Um minuto na Pinheiro Machado (por Paulo-Roberto Andel)

Nesta quinta, comemos a valer no Caravelle, eu, Gomez, Raul e Luiz. Pizzas maravilhosas. Antes, eu estava com Edgard, Mônica e sua amiga no show espetacular de Virgínia Rodrigues, uma das maiores cantoras do mundo, se apresentando na Biblioteca Parque.

Quando fechamos a conta, fomos para o metrô. Eu e Luiz fomos para a Siqueira Campos, Gomez e Raul para o outro lado. Descemos, passamos pelo maravilhoso Shopping dos Antiquários, Luiz foi pra casa e fiquei esperando o Uber exatamente no lugar onde, há 45 anos, eu jogava botão com meus amigos no Estrelão.

Chegou o carro, condução do Anderson, destino Cruz Vermelha via túnel Santa Bárbara. O caminho de glórias. Logo estávamos na Praia de Botafogo, subindo o viaduto. A seguir, o Fluminense.

Quando o carro parou no sinal de trânsito da Pinheiro Machado, minha reação foi a mesma de 40 anos atrás: olhar para o Fluminense. Seu muro grená – hoje tricolor -, espiar o escudo na parede da arquibancada, acima do corredor do estacionamento, o ponto de ônibus vazio, o silêncio de paz que normalmente cobria o estádio – exceto nos jogos, claro.

Olhar para o Fluminense e lembrar de quando eu era um garotinho no ônibus 435, louco por todos os jogos, a caminho do Maracanã, passando pelo Santa Bárbara e depois pela eterna ferragem das arquibancadas do sambódromo, liquidadas por Brizola. Quantas vezes passando naquele caminho à noite para me encontrar com a geral quase deserta? E quando meu pai me levava a treinos ou aos jogos de juvenis nos domingos pela manhã? – e quando voltávamos para casa, almoçávamos e ele dizia para irmos ao jogo no Maracanã, acontecia o domingo perfeito.

Não há como não pensar em meus pais, meu irmão, meus amigos de outrora, nem nos tempos da adolescência e de faculdade. Ver o Fluminense é algo familiar para mim desde criança.

É um percurso de ônibus ou carro que fiz regularmente entre 1978 e 1993, quinze anos portanto. Nos tempos de UERJ, passava ali quase toda noite, às vezes duas vezes por dia. Colocando por baixo de 1978 a 1988 uma vez por semana no mínimo, foram cerca de quinhentas contemplações. Depois, na faculdade, 1988 a 1993, passando pelo menos três vezes por semana, mais umas setecentas vezes. Então, agora os percursos ocasionais, foi namorar o estádio das Laranjeiras umas 1.200 vezes. Se já é desconcertante rever o grande amor, imagine com tantas repetições.

Não houve um único dia da minha vida em que, diante do muro da Pinheiro Machado, eu não pensasse no Fluminense. Jogos, jogadores, triunfos, dissabores, celebrações, a vida. A vida é assim.

O sinal está verde. Anderson, o motorista gente boa, acelera. Ainda olho para trás na esquina de Álvaro Chaves e muitos sonhos se misturam em minha cabeça. É que ali está uma boa parte da minha vida, talvez a melhor, lembrando que só de olhar o campo tricolor eu já me sentia em uma permanente arquibancada de êxtases.

Muitas vezes recordei grandes gols e títulos do Fluminense, mas agora há um sabor especial: finalmente, o campeão de tudo ali está em berço esplêndido no silêncio de paz que abriga um campeão da América.

2 Comments

  1. Todas as vezes que passo pelo Fluminense na Rua Pinheiro Machado é sempre uma experiência quase que religiosa, metafísica. São tantas lembranças de momentos ali nos jogos ou em visita ao clube, com meu pai no inicio depois já sozinho… É simplesmente impossível passar por ali e não sentir uma emoção qualquer maravilhosa e inexplicável..

  2. As melhores lembranças de minha infância tbm estão aí…. onde aprendi o quanto.meu amado pai era meu ídolo.e de tantas outras crianças.. onde aprendi a nadar, onde joguei voleibol… onde ainda hoje, mesmo de.longe, consigo sentir o cheiro de amor pelo clube pelo.manto, pela história do futebol tricolor e de meu amado.e saudoso pai.

Comments are closed.