Vitória tricolor com a assinatura do craque (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, que noite de sábado agradabilíssima! Nem precisava do resto do final de semana. Bastavam-me aquelas duas horas de deleite.

Não que o Fluminense tenha feito uma grande partida. Muito pelo contrário, tivemos que escalar a Cordilheira dos Andes para vencer um adversário que jogou com um homem a menos durante cerca de 60 minutos.

O deleite ficou por conta da atuação do craque.

Muitas vezes acabamos nos esquecendo de que Marcos Paulo é um jogador muito acima da média. Que trata a bola, como nos bons tempos, à moda Ademir da Guia. Tudo para ele parece muito simples, enquanto o efeito plástico de suas intervenções no jogo é de deixar a plateia de queixo caído.

Aquela metida de bola para o Michel Araujo no primeiro tempo é para interromper o jogo para que o mundo aplauda de pé durante 1 minuto. É a essência do futebol brasileiro, muitas vezes esquecida, abandonada e pisoteada por professores e pernas de pau de toda sorte.

Pena que Araujo, diante do goleiro, matou a bola na canela, e isso deve ser perdoado ao uruguaio, que teve papel preponderante no primeiro gol tricolor. Que começou em momento de clarividência de Wellington Silva, que cortou para dentro e achou Michel num espaço altamente sedutor para uma arrancada em direção à área.

Ficaram dois jogadores do Athletico pelo caminho antes do tiro para a defesa parcial de Santos, que já pegara um pênalti e se candidatava a nome da noite. Só que a bola encontrou Marcos Paulo, que deu um tapa na bola para dentro, tirando Santos da jogada e encontrando Nenê, que se redimiu após o pênalti perdido, com todo mérito para o goleiro athleticano.

O Athletico vencia, até então, com belo gol marcado no início da partida, depois de ter desperdiçado ótimo contragolpe. Antes, ainda, Marcos Paulo já se esticara todo para fuzilar Santos, que fizera a primeira grande defesa, vencendo o primeiro round do duelo contra o craque tricolor. Michel Araujo, que recuperou sua intensidade no jogo de ontem, ainda tentou finalizar junto à trave, mas foi bloqueado pelo zagueiro.

Aliás, não entendi a substituição de Michel Araújo no intervalo, embora até tenha entendido a entrada de Felippe Cardoso, não pela peça, em si, mas por uma questão de ajustar o time taticamente, tirando Marcos Paulo da incômoda posição de falso nove, deslocado para a linha de três formada com Nenê e Ganso, que entrou no lugar de Wellington Silva.

Mais um acerto tático de Odair, que colocou qualidade no setor de criação, mantendo os dois volantes e liberando os laterais para dar amplitude às linhas ofensivas, oferecendo ao time a opção de fazer triangulações pelos lados. Apenas teria mantido Araújo e tirado Nenê, de forma a ter um time mais intenso ofensivamente.

Não que Nenê tenha comprometido. Tirando o pênalti, teve atuação discreta, mas correta e objetiva. Melhor vai Nenê no jogo quando menos é notado em campo, quando coloca objetividade em suas decisões.

Em que pese, porém, a ideia plenamente justificável de Odair, o Fluminense não foi melhor no segundo do que no primeiro tempo. Talvez exatamente pelo fato de Odair ter tirado Michel Araujo da equipe. A dificuldade de construir jogadas contra a retranca athleticana era tão grande que temi pelo pior.

Só que o Fluminense desse ano não tem esse “pior”, que é dominar o adversário e ser surpreendido no final com um golzinho maroto. Odair não desguarneceu o setor ofensivo em momento algum do jogo, mesmo que o Athlético tenha se limitado, durante 90 minutos, a dois ataques, ambos nos primeiros dez minutos de jogo. E talvez tenha sido por isso mesmo: pelo zelo, às vezes excessivo, do Fluminense com a defesa.

Eis, porém, que, diziam os antigos, uma partida de futebol nada mais é que um palco para os craques se exibirem. O jogo de ontem veio para confirmar essa máxima. Quando tudo parecida muito difícil, Marcos Paulo simplificou. Em menos de cinco minutos, fez duas jogadas mágicas e definiu a partida, deixando Santos, o opositor que queria roubar para si os louros, caído e derrotado na inglória grama da pequena área.

Chegamos, enfim, aos 39 pontos, numa possivelmente provisória quarta posição, com o grande desafio de encontrarmos um camisa nove que preencha a ideia de jogo de Odair, que talvez esteja debaixo de nossas barbas. Volto a insistir em que é preciso ousar, testar Matheus Pato e Samuel na posição.

O 4-2-3-1, com Marcos Paulo, Michel e Nenê, Ganso ou Miguel na linha de três, com um centroavante matador, pode deixar o Fluminense poderosíssimo nessa reta final de campeonato.

Mais ainda o será quando tivermos de volta Yago, fazendo dupla de volante com Martinelli. Sim, Martinelli, que pegou a oportunidade, colocou no bolso e dificilmente perderá a vaga nos próximos mil anos. O que não chega a ser nenhuma surpresa.

Calegari voltou a ser o Calegari dos primeiros dias, jogando com uma intensidade invejável.

Fazendo uma analogia, vencemos o mesmo Athlético no primeiro turno num momento em que duvidávamos do Fluminense. Na ocasião, andávamos lá pelo meio da tabela, se não me engano, vindo de uma derrota injusta para o Bragantino. Hoje, estamos, no mínimo, no G-6.

Eu não posso dizer aqui que estamos a caminho de um final apoteótico, porque continuo não acreditando que o Fluminense esteja imbuído desse propósito. Posso, no entanto, reafirmar o que venho dizendo ao longo da competição: nós podemos. E estão aí os números para não me deixar mentir, mesmo com as escolhas erradas e muitas vezes injustificáveis do nosso treinador, que insiste em Wellington Silva e Hudson, por exemplo. Que promove o retorno de Egídio ao time quando Julião fizera boa exibição na lateral esquerda diante do Bragantino.

Próxima parada: São Januário. Como num filme repetido, desfralda-se a possibilidade de mais um passeio tricolor em cima dos vices. Não porque eles estejam tão mal como no primeiro turno, mas porque nós podemos ser muito melhores do que fomos naquele episódio.

De resto, preparo-me, às 15:50h, para secar o São Paulo, de Diniz, e o Atlético MG, de Sampaoli, tarefa para quem tem nervos de aço. Vai que o tempo vira e nosso treinador resolve brigar pelo penta, escalando o que tem de melhor.

Com a incrível capacidade que esse cara tem, levando o Fluminense ao G-4 com escolhas duvidosas, imaginem só o que ele será capaz de fazer com as escolhas certas e um pouquinho mais de ousadia.

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Odair, meu caro, humildade também é bom. Em que pese a maledicência congênita de alguns, a torcida do Fluminense vibra, sofre, vai ao céu e ao inferno por causa desse clube.

Quando as pessoas criticam algo, estejam certas ou erradas, estão exercendo o sagrado direito à opinião.

Não há nada mais bizarro e autoritário do que atribuir opiniões negativas, e até coléricas, a preferência por outros clubes ou torcer contra o Fluminense.

Todos queremos o melhor para o Fluminense, até mesmo quando fazemos as piores escolhas ou tecemos críticas infundadas.

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Dizer que deu oportunidade ao Miguel, colocando o moleque em campo aos 43 minutos do segundo tempo é escarnecer da nossa inteligência.

Você sabe, Odair, tanto quanto todos nós, que se colocar o Miguel para iniciar uma partida, atuando em sua posição, e não como centroavante, como você andou fazendo, ele prova que não faz sentido algum ter um craque no elenco e mantê-lo no banco.

3 Comments

  1. Savioli, concordo, concordo, exceto com a questão de que o torcedor busca o bem do clube, pois quando visito aquelas bandas do NetFlu nitidamente o cara está querendo ganhar $$ em cima de polêmicas vazias. Capaz de até hoje estarem falando, em caps lock, de uma suposta rachadinha, e bla bla bla, pois isso gera cliques, e os cliques dão dindin pro bolso dele. O Fluminense, naquele site, está longe de ser prioridade. Todos os dias uma nova matéria com o título “jóia da base vai sair de graça” ai tu busca informação e o cara é reserva do sub-17, ou alguma matéria tendenciosa sobre o Fred,…

  2. O jogo foi longe de ter sido fácil. Como bem escrito, foi escalar uma montanha, pois esbarrou em um goleiro inspirado que foi até onde deu, vencido apenas pela genialidade de Marcos Paulo.
    Marcos Paulo aliás, que o Panorama cobrava há tempos na voz de Jorge Corpas jogasse na posição original, e não como centro-avante.
    Fluminense agora tem de manter a fase e vencer o fraco Vasco. Missão difícil, pois p cruzmaltino vira em desespero, e clássico, é clássico, mesmo que muitos digam ao contrário.

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