Whatsapp Flu (por João Leonardo Medeiros)

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Em minha última coluna, escrevi sobre as diversas formas de expressar o amor ao tricolor e propus que deixássemos o tricolômetro de lado e acolhêssemos todas elas. Parece que eu estava antevendo a experiência fantástica que tive ao conhecer a turma animadíssima do Whatsapp-Flu no último sábado. O encontro fortuito deu-se no meu Maracanã para jogos fora de casa, o Bar do Meio em Niterói, que estava abrigando a reunião festiva do movimento. Aproveito para, mais uma vez, agradecer aos grandes Daniel e Zé, os verdadeiros donos (embora não proprietários) do recinto.

De cara, percebi algo diferente no bar. Embora esteja sempre recheado de tricolores nos jogos do time, dentro ou fora de casa, havia uma galera uniformizada com uma camisa verde belíssima, percussão, bandeirão e muita cantoria. No meio do pessoal desconhecido, encontrei a figura familiar de Lucas, um frequentador assíduo e sempre entusiasmado do botequim-Maracanã. Lucas estava uniformizado com o uniforme verde do grupo e logo me apresentou alguns dos organizadores do movimento.

Falei principalmente com o simpático Rafael Chianelli, que me contou uma série de histórias sobre o grupo que hoje reúne 86 tricolores da melhor cepa, a maior parte deles sócio contribuinte ou sócio torcedor do clube. Pelo menos duas das histórias, faço questão de compartilhar com os leitores do Panorama.

A primeira é do episódio de fundação do grupo. Originalmente, o pessoal que veio a fundar o Whatsapp-Flu se comunicava por redes sociais diversas, sempre trocando ideias sobre o Fluminense. Já havia alguns encontros de carne e osso, inclusive para assistir jogos, no estádio ou não, mas ainda faltava o ímpeto de criar algo como um movimento em redes sociais (e delas para fora, para o mundo real, digamos assim).

Foi então que, num jogo noturno pelo modorrento Rubão 2013, Rafael e outros tantos colegas (Antonio, Heraldo, Arthur, Marcelo, Jorge, Frederico, Mario, Maria Cristina, Francesco e Vicenzo) saíram em socorro de um casal de italianos de Nápoles, perdidos no entorno do Maracanã minutos antes do jogo. A ajuda ao casal rendeu dois italianos tricolores fanáticos e bateu o Eureca para a fundação do grupo. Os malucos adotaram a tarantela (com um grito de Nense ao final, claro) como hino do movimento e passaram a organizar-se para uma série de atividades relacionadas ao tricolor (ou não, já que fazem também campanhas beneficentes). Uma das primeiras atividades foi uma caravana para apoiar o Flusão no confronto contra a Itália, onde fizeram o maior sucesso com o hino-espaguete.

Ouvi ainda uma história fantástica do tricolor-brasileiro-uruguaio Hector, um senhor distinto, com brilho de criança nos olhos. Perguntei a ele como se deu a conversão ao evangelho tricolor e recebi uma resposta que explica tudo: “Eu não virei tricolor, eu nasci tricolor, só demorei a perceber”. E percebeu num jogo na década de 1970, contra o Olaria, tão logo viu o time entrar em campo e a festa da torcida. O coração acelerou e mostrou o caminho da paixão. Para quem pensa que foi caso de primeira ida ao Maracanã, Hector explica que antes havia visto jogos diversos de outros times, sendo o primeiro deles o da estreia da curta e efêmera passagem de Garrincha (já bem debilitado pela bebida, recordo-me da biografia) pelo Flamengo. O coração não disparou com a massa rubro-negra, tão exaltada pela imprensa, mas veio à boca com o nosso pó de arroz.

Gostaria de poder citar aqui um a um todos os integrantes do Whatsapp-Flu. Mas o que importa mesmo é não apenas divulgar o grupo, mas registrar mais uma modalidade de manifestação do sentimento tricolor. Nossa torcida é realmente uma entidade extraordinária. Ela se apresenta no movimento criativo e animado da turma da Whatsapp-Flu com a mesma beleza e vigor que se apresenta no coração do senhor Juran. O senhor Juran apareceu na capa do exótico jornal O São Gonçalo trajando tricolor da cabeça aos pés num pequenino cômodo totalmente decorado pelas nossas cores. E daí? E daí que se trata de um sujeito que foi vítima de trabalho escravo, conseguiu a tardia liberdade, passou a viver num abrigo (o Cristo Redentor, em São Gonçalo) e carregou o tempo todo o amor pelo nosso Flusão. Vejam a figura dele na reportagem:

http://www.osaogoncalo.com.br/cidades/final-feliz-de-uma-historia-triste/

Tenho lido muito que o amor tricolor se mede pelo consumo, desde pacotes de tv a cabo até programas de sócio-torcedor. O amor do senhor Juran nunca vai expressar-se dessa forma, por carência material. O sentimento que mobilizou a turma do Whatsapp-Flu também não se materializou na compra de coisas. Pergunto eu singelamente: quem ousaria desdenhar da beleza desse sentimento?

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Uma breve nota sobre os últimos jogos: Enderson parece aquelas crianças que ganham um presente caro, sofisticado, bom para caramba, mas não sabem como funcionam e acabam estragando no primeiro uso. O time tinha padrão até receber dois jogadores reconhecidamente muito bons, um deles craque: Ronaldo e Cícero. Não é possível que piore com os dois em campo. A hora de mostrar serviço é agora: se nosso treinador quer deixar de ser uma eterna promessa ao lado do campo, é bom provar que consegue fazer um time com medalhões funcionar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: jlm

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1 Comments

  1. E muito gratificante ver pessoas assim torcendo pelo nosso time , pessoas de boa indole e bom coracao!!

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