Um caminho sem volta (por Felipe Fleury)

A primeira lembrança que eu tenho da Flusócio é a de uma faixa solitária, estendida nas antigas cadeiras inferiores do Maracanã. Era um movimento ainda incipiente, que se articulava para romper o establishment que vigorava à época, e que, congregando grupos políticos que desejavam resgatar as tradições Tricolores, aproximando o clube de seu torcedor, sobretudo através de uma governança democrática, acabou chegando ao poder através de maioria no Conselho Deliberativo e, da presidência, na pessoa de Peter Siemsen.

Não duvido, no princípio, das melhores intenções da Flusócio, mas o poder lhe fez extremamente mal. Alguns de seus membros, os melhores, abandonaram o grupo e deixaram de apoiar a sua gestão logo que, embriagados de vaidade e ambição, seus quadros passaram a se sentir à vontade para agir segundo seus próprios interesses, à revelia do interesse maior do clube. Outros, contudo, estes últimos, mesmo após um segundo mandato catastrófico do ex-presidente Peter Siemsen, cultuaram a perpetuação do poder escolhendo seu filhote, Pedro Abad, para sucedê-lo.

O sócio, inclusive o torcedor, é soberano e escolheu seu presidente, mantendo o grupo político no comando do clube.

Ocorre que tudo tem limites. A sanha de poder da Flusócio não pode se sobrepor aos interesses da Instituição. Aquele grupo que, inicialmente, desejava um Fluminense moderno, democrático, vencedor, não existe mais. O que sobrou foi um grupelho ávido por se manter a todo custo no poder, independentemente dos malfeitos que a sua gestão tem causado ao clube.

Peter iniciou, e Abad tem sido muito competente nesse processo autofágico de destruição da Instituição. Não apenas a financeira, a bancarrota imposta ao Fluminense, mas, sobretudo a perda da identidade de clube vencedor, o afastamento de seu torcedor, o processo inexorável de redução de sua torcida, especialmente em relação aos mais jovens, que já não têm mais motivos para torcer por um clube sem ídolos e títulos, culminando com o abandono de sua histórica sede social.

Diante desse quadro desolador, o time definha em campo, apresentando-se pifiamente, demonstrando toda a sua insatisfação com a gestão, que não paga seus salários em dia. Ainda assim, o presidente e sua claque fazem ouvidos moucos aos anseios do torcedor, escondem-se como ratos e mantêm-se firmes no desejo de permanecerem como os donos do poder no Fluminense, aniquilando-o financeiramente, desfazendo-se de seus melhores ativos por preços e condições vis e maculando a sua história com elencos indignos.

Nas mãos da Flusócio, o processo de destruição do Fluminense é um caminho sem volta. Talvez essa seja a maior prova de desamor dessa gestão, cujo propósito é blindar-se das acusações e manter-se no poder indefinidamente e independentemente do mal que esse projeto de ambição e vaidade tem causado ao clube.

Quando Abad e a Flusócio forem definitivamente defenestrados, e isso acontecerá mais cedo ou mais tarde, oxalá haja ainda, na Rua Álvaro Chaves, 41, um clube de futebol chamado Fluminense Football Club, que possa ser entregue nas mãos de verdadeiros Tricolores.

Panorama Tricolor

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