Estamos subestimando ou superestimando o time do Fluminense? (por Paulo-Roberto Andel)

Honestamente, pensei e pensei sobre o Flu, mais do que nesse empate diante do Coritiba, um time limitadíssimo.

Marcos Felipe não esteve bem. Ponto. Foi um desastre? Não. O primeiro gol era defensável? Talvez sim, talvez não. A bola quicou. Noutros jogos o jovem goleiro, superior tecnicamente a seus antecessores Agenor, Rodolfo e Muriel, errou e acertou. Acho que tem crédito.

Na partida do turno, o goleiro era o Muriel. Vencemos por 4 a 0, mas pouca gente se deu conta do quão enganoso foi aquele placar. Se tivesse sido 4 a 4, teria sido normal. E o Coritiba, tão fraco quanto agora, acertou duas bolas na trave e perdeu dez gols. O problema é que o imediatismo faz com que o placar final varra todas as deficiências para baixo do tapete, e a boa sequência de resultados a partir daquela goleada – resultados, não atuações – levou o Fluminense temporariamente ao G4, o que o torcedor médio do clube tem comemorado como um título. Sinais dos tempos.

Ao olharmos para o ponto em vez da reta, o problema é que sempre ficamos procurando trocados no bolso para pagar a compra. Sem juízo de valor ou comparação pessoal, mas um dia é o Marcos Felipe, noutro dia é o Danilo Barcelos, noutro é o Igor Julião, noutro é o Matheus Ferraz e, no fim, a teoria de culpa individual encobre o principal: a montagem deficiente do Fluminense para a temporada 2020/21. Não vou falar de testar o Egídio porque não quero me irritar.

Descontando-se a paralisação da pandemia, o que temos até aqui? Uma eliminação para o desconhecido Unión La Calera na Sul-americana, outra para o medíocre Atlético Goianiense na Copa do Brasil, uma figuração honrosa no Carioca – muitos comemoraram que o Flamengo nos venceu sem nos atropelar – e, por fim, neste Brasileiro, três partidas razoáveis em 31 jogos – empate com o Atlético Mineiro, vitória sobre o Athletico (com um homem a mais) e o empate contra o Vasco (cedido no fim com sabor de derrota). Nas outras 28 restantes não há uma única em que o Fluminense não tenha sido ruim ou péssimo em pelo menos metade do tempo.

Só que a pontuação e os resultados mascararam a péssima montagem do time – que, se dependesse da gestão, teria Matheus Ferraz, Egídio, Henrique, Ganso, Nenê e Fred juntos em campo, já que nenhum desses jogadores tinha status de opção ou reserva. Felizmente alguns jovens ocuparam espaço. Egídio e Henrique (este, com breve passagem) vieram da desastrosa campanha de rebaixamento do Cruzeiro em 2019. Fred também, mas pelo menos é ídolo e tem história no clube.

Num jogo, louva-se a luta do Caio Paulista. Noutro, a corrida do Felippe Cardoso. Ontem o Caio fez até um gol com a tremenda ajuda do veterano goleiro Wilson – que decidiu a Copa do Brasil de 2007 contra nós -, este sim um suculento frango. Nada pessoal contra os rapazes, mas quando chega o segundo tempo e se vê a entrada praticamente obrigatória da dupla, uma reflexão é inevitável: vou resolver meu problema de ataque com dois jogadores que, somados, não têm dez gols na carreira, ou vou botar dois caras para sufocar laterais? Pode ser útil para um jogo ou outro, mas não pode ser solução para um time do tamanho do Fluminense, que deveria disputar títulos em vez de se contentar com um oitavo ou sétimo lugares.

E não pode disputar o título?

Não.

Basta ver que, em 31 jogos, toda vez que o Fluminense esteve em situação de voltar para o G4, não conseguiu por sua própria incompetência, porque é um time sem a menor preparação tática. Porque não tem um treinador. Porque seu elenco pode ter até alguns bons nomes, mas o coletivo é sofrível. Não são três, cinco ou oito jogos, mas 31.

Gosto do Marcão. Gosto demais. Veio para o Flu na hora mais difícil. Fez grandes gols em finais. Foi um leão. Quando foi dispensado de forma escrota pelo Fluminense, no primeiro jogo em que nos enfrentou tinha na torcida uma faixa vermelha com seu nome. Eu a fiz. O problema é que, a cada dia que passa, fica mais evidente que ele ainda precisa se preparar muito para se tornar um treinador, e o time profissional do Fluminense não pode lhe servir de vaga de estágio.

Provavelmente teríamos mais pontos com Odair Hellmann e só. Nada além disso, exceto o acerto da defesa. O padrão Hellmann de atuações também era pavoroso, mas os resultados eram suficientes para uma perturbadora tranquilidade de parte da torcida.

É claro que ir à Libertadores é importante para o Fluminense, principalmente em termos de exposição e finanças. Hoje em dia, ser sexto ou sétimo ou oitavo no Brasileirão não dá moral a nenhum time na fase preliminar. Agora, sinceramente, ao contrário de 2008, 2011, 2012 e 2013, a se confirmar a classificação, ela é quase sinônimo de figuração se nada mudar para melhor. Ir por ir, para dizer que foi, sem a menor condição esportiva. Pior ainda é o risco de uma vergonha histórica em caso de eliminação preliminar.

Agora vem o Botafogo. Que ninguém se iluda: deitado em seu leito de morte, o Alvinegro é bem capaz de complicar as coisas. Primeiro porque é um clássico, segundo porque nós mesmos tropeçamos nas nossas próprias pernas.

Desculpem qualquer coisa, mas depois de 43 temporadas consecutivas acompanhando o Fluminense diariamente, não consigo me acostumar a sétimo ou oitavo lugar com atuações horripilantes, nem a ficar procurando desculpas e justificativas para suavizar um problema que é muito maior do que atuações individuais. Nem a pensar que todo mundo é ruim, então o meu time ruim também pode. Não, não me acostumei com um Fluminense ruim, arrotado como caviar pelo casuísmo das gestões do clube. Sou do tempo em que ficar em quinto no Brasileirão dava protestos, como em 1982, ou cair em semifinais também, casos de 1988 e 1991.

Tomara que eu esteja completamente errado e que, nos sete jogos restantes, o Fluminense arranque com vitórias convincentes. É bom demais errar quando se vê as coisas turvas. Mas se pegarmos apenas o returno, fizemos 15 pontos em 12 partidas, média de 1,25. Multiplique por 38, dá 47,5, 47 ou 48, você escolhe. Pontuação para não cair, nada além disso. Mas é bom que se diga: ao declarar em entrevista que o plano tricolor era de ficar entre os dez primeiros, até aqui Paulo Angioni está entregando exatamente o que prometeu. Se estamos subestimando ou superestimando o Fluminense, o tempo dirá em muito breve, mas o breve histórico aqui apresentado permite reflexões mais profundas.

Por fim, apenas um lembrete: série C, B, lutar para não cair, nada disso é a regra para a história do Fluminense mas sim a exceção, ao menos enquanto ainda temos o século XX por perto. E ninguém escreve de graça sobre o Fluminense para achincalhá-lo ou diminui-lo. Se muitos cronistas tricolores mostram insatisfação com as péssimas atuações da equipe, isso tem pouco ou nada a ver com questões políticas do clube, ao menos entre os escribas que não alugaram suas opiniões, que não devem ser confundidos com os pilantras já conhecidos. Ninguém é obrigado a sentir o fartum acre de sabão ordinário (Aluísio Azevedo em “O cortiço”) e dizer que se encanta com aquele aroma de lavanda.

1 Comments

  1. NEM TANTO AO MAR E NEM TANTO À TERRA. IDEAL COM TREINADOR MINIMAMENTE PROVIDO DE EXPERIÊNCIA E ALGUM TALENTO A VIVER O DIA A DIA E A APERCEBER – SE DOS ATRIBUTOS E IDIOSSINCRASIAS DE ATLETAS INDUBITÁVEIS, CUJO PRIMOR E MALABARISMO, POSICIONADOS A TORNAR ÓTIMO AQUILO BOM JÁ SEJA…ADMINISTRAR O FIM DOS ACORDOS DESPROPOSITADOS E OS VETERANOS JÁ SEM O FUROR NECESSÁRIO, MAS A NÃO ONERAR – NOS, ORÇAMENTO, QUE, PROCURA AMORTIZAR – SE EM DÉFICIT MONSTRO A DESAPARECER COM TEMPO PLANEJADO E NO USO SENSATO D’UMA PRODUÇÃO EM SÉRIE DE GERAÇÕES A MATURAREM NO TEMPO DA PRÓDIGA NATUREZA…

Comments are closed.