de detalhes – são estes que diferenciam um candidato ao título, à vaga na Libertadores, ao meio de tabela e aos sofrimentos. Convém não vacilar. Uma semana de treino e outra pedreira, o Grêmio. Esse tempo que não dá tréguas, não para e nos conduz a todo instante para o caminho inevitável da morte – que, todos esperamos, esteja longe pacas de todos nós. Aleluia, irmãos!

Não que o Flu tivesse brilhado no Independência e na Arena Condá, mas num campeonato como este, sem favoritos e equilibrado da cabeça aos pés, bem podia estar no G4 com folga por ora. Não deu, vamos continuar trabalhando. Finalizações principalmente.

Falando em Arena Condá: bonitinha, simpática, uma caixinha. O que tem nela que Laranjeiras não podia ter durante todos esses anos de nomadismo? Todo mundo tem estádio.

FRED

Anos atrás, escrevi por aqui que seu talento lhe permitiria jogar mais recuado, municiando a frente, fazendo o papel de pivô e até chegando para concluir. Aos poucos, é o que tem feito. O problema é que, ao alimentar o ataque com belos passes, Fred não encontra outro Fred para concluir. Continuamos torcendo, pois.

ESCURINHO

O artilheiro tricolor precisa da tua visita na casa de repouso. Aos 85 anos de idade, merece todas as loas em vida. Está no Méier – ou seria Lins?

Atenção, torcida: Escurinho merece muito!

SAUDAÇÕES, CAIO!

Mantendo sua tradição de excelência literária, o PANORAMA trouxe um belo reforço para o seu elenco de colaboradores: Caio Lima, que dirige o blog de literatura Rede de Intrigas, agora senta praça na nossa cavalaria, tendo estreado no sábado passado. Que sinta-se em casa.

O PANORAMA é um dos blogs de futebol com o maior número de escritores publicados no Brasil, um fato que muito nos honra. Má notícia para um ou outro analflubeto ou flubabaca de ocasião, mas é do jogo: quem constrói com amizade e respeito tem mais o que escrever. Muito mais, aliás: aguardem as novas.

VIRADA DE MESA, JAMAIS!

Suposto ou não, o movimento que visa reduzir o tempo de associação ao clube para uma eventual candidatura à presidência, constituindo-se numa virada de mesa eleitoral que possa favorecer o nome de Pedro Antonio nas eleições Fluminense 2016, nasce sem um gene fundamental: o da vergonha na cara. E como vergonha na cara é uma das minhas três qualidades, na condição de torcedor tricolor, sócio do clube, eleitor e, na modestíssima parte que me cabe, pertencente ao rol de escritores que publicaram livros sobre o clube, venho rechaçar e reprovar com veemência qualquer tentativa de oportunismo eleitoral disfarçado de ato legal.

Num clube que, há duas décadas, é regularmente achincalhado pela pecha da virada de mesa, um procedimento como esse é um verdadeiro lesa-pátria tricolor. Abominável em todos os sentidos. É tudo que o Fluminense não precisa: casuísmo barato. Nenhuma postura dentro da legalidade há de trazer legitimidade a um vício eleitoral realizado poucos meses antes do pleito.

Pedro Antonio, um senhor candidato, tem todo o direito de concorrer às eleições do Fluminense, desde que seja em 2019, como prevê o estatuto. Há quem diga que o melhor para o Flu é o mais importante e eu penso da mesma forma: ética, dignidade e respeito às normas são bens inalienáveis das Laranjeiras, ainda que alguns de seus próceres não demonstrem tanto apreço assim a tais qualidades. O melhor para o Fluminense é honrar suas tradições de ética e vanguarda, de respeito às regras, de esportividade.

No mais, Pedro Antonio pode ajudar muito o Fluminense, no que é sempre bem vindo – e não depende da cadeira da presidência para isso. Quem me dera que os grandes homens calçassem as sandálias da humildade e, com o Flu acima de tudo, fosse consagrada uma candidatura única, para que chegássemos a 2019 com muito mais força do que agora.

Humildade, senhores e senhoras: foi com ela que temos atravessado 114 anos.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

2 Comments

Comments are closed.