Tupi 0 x 3 Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

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HI-FI

PERTO das nove e meia, liguei o aparelho de som e a vitrola digital tocava um disco de Coleman Hawkins, “Hank in hi-fi”. Jazz da antiga, 1956, não de avant garde que tanto admiro, mas Mr. Hawkins é nome certo em qualquer lista dos dez mais do gênero, com sua orquestra encorpada e metais às vísceras. Era o jazz para aliviar a alma antes do jogo contra o Tupi, importante para as pretensões do Fluminense no ano, depois de duas boas vitórias ainda que sobre modestos adversários – Horizonte e Figueirense. Não encarei a estrada por mais de um motivo importante. Restam a frieza da televisão, o silêncio da casa, o discreto feriado de outono que tirou todos da rua, até mesmo os sofridos necessitados.

JUIZ de Fora é uma casa tricolor com certeza. A mais carioca das cidades mineiras tomada pelas três cores nas ruas e nas arquibancadas em dia de São Jorge. Os maníacos com toda a força do mundo, esperançosos de uma volta por cima desde o ano passado, que sirva de sincera bofetada na moral dos estelionatários da informação jornalística.

Laranja em cores vivas, veio o Fluminense a campo. De novidade, o garoto Wellington Carvalho em lugar do suspenso Elivélton. Diguinho também fora, Valencia em campo.

No começo, era natural ver o Tupi com ímpeto na frente e, perdendo a bola, formando o ferrolho. A Copa do Brasil exige inteligência no exercício da disputa. Ora em lances de Conca, ora inversões buscando Fred e Wagner. Cruzamentos. Mesmo em média velocidade, o Flu de Cristóvão é diferente.

Com calma Fred fez o primeiro, depois da tabela com Sobis, em diagonal sem chance para o goleiro Gonçalves. Pleno controle da partida, posse de bola, outro gol do atacante na sobra de finalização de Sobis. Descida tranquila para o intervalo de jogo com 2 x 0 e a classificação antecipada a caminho, além do oitavo lugar na galeria dos artilheiros do clube. CONCA e Sobis, feras de sempre. Jean e Valencia bem. Se Bruno parasse de brigar com a Física e a Geometria no ataque, seria melhor ainda. Futebol é mais fácil do que parece: quando o coletivo funciona, as iniciativas individuais emergem. Menos microfones, menos besteiras faladas, mais aplicação no que realmente interessa: o campo.

O segundo tempo com alguma chuva, o time mantendo a disposição, o Tupi tentando um gol de ressurreição. Núbio Flávio bem que tentou, mas convenhamos: o nome pesa. Aos 10, grande chance que Fred desperdiçou com toque leve; em seguida, um chutaço de Jean e outro de Carlinhos. Depois uma bomba de Sobis. E Conca. Artilharia pesada. Sinais de um Fluminense longe da acomodação de outrora.

Nos quinze minutos finais, Valter substituiu Fred e marcou um golaço de cabeça, depois do cruzamento de Bruno – UFA! Finalmente em armistício com as ciências exatas. Pra não arriscar, Cristóvão tirou o lateral e colocou Wellington Silva. Depois Sobis saiu e foi ovacionado, entrando Rafinha. Com 3 x 0, o jogo de volta foi extinto. Ainda deu tempo de um jogadaço de Wagner Conca merecia ter visto o chutaço na trave se transformar em gol.

Nos microfones, a engraçadíssima tentativa da Globo em reduzir a vitória do Fluminense exclusivamente à boa atuação de Fred, tratado como “patrimônio nosso” (leia-se “deles”) – não para elogiar (mereciadamente) o jogador, mas sim para diminuir o triunfo do time. Se estivesse realmente preocupada com os torcedores, não imporia uma transmissão até meia-noite. Por essas e outras, a emissora oficial da ditadura perde cada vez mais espaço.

Irresistível pensar na cara de bunda-mole-e-dor-de-barriga de Mauro Cezar comentando (mal) o jogo. Ou de Renato Maurício irritado, escutando Erasure, Communards ou George Michael para tentar relaxar. Prefiro Hawkins. O Fluminense, todavia, foi avant garde. Depois de três boas vitórias contra adversários modestos, o Tricolor vai à Pauliceia encarar o Palmeiras – e aí finalmente mostrar o que podemos esperar – e queremos ver – mais à frente.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: Luiz Baldanza

3 Comments

  1. Meu caro, eu estava lá. Sou juizforano, não podia perder a oportunidade. Havia 9918 presentes… Sabe por que? Porque foram colocados à venda 9600 ingressos. Se tivessem colocado 15.000, teríamos 16.000 presentes (embora a PM não permita). E a galera do Flu foi responsável por, num chute, 70% dos presentes. 10% eram torcedores apaixonados do Tupi e os outros 20% eram ‘neutros’. Mesmo assim, entre os ‘neutros’ via-se algumas camisas laranja… O Flu jogou em casa!

    *** Antispam disabled…

  2. Fala Andel,

    Pelo Menos O Tal Do Mauro Cezar Em Nenhum Momento Tocou No Assunto Lusagate.

    Não Sei Se Por Determinação Da Espn Internacional Ou Por Pressão Da Torcida, Mas O Fato É Que Agora Ele É Um Dos Que Estão Recolhidos Em Sua Insignificância Em Relação Ao Flu.

    Pensam 48 Vezes Antes De Falar Qualquer Coisa Sobre O Fluminense.

    Até Para Elogiar A Medida Da Diretoria Dos Ingressos Baratos, Utilizam Um Vocabulário Bem Rebuscado E Cuidadoso, Comportamento Típico De Quem Está Devendo…

  3. Parabéns Andel, mais um excelente resumo do jogo.

    Quanto ao Fred, na verdade, ele se isolou na nona posição entre os maiores artilheiros do Flu, tem 121, contra 124 de Washington que está em oitavo.

    Sobre o rmp, acho que ele tentou relaxar de outra forma…

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