Um grande e esquecido Clássico dos Gigantes (por Alexandre Berwanger)

O confronto entre Fluminense e Vasco foi o último entre o tricolor e um de seus 3 maiores rivais a receber nome próprio. Esta escolha se deu após consulta popular feita, apurada e divulgada pelo jornal esportivo LANCE em 17 de Maio de 2006, após uma semana de participação e votação de torcedores destas duas equipes no site deste diário, tendo como resultado final a escolha do nome O Clássico dos Gigantes. Cabe ressaltar que Clássico dos Gigantes foi o nome votado pelas torcidas de Fluminense e Vasco no site do LANCE, mas os flamenguistas da redação colocaram o resultado final da enquete como Clássico de Gigantes, uma sutil diferença para reafirmar que existiriam outros gigantes, mas não foi esse o nome escolhido pelas duas torcidas.

O primeiro Clássico dos Gigantes ocorreu em 11 de Março de 1923 com o Vasco, que havia sagrado-se campeão da segunda divisão do Campeonato Carioca no ano anterior, derrotando o Fluminense por 3 a 2 em amistoso disputado no estádio do São Cristóvão, na rua Figueira de Melo. Para o Fluminense marcou por duas vezes o inglês Welfare,enquanto para o Vasco marcaram Negrito (2) e Torterolli. O primeiro jogo oficial aconteceu em 20 de Maio deste mesmo ano em Laranjeiras, com o Vasco derrotando o Fluminense novamente, desta vez por 1 a 0, gol de Arlindo.

Esta superioridade inicial do Vasco se explica, pois em plena época do amadorismo, quando este era uma das regras do jogo, os antecessores de Eurico Miranda pagavam seus jogadores para treinarem em tempo integral, o que lhes dava uma grande vantagem nas partidas contra os jogadores dos outros clubes. Nada mais natural do que os mais espertos de então serem excluídos de uma Liga que não aceitava tal comportamento, embora estes prefiram insinuar que se tratava de racismo contra o seu time de pobres e pessoas não-brancas, diferentes dos jogadores de todos os outros clubes daquela época, que tinham suas ocupações, pois o profissionalismo era proibido.

Sobre esta história do “racismo”, cabe acrescentar que ao contrário do que muitos divulgam incorretamente, o primeiro clube a aceitar negros e mestiços em seus quadros não foi o Vasco e sim o Bangu Atlético Clube, isto ainda no ano de 1905, quando o Vasco ainda nem havia aparecido nos campos de futebol. Merecidamente o Bangu foi agraciado com a Medalha Tiradentes em 2001, pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, por ser o clube pioneiro na luta contra o racismo, neste caso específico sem haver outros interesses por trás de sua ação e sim um ato de extrema grandeza de seus quadros, aliás, em 1910 o Fluminense já tinha negros em sua equipe de aspirantes e em 1913 o primeiro negro chegaria a equipe principal, Carlos Alberto.

Em 1925 o Vasco voltaria a Liga, mas com uma comissão de sindicância para vigiar os seus treinos; seu time já não apresentava o rendimento anterior, como era de se esperar. O Flamengo foi o campeão, o Fluminense campeão carioca de 1924 foi vice e o Vasco ficou com o terceiro lugar. No primeiro jogo por este campeonato, o Vasco venceu novamente o Fluminense por 2 a 1, mas no returno tomou uma significativa goleada por 5 a 1, no quinto jogo da história entre os dois clubes, a primeira vitória tricolor. Marcaram para o Fluminense, Nilo e Coelho II por duas vezes cada um e Moura Costa, com Russinho descontando para o Vasco, com cerca de 30.000 torcedores presentes ao Estádio de Laranjeiras, segundo o jornal “O Globo”.

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No dia 21 de setembro de 1952, uma multidão compareceu ao Maracanã para assistir o confronto entre o Campeão Sul Americano de 1948 contra o campeão da Copa Rio de 1952, na segunda edição do primeiro campeonato intercontinental de futebol disputado no mundo, que serviria de inspiração para outros campeonatos de clubes entre nações que viriam depois.

123.059 pessoas seriam registradas pelas roletas, mas uma multidão ficou de fora, pois a administração do Maracanã não mandou confeccionar ingressos suficientes para a grande demanda, segundo se divulgou na época.

Vasco, apelidado de “Expresso da Vitória”, que seria campeão carioca neste ano, encontrou no Fluminense um adversário imbatível neste campeonato –  campeão carioca de 1951. No Primeiro Turno, vitória por 1 a 0 e no Segundo Turno, mesmo com um jogador a menos após estar perdendo por 2 a 0, o Tricolor empatou e por pouco não venceu a partida, desta vez perante 87.019 torcedores presentes.

Na vitória por 1 a 0, o árbitro foi Mário Gonçalves Vianna, que mais tarde seria por muitos anos comentarista de arbitragem da Rádio Globo, declarando-se nesta época, torcedor do São Cristóvão.

Durante a semana que antecedeu ao grande confronto, Castilho e Ademir Menezes se encontraram na rua e o primeiro alegou que talvez nem jogasse, em função de fortes dores no ombro esquerdo.

Com a bola rolando, zero a zero e Mário Vianna assinala pênalti para o Vasco. Ademir pede para bater e chuta forte no lado esquerdo com a certeza que faria o gol e Castilho se estica todo defendendo o pênalti que poderia ter dado outro ruma a partida e aumentando a dor que sentia, sem abandonar a meta do clube ao qual deu tantas provas de amor.

Este foi um dos seis pênaltis que o já consagrado Castilho defenderia em 1952.

Depois, Didi daria um passe magistral para Marinho que faria o gol da grande vitória do Flu aos 42 minutos do segundo tempo, mas o maior goleiro da História Tricolor é que se consagraria como o grande nome deste enorme Clássico dos Gigantes.

Fluminense 1 x 0 Vasco

Motivo: Campeonato Carioca

Local: Estádio do Maracanã

Data: 21/09/1952

Árbitro: Mário Vianna

Renda: Cr$ 1.703.864,90

Público: 123.059 (109.612 pagantes)

Gol: Marinho, 42’/2ºT

FFC: Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair Santana, Édson e Bigode; Robson, Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Téc.: Zezé Moreira.

CRVG: Barbosa; Augusto e Haroldo; Ely, Danilo e Jorge; Edmur, Ademir, Maneca, Ipojucan e Chico.

Técnico: Gentil Cardoso.

 

Alexandre Berwanger

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: marabaonline.com.br

Contato: Vitor Franklin

À venda, o novo livro de Paulo-Roberto Andel: http://www.7letras.com.br/duas-vezes-no-ceu-os-campeoes-do-rio-e-do-brasil.html

4 Comments

  1. Comentário do grande tricolor Jayme Poggi:

    O curioso aí , são os dois pontas. Robson e Edmur. Nenhum dos dois jogava aí.
    Robson veio dos juvenis e era meia armador. Estava deslocado substituindo Telê.

    E Edmur era constantemente usado por lá. Tinha vindo de São Paulo , da

    Portuguesa de Desportes e era centro avante de ofício. Mas como barrar

    Ademir? Devo ter visto este jogo. Já tinha 13 anos e com meu irmão , que tinha

    21 , éramos fanáticos por futebol e especialmente pelo Fluminense.

  2. Grande Marcus Caldeira.

    Uma mentira repetida muitas vezes………

  3. Até que enfim alguém corrobora com a minha tese de que os negros aceitos pelo Vasco eram para levar vantagem atlética sobre os demais pois sendo funcionários dos portugas podiam treinar em tempo integral.

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