Todos os clubes têm torcedores imortais… só o Fluminense tem Nelson Rodrigues! (por Marcus Vinicius Caldeira)

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“Eu já fiz um apelo aos tricolores, vivos ou mortos. Ninguém pode faltar ao Maracanã domingo. Incluí os fantasmas na convocação, e explico: a morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos.”

Nelson Rodrigues

No dia 23 de agosto de 1912, portanto há exatos cem anos, nascia em Recife, Nelson Falcão Rodrigues.

Ou, simplesmente, Nelson Rodrigues, o maior tricolor de todos tempos.

Maior até que Oscar Cox, o fundador do Tricolor da Laranjeiras.

O gênio que ajudou a imortalizar o fenômeno Fluminense Football Club em suas crônicas, opiniões e frases de efeito.

Nelson Rodrigues foi excepcional em tudo que fez. Foi jornalista, escritor, dramaturgo, mas antes disso tudo um apaixonado torcedor do Fluminense, “profissão” que exerceu com toda intensidade e amor. Certamente, se vivo fosse, daria uns bons “catiripapos” na atual torcida do Tricolor. Mas deixa isso pra lá…

“Pode-se identificar um Tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se distingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora”.

Como cronista esportivo escreveu textos antológicos sobre o seu clube de coração. Em suas crônicas esportivas e principalmente nas crônicas referentes ao Fluminense, ele pouco se importava com escalação dos times, táticas, lances do jogo ou coisa do gênero. Sobre estes assuntos ele deixava para os “idiotas da objetividade”. O que ele pretendia com suas crônicas era levar o futebol e o Fluminense para os locais mais longíquos e profícuos da imaginação humana, criando um ambiente de extremo delirio e gozo para os seus leitores. E o fez com maestria!

Nelas, criou personagens memoráveis. O Gravatinha era um deles. Este personagem era o protetor do Fluminense, morreu em 1958 vítima de uma gripe espanhola e ainda vai ao estádio usando terno e gravata borboleta.  Sua aparição é prenúncio de uma uma vitória épica do Fluminense. Com certeza esteve presente em vários jogos na Libertadores de 2008, na arrancada de 2009 e na campanha o título de 2010.

O Sobrenatural de Almeida, ao contrário do Gravatinha, quando aparece no estádio é prenúncio de catástrofe. Sobrenatural é pobre, rancoroso, mora numa cabeça de porco do subúrbio carioca e interfere no jogo sempre de forma a prejudicar o Fluminense. Estava presente nos jogos de ida da final da Libertadores de 2008 e da final da Sul-Americana de 2009. Só a presença dele explica aquelas derrotas catastróficas!

“Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode – e nem se deseja – fugir”.

Outro personagem das crônicas esportivas de Nelson era o Ceguinho Torcedor que ia ao jogo de bengala pois era cego, mas discutia cada lance do jogo. Era capaz de enxergar um penâlti que nem um homem munido de um telescópio teria visto. Aliás, segundo relatos, Nelson não enxergava muito bem no estádio e precisava da ajuda de sua eterna companheira para acompanhar os jogos, Dona Elza, que narrava os lances para ele. Espetacular!

Tinha outros personagens como o Profeta que aparecia para prenunciar um título do Tricolor! Aliás, Nelson foi chamado de Profeta Tricolor.

Um personagem dele está mais vivo que nunca: a Mala do Paulo Cesar. Este personagem era uma crítica à imprensa que naquela época já vivia mais preocupada com os altíssimos salários dos jogadores, do que traziam na mala na volta das viagens, do que propriamente com o que faziam em campo. Em tempos atuais, tenebrosos da imprensa brasileira a Mala do Paulo Cesar mais do que nunca está encarnada em “Marluccis Martins” da vida, “Renatos Mauricio Prados”,  e tantos outros horrorosos da imprensa esportiva brasileira. Triste!

Nelson foi certamente um formador de legiões de torcedores do Fluminense. Muitos ao se decidirem por torcer para o Fluminense o fizeram porque queriam torcer pro mesmo time do gênio. Não há dúvidas disso!

“Sou um suburbano. Acho que a vida é mais profunda depois da praça Saenz Peña. O único lugar onde ainda há o suicídio por amor, onde ainda se morre e se mata por amor, é na Zona Norte”

Cronista ácido dos costumes da sociedade carioca do início do século XX, Nelson escreveu grandiosas obras, a maioria delas pra teatro, que são clássicos da dramaturgia brasileira. Algumas delas inclusive viraram novelas de televisão. Mas, o que isso importa! o que importa que ele era tricolor!

“A Grande Guerra seria apenas a paisagem, apenas o fundo das nossas botinadas. Enquanto morria um mundo e começava outro, eu só via o Fluminense”.

Quando eu ainda era um adolescente, ganhei do meu pai vascaíno o sensacional livro “Fla-Flu… E as multidões despertaram”, que na verdade é uma coletânea de crônicas de Nelson Rodrigues e seu irmão Mario Filho sobre Flu e Fla e sobre Fla-Flu e ali, tomei gosto maior ainda por ele. Antológico!

“Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”.

Infelizmente, o “Profeta Tricolor” ou o “Anjo Pornográfico” nos deixou numa manhã de domingo de 1980, poucos dias depois da conquista do campeonato carioca daquele ano pelo nosso Fluminense em cima do Vasco. Sua última crônica sobre o Fluminense é sobre o jogo e a conquista. A crônica foi escrita junto com seu filho Nelsinho Rodrigues, uma vez que Nelson estava privado de se emocionar e já não conseguia teclar na máquina de escrever. Aliás, vale à pena procurar o video do relato de Nelsinho Rodrigues sobre esta crônica. Emocionante demais!

Para quem diz que a vida não é justa,  Nelson morreu feliz com o time que escolhera para torcer e que ajudara a imortalizar. Morreu campeão. A vida foi generosa com ele. Retribuiu todo o esplendor de sua obra com um presente maravilhoso pouco antes de sua partida: um campeonato do Fluminense.

Assim como não haverá outro Pelé. Não haverá outro tricolor igual a Nelson Rodrigues, nem nesta vida, em outra vida, nem neste planeta, nem no infinito. Nelson foi único e será único. O maior dentre todos!

Marucus Vinicius Caldeira

Panorama Tricolor/ FluNews

@mvinicaldeira

Contato: Vitor Franklin

3 Comments

  1. Glorificou o Fluminense da forma mais fantástica e exagerada possível. Se fossemos numerar cada tricolor que já existiu com os atuais pó de arroz, acertadamente a camisa 01 era dele.

      1. Na verdade, é 29 + 100 “Like” que foram perdidos em algum momento pelo maravilhoso Facebuqui…

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