Sobre Conca (por Paulo-Roberto Andel)

A se confirmarem (mesmo) os movimentos das últimas horas, perderemos o futebol do argentino Darío Conca para sempre.

Sem dúvida, um desastre, menos pelos futuros resultados em si e mais pelo conjunto da obra: nestes anos, Conca incorporou a mistura perfeita para um herói do futebol, a que compõe talento e garra. Equiparou-se a gigantes como Romerito na frente e Edinho na defesa (os que derem chilique com meus elogios ao hoje comentarista turrão têm esse direito, mas provavelmente não o viram em campo).

Conca entrou para a história porque fez um pouco de tudo: venceu a luta contra dois rebaixamentos certos, levou o Flu à final da Libertadores, foi o grande comandante de 2010 e, na volta em 2014, injetou garra num time licoroso e descompromissado, jogando 37 das 38 partidas do último Brasileiro.

No momento em que o Fluminense tenta um recomeço de era, Conca é – ou era ou seria – o grande nome da reconstrução de um time mais jovem, com jogadores em busca de afirmação.

Acontece que o futebol é profissional. Joga-se por dinheiro, mesmo que em alguns casos o amor e o respeito à camisa sejam evidentes. Conca honrou cada milímetro das três cores em campo e fora dele, mesmo quando jogava na China, seu provável novo destino. Aqui escrevemos noutro dia que se trata de um patrimônio inquestionável e imprescindível. Mas lutar contra dezenas de milhões de dólares talvez fosse menos difícil se o Fluminense tivesse mais torcedores engajados como sócios, em vez de apenas simpatizantes. É só uma hipótese.

O maior tricolor de todos os tempos (agora desmascarado), Sr. Barros, quer o caixa arrumado. Conca dobrará sua fortuna. O Fluminense será recompensado pela perda brutal. É triste, mas se for inevitável, a vida segue.

Por favor, não deixemos que a emoção se transforme em rancor boquirroto: Fred e Wagner não saíram porque simplesmente não tiveram propostas econômicas melhores (ainda). E só.

Menos ainda a bobagem de tratar a fera argentina como um traidor, tolice que só cabe nas mentes menos evoluídas – ou midiaticamente oportunistas. Eu também sou pouco evoluído: leia-se calor dos acontecimentos.

O final da novela é preocupante e até assustador.

Só não é novo.

Imagino o que os mais velhos sentiram quando Castilho parou. A dor de perder Didi para o Botafogo. Telê foi embora de mansinho. Eu mesmo senti a barra quando Pintinho, Cláudio Adão e Edinho se despediram. Assis. Deley. Renato. Ézio. Dentro do gramado, nossos deuses têm prazo de validade. Ainda mais agora, com a força da grana que ergue e destrói coisas belas.

Depois de trinta e tantos anos de arquibancadas, não tenho dúvidas: Conca foi dos gigantes monumentais. Seu metro e pouco tornou-se a altura de um prédio. Ele foi um leão como Romerito ou Edinho (não confundam com o volante, é essencial).

Queria muito que não fosse. Se for, entenderei. Se for, dois mil obrigados por tudo. O Fluminense continuará rugindo como sempre.

A vida é isso: encontros e despedidas. Encontrar Conca foi bom demais.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: google

#SejasociodoFlu

10 Comments

  1. Caro Bloggueiro, não sei a que 02 rebaixamentos você se refere no texto, pois tanto em 2009 quanto em 2013 Conca não estava no Flu, ele chegou em 2010, e também não esteve no Fluminense no Vice campeonato da Libertadores em 2008.

      1. Em 2008 e 2009, Conca não jogava no Fluminense e o time não lutou dois anos seguidos contra o rebaixamento…

  2. O que esse argentino fez no Fluminense nunca se apagará. Épico, fantástico. O futebol de hoje é assim, é muita grana envolvida, muitos interesses por trás de uma decisão. Caso confirme a transferência, só posso dizer o seguinte:
    Obrigado Conca, você fez este tricolor muito feliz.

  3. “A vida é isso: encontros e despedidas. Encontrar Conca foi bom demais”

    Enquanto jogador do Fluminense, honrou cada milímetro da camisa que vestiu!

    Paulo-Roberto Andel, na boa, você conseguiu me arrancar lágrimas, num misto de orgulho, saudade, tristeza, emoção e certeza de que terei esse Argentino pra sempre, como ídolo do meu clube e do meu coração.

  4. vc é uma pessoa que escreve de uma forma única. identifica-se seu texto “a léguas”. se o conca fica ou não, não interessa. interessa o Flu. vão se os anéis, ficam-se os dedos. st

  5. c é uma pessoa que escreve de uma forma única. identifica-se seu texto “a léguas”. se o conca fica ou não, não interessa. interessa o Flu. vão se os anéis, ficam-se os dedos. st

  6. Andel, discordo de alguns pontos…
    O direito, de ir e vir, deve ser sempre respeitado, se ele quer ir, que vá.
    Mas não parece ser, só uma questão de salário, a saída de Conca. O que foi divulgado, o salário do Conca, a parte trabalhista e imagem que cabe ao Flu é maior do que a do Fred. Pelo que entendi, Fred ganha mais pela Unimed e, Conca mais pelo Flu. O clube tricolor ofereceu aumentar o salário, ele não quer? Fred fica, vai se adaptar e, é o Vilão? Algo podre nesse reino da Dinamarca-…

  7. Conca sai com o sentimento do dever cumprido. Honrou a camisa, a torcida e a história tricolor. Dedicação, espírito coletivo e garbo foram a sua marca nesses tempos de Fluminense. Lamenta-se a sua partida, mas não uma decisão pautada na prioridade que deve dar à sua família, ao seu futuro. Com cem mil sócios-torcedores, Conca encerraria a sua carreira aqui. É somente isso que se deve lamentar, a inoperância de uma torcida que reclama, mas não contribui. Um abraço e ST

Comments are closed.