Xerém (por Marcelo Vivone)

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Sempre fui um dos maiores entusiastas sobre o trabalho que é feito em Xerém. Nosso centro de formação de jogadores teve alguns bons momentos e o trabalho foi meio que descontinuado durante parte das 2 gestões Horcades, tendo reencontrado o caminho correto a partir da chegada de Peter à presidência do clube.

A partir da 1ª administração de Peter Siemsen, o que estava abandonado e apodrecendo na parte estrutural do nosso celeiro de jogadores foi recuperado, com o investimento de alguns milhões. Foi fundamental também a mudança na visão da gestão de Xerém. Encarou-se novamente Xerém como o maior bem que o clube tem e foram colocados profissionais competentes à frente do nosso centro de treinamento.

Há ainda muito que melhorar, mas hoje o torcedor Tricolor tem de novo a esperança de que sejam revelados jogadores com nível para serem titulares nos profissionais do clube.

Talvez o desvio de rumo do projeto original, projeto esse concebido ainda no final da década de 90, que ocorreu nos longos 6 anos da gestão Horcades sirvam em parte para explicar o que considero o fraco retorno que Xerém tem dado ao clube, principalmente nos últimos anos.

Em um passado um pouco mais distante revelamos alguns jogadores que tiveram bom destaque no cenário nacional, casos de Arouca e Diego Souza. Surgiram mais à frente jogadores que se destacaram muito nos profissionais do clube e que foram rapidamente vendidos, por problemas financeiros, para países com futebol de 2º e 3º nível da Europa, casos de Maicon Bolt e Welligton Nem. Pode-se citar também o Alan, que teve menos destaque do que os 2 anteriores, mas também foi vendido e, hoje, é entre os 3 o que tem maior sucesso no velho continente.

O maior destaque da era Xerém é o lateral Marcelo. Nosso ainda promissor jogador também foi rapidamente vendido, em 2006, mas, no seu caso, para um dos maiores clubes da história do futebol mundial e faz sucesso até hoje. Marcelo além de destaque no futebol europeu é titular absoluto da seleção brasileira (Thiago Silva seria outro grande destaque de Xerém, mas foi dispensado ainda nas categorias de base e só mais tarde voltou ao Fluminense, já como profissional).

Mas considero que o projeto Xerém, pela sua envergadura, tem sido pouco proveitoso para o clube. É fato que esses jogadores acima citados, caso tivessem a oportunidade de defender o Pavilhão Tricolor por mais tempo, teriam nos dado muito mais títulos e alegrias e, provavelmente, teriam sido vendidos por um valor mais alto posteriormente. Mas esse é um problema posterior à análise do cenário de Xerém.

A questão é que o rendimento de Xerém ainda está aquém de todo o seu potencial. Basta ver o nível dos jogadores que hoje compõem o elenco profissional. Nenhum deles parece ter capacidade de se tornar titular. E mais, à exceção de Nem, todos os jogadores formados mais recentemente têm sido sucessivamente emprestados para clubes menores, sem fazer sucesso nem mesmo nessas agremiações.

Por todos os resultados que a garotada tem tido há pelo menos 10 anos defendendo nossas categorias de base, o Fluminense é hoje pelo menos um dos 3 melhores clubes formadores de jogadores. Mas o que isso realmente nos rendeu, além de inúmeros títulos até os juniores (que a modernidade nos impõe que chamemos de sub-20)?

Dois aspectos que considero de sucesso na formação dos nossos jogadores são a formação de meninos com espírito vencedor e costume tático com que são criados em Xerém.

Em relação a formar jogadores com perfil vencedor, pelos inúmeros títulos que os meninos têm conseguido há mais de 10 anos nas categorias de base, acho que Xerém tem cumprido bem o seu papel. Além da óbvia função de formar cidadãos e de prepará-los para o caso de insucesso no futebol (o que é o caso da maioria absoluta dos meninos que começam no mirim, ou o “sub-algumacoisa” de hoje em dia), sou da opinião que Xerém deve formar jogadores acostumados a conquistas, com alma vencedora. Esses meninos devem ser preparados para saberem lidar com os insucessos, as derrotas, que certamente virão, mas devem ser forjados com pensamento vencedor.

Outro aspecto que considero de sucesso, é que vejo nossos garotos jogando um futebol alegre nas categorias de base. Nossos times de base fazem muito poucas faltas, jogam para a frente e, sem exceção, todos treinadores jogam na formação de 4-4-2 e suas variações.

Mas falta um algo mais. Não sei exatamente o quê, mas creio que seja referente ao comando e à orientação da garotada. Vi com muita tristeza a reação do menino de 15 anos que entrou na semifinal do sub-17 contra o Grêmio. Em seu primeiro toque na bola, deu um corte rápido para o meio, soltou um “tiro” de fora da área e marcou um golaço. Gol de empate aos 30 e tantos minutos do 2º tempo, resultado que nos levaria à final. E o que fez o menino? Repetiu o gesto de ninguém menos que o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, dizendo: “Calma, eu tô aqui”.

Outro exemplo infeliz como esse foi dado pelo garoto Marco JR, já nos profissionais, quando em seu 1º ano de profissional entrou em campo dizendo que ele resolvia (o que lhe rendeu o apelido pejorativo entre os seus próprios companheiros de profissão de “Resolvo”). Já esse ano, o também menino Robert, que tem apenas 17 anos, sofreu um grave acidente por estar fazendo besteira na Região dos Lagos em um carro com a sua galera.

Pelos exemplos acima citados, por certa indolência que por vezes percebo mesmo no bom rendimento dos meninos, pela postura que vejo em alguns dos meninos que chegam às categorias profissionais do clube, parece-me que falta um algo mais na formação desses jogadores. Estrutura, depois de todas as reformas, não falta, muito ao contrário. Mesmo considerando o trabalho que é feito em Xerém de bom ou muito bom nível, de fora, a percepção que tenho é que falta um algo mais na formação desses meninos para que cheguem aos profissionais com condições de serem titulares e fundamentais para a história do clube.

Em todos esses anos, termos apenas o Marcelo como uma revelação que se tornou um jogador de primeira linha no futebol mundial, talvez seja um sintoma de que algum ajuste precise ser feito na formação dos nossos jogadores. Minha opinião é de que Xerém tem potencial para melhorar muito como fornecedor de matéria-prima para os profissionais.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MVivone

Imagem: http://fluminense.com.br

2 Comments

  1. Fato. Tbem tenho o mesmo sentimento. Seria bom ouvir o pessoal de xerem.

    1. Marcelo Vivone:

      Roberto,

      Seria realmente interessante poder conhecer de perto o trabalho que é feito lá.

      Um abraço.

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