Sol e chuva no topo do mundo (por Bruno Langer)

Agora, 16h35 em Jeddah, Arábia Saudita. Mais de 30 graus no coco de cada um por lá, não muito diferente da cidade de São Sebastião. Diferença é que a previsão por aqui indica um céu de brigadeiro até o fim do dia, enquanto nas terras sauditas uma chuva crescente a partir de 21h mais ou menos. Quando forem as mesmas 16h35 no Rio de Janeiro a partida de hoje estará perto do fim – ou então já terminada.

A água que pode cair por Laranjeiras é a que satisfeita sorri. “Vamos fazer chover no deserto”, inspirando logo de manhã o editorial brilhante de Pedro Bial hoje mais cedo. Lembrando-nos que o verde da esperança sempre esteve lá onde a bola rola, onde os ídolos correm e onde o impossível acontece. Acrescento que o sangue do encarnado corre junto, nas veias e artérias pulsando de forma que poucos tricolores vivos hoje já sentiram pulsar, ainda na década de 1950. É um pulsar de êxtase, terceiro e último ato de um dos anos mais gloriosos da nossa história.

O resultado vem, mas não o resultadismo. Quando o professor Diniz diz “Vitória, Fluminense” ele já deixou claro que não é sobre o placar. A vitória já é inerente a essa equipe, e se hoje o Tricolor chegou onde chegou foi da forma que a teimosia do psicólogo-técnico, criticada incessantemente, nos ensinou.

Este 22 de dezembro de 2023 é dia de se reverenciar. Reverência à insistência na sua convicção, reverência ao resgate do futebol brasileiro. Com o amargo 1998 de quase, 2002 lembrou ao mundo do peso da camisa. Depois disso, são quatro derrotas em quartas de final e a maior vergonha da história da paixão nacional desde o Maracanaço. O que é esse resgate se não esperança? Lá está ela, tímida e imponente na clorofila da grama tal qual o infame campinho da Rua Guanabara esperava uma cidade de futebol. Em tempos que a Seleção Brasileira rasileira é ridicularizada internacionalmente o Manchester City de Guardiola enfrenta o futuro que resgata o passado, no presente. De Xerém, e esperança por um futuro mais alegre com o sangue do encarnado implora pela terceira cor.

Ela vem no branco do olho de cada Tricolor, aquele que ao final do dia estará tão alagado como minha rua em Niterói num dia de chuva forte. Hoje não chove do lado de cá nem de lá da ponte, chove em Jeddah. Chuva de bênção, água santificada por João de Deus sob a cabeça de cada um dos 11 em campo. Todos choram, hoje não à tristeza. Não haverá um singelo tricolor chorando de tristeza ao final do 22 de dezembro.

Respirem, tricolores, o ar úmido da nossa querida e defenestrada Rio de Janeiro em tempo de sorrir.

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