Tapetón na Copa del Mundo (por Zeh Augusto Catalano)

maradona

Uma da tarde, 4a feira. Um calor infernal em Porto Alegre para Argentina x Nigéria. Para os Nigerianos, um empate serviria para classificá-los. Para os Argentinos, um treino de luxo. Classificada com seis pontos, ela não pode mais ser alcançada pela própria Nigéria, segunda colocada, com dois empates. Bósnia e Irã, que perderam para a Argentina e empataram com a Nigéria, mantêm as esperanças, pois acreditam na vitória dos hermanos.

Vinte minutos do segundo tempo. Bósnia e Irã seguem agredindo a bola num zero a zero medonho. A Argentina, que escalou oito reservas, vai vencendo com tranquilidade por dois a zero. Galvão Bueno critica a lentidão e desinteresse da Argentina. De repente, burburinho na saída do túnel Argentino. Galvão pergunta: Tino, quem é esse que está se aquecendo pra entrar na Argentina?

Uma voz hesitante responde:

– M Maradona! A Argentina vai colocar Maradona em campo!

Galvão emudece. O estádio explode e começa a berrar seu nome.

Depois de segundos de silêncio, Galvão pergunta:

– Pode isso, Arnaldo?!

– Galvão, isso é uma maluquice! A FIFA vai banir a Argentina por causa dessa palhaçada!

Maradona entra em campo e acaba de vez com a Nigéria. Exibe em 20 minutos todo aquele futebol maravilhoso que encantou o mundo. Faz um gol, coloca duas bolas na trave.

Galvão narra com indignação. Isso é uma palhaçada, Arnaldo! A Nigéria devia sair de campo. Isso é uma vergonha!

O jogo acaba. Todos os repórteres cercam Maradona:

– Foi a Presidenta Cristina que teve essa ideia, para me homenagear aqui no Brasil. Como o jogo não valia mais nada, entrei e provei por que sou o maior jogador de todos os tempos!

O zero a zero de Bósnia e Irã manteve a Nigéria na Copa. Mas a essa altura, ninguém queria saber de mais nada. Só se discutia isso. No blog de conhecido jornalista do Rio, meia hora depois do fim da partida, já se pedia Zico no time no segundo tempo do jogo seguinte, contra a campeã mundial Espanha, qualquer que fosse o resultado. A nação exigia.

Mas a armação argentina tinha sido perfeita. O Brasil tinha jogado já classificado dois dias antes. O amistoso brasileiro era passado.

À noite, no jornal nacional, Pelé apareceu aos prantos. Queria ter jogado. Se sentiu desprestigiado. Galvão e Arnaldo, ao vivo, garantiram que a Argentina perderia seis pontos, pois a regra era clara e deveria ser cumprida. Como é que um jogador não inscrito, sem condições de jogo, poderia entrar numa partida de Copa do Mundo? Se a Argentina não fosse punida, seria a desmoralização da Fifa.

Ninguém achou, naquela noite, Jerome Walcke, a mais alta patente da FIFA no Brasil. Descobriu-se, no dia seguinte, que, sabendo da escalação de Maradona, havia embarcado na mesma noite para Zurique, na Suíça. Lá não foi encontrado.  Joseph Blatter havia se afastado por estafa em Abril. Passou mal numa reunião com o Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo.

Com isso, a mais alta patente da FIFA no Brasil era Julio Grondona, coincidentemente Presidente da AFA. Ainda à noite, Grondona se disse emocionado com a ideia da homenagem, agradeceu à torcida brasileira pelo carinho com Maradona e disse que não haveria nenhuma punição à Argentina, “porque o jogo não valia nada”.

No dia seguinte, toda a imprensa brasileira só falava desse episódio, indignada.  As manchetes eram: “A Nação quer Zico” “Pelé chora e culpa Felipão” “Fraude na Copa: Maradona joga lama no torneio”.

O Olé estampava “Dios no és Brasileño” e contava que Caniggia também seria escalado, mas no último momento não o foi por medo da reação dos brasileiros.

A Argentina acabou perdendo os seis pontos. Mas ainda assim se classificou. Mas não sem polêmica. No último minuto do jogo, com o mundo já tendo visto Maradona em campo, um jogador Bósnio perdeu um pênalti, chutando a bola quase fora do estádio. Dias depois, o jornalista que pedia Zico na seleção acusou este jogador de ter recebido dinheiro para isolar o pênalti e com isso salvar a Argentina. Ninguém conseguiu provar. Vão se passar anos, mas a indignação com esse episódio vai ficar para sempre. Afinal, regras foram feitas para serem cumpridas.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Foto: http://imortaisdofutebol.com/

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