Uma modesta proposta (por João Leonardo Medeiros)

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No ano de 1729, o escritor irlandês Jonathan Swift lançou seu mais famoso panfleto satírico, conhecido pelo título Uma modesta proposta. Nesse panfleto, Swift, consagrado pelo clássico As viagens de Gulliver, fazia troça das propostas da ascendente burguesia britânica para administrar a dramática situação da população irlandesa ao propor uma “solução” radical: que se disseminasse, entre as classes abastadas da Grã-Bretanha, o hábito de saciar a fome em banquetes nos quais seria servida como iguaria a carne das famintas crianças irlandesas. Com isso, segue a jocosa proposta, a fome da Irlanda seria reduzida pela redução das bocas a serem alimentadas.

É evidente que Swift não propunha verdadeiramente a matança das crianças como forma resolutiva da miséria. Sua “modesta proposta” apenas pretendia chamar a atenção da gravidade da situação, de um lado, e revelar o caráter inócuo das “soluções” apontadas pela burguesia para o problema (mais ou menos filantropia), de outro. Por isso, o panfleto era e é satírico.

Modestamente inspirando-me em Swift, pensei na formulação de uma proposta para o Fluminense neste final de ano de 2015. Tenho visto (e sofrido muitíssimo com) o time numa pior desde 2013 e, a cada trimestre (no mínimo), fazendo sua torcida passar por uma grande humilhação. Tenho acompanhado também as propostas mais absurdas para resolução do problema, desde a retomada do contrato de patrocínio espúrio que tínhamos no passado recentíssimo até a perpetuação ad infinitum de administradores para o futebol que entendem tanto do riscado quanto eu entendo de física quântica.

Diante deste cenário pavoroso, proponho eu: que o Fluminense comece a escalar, já a partir de amanhã, na partida contra o Palmeiras pela Copa do Brasil, o time sub-20 inteirinho, até que finalmente cheguemos a uma posição menos ridícula no campeonato brasileiro. Pois é essa a nossa posição: ri-dí-cu-la.

Vamos aos dados. Dos 13 jogos do returno até agora, perdemos nada menos do que 10. Temos a pior campanha do returno e, hoje, na reta final do campeonato, vemos atrás de nós os seguintes times: Chapecoense, Figueirense, Avaí, Coritiba, Goiás, Joinville e Vasco. Tire o Vasco, que enfrenta a maior crise de sua história, e o que resta dessa lista? Em termos de matemática futebolística, sobra um paradoxo: se somarmos os outros cinco e elevarmos a zero, não dá um.

Meus amigos, no futebol brasileiro de hoje, vale quem vai bem no Brasileiro e quem disputa regularmente Libertadores, com condição de ganhar. Copa do Brasil tem atualmente o papel de servir de porta para time pequeno ter alguma projeção ou para ajudar na recuperação de time grande em crise. A gente não pode se conformar com isso. Se a Copa do Brasil está ameaçando nosso rebaixamento, que se dane a Copa do Brasil. E ela está ameaçando, porque o elenco já demonstrou não ter capacidade (a palavra foi escolhida criteriosamente – capacidade) de disputar as duas competições simultaneamente. Todo o debate atual gira em torno de poupar ou não para a Copa do Brasil. Estou propondo abertamente que poupemos para o Brasileiro, para dizer com todas as letras.

Não postulo, argumento: a Copa do Brasil dura até o dia 25 de novembro. Depois disso, são apenas duas rodadas no Brasileiro. Pegamos, nestas duas, Inter em casa e Figueirense fora. Não são partidas moleza. Se o time passa para a final da Copa do Brasil e repete o desempenho absurdo deste período em que acumulamos duas competições, a coisa pode ficar feia, principalmente se perdemos a final, o que, convenhamos, não seria uma impossibilidade, mesmo se tratando do grandioso Fluminense. Já está claro que não podemos confiar na boa (ou má) vontade do elenco. Ele não tem capacidade – para repetir a palavra – de disputar as duas competições.

Mas voltemos à minha modesta proposta, que pretendo generalizar. Proponho, na mesma linha de Swift, que o Fluminense escale o sub-20 em todas as competições que disputar, enquanto não demonstrarmos condições concretas de montar uma equipe profissional capaz de disputar o Brasileiro sem sustos, habilitando-se a disputar e vencer o Brasileiro, a Libertadores e, adicionalmente, o que mais aparecer. Até lá, que se danem o Estadual, a Copa do Brasil, a Sul-Minas-Rio, a Florida Cup, os amistosos caça-níquel etc.

Agora, alguém pode dizer, o problema não é a quantidade de jogos, mas a qualidade do time. Neste caso, proponho uma inversão: que se escale o sub-20 nos jogos mais importantes e os “profissionais” nos outros. Ou que se escale o sub-20 em ambos e mande os “profissionais” embora. A proposta é ousada, mas modesta, se é que me entendem. Seu intuito singelo: chocar e chamar a atenção para a gravidade da situação.

PS. Já na minha última coluna, muitos tricolores se ressentiram do ufanismo necessário às vésperas da decisão. Sou sincero: estou em clima de velório com a campanha do Brasileiro. Deixo o ufanismo para depois de 46 pontos. E prometo caprichar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: google

capa o fluminense que eu vivi lado b são paulo e brasilia

LANÇAMENTO O ESPIRITO DA COPA RJ

1 Comments

  1. Pra falar a verdade…..melhor apostar em Xerém do que nesses pernas de pau de empresários……Lucas Gomes é melhor que Biro Biro ou o Denilson ou M Jr????

    E por ai a fora……apostar em 1 ou outro para compor elenco,ok…….mas apostar em 15 para tirar 1 e distribuir os moleques de Xerém por ai, para esquentar banco…..não é razoável.

    ST

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