Samba e Fluminense (por Marcus Vinícius Caldeira)

pandeiro by . O Rio de Janeiro viveu nos últimos dias uma ode ao rock n’ roll e à música pop com a quinta edição do Rock in Rio. A cidade foi inundada por turistas do Brasil inteiro e do mundo. Durante dez dias respiramos o festival. Eu, como um bom roqueiro que sou, fui aos dias dos shows do Metallica e do Iron Maiden, minhas bandas preferidas do estilo.

Mas sou um roqueiro sambista! Ou um sambista roqueiro! Sei lá! O que sei é que gosto de ambos os estilos musicais com a mesma intensidade e mesma paixão. Tanto que faço parte de um grupo de samba e agora irei aventurar-me com meus amigos do Panorama num projeto de uma banda de rock que pretendemos formar, apenas com musicas autorais.

Samba é muito bom. Um ritmo genuinamente carioca – embora digam que ele veio da Bahia – que tem tudo a ver com o nosso povo e nossa forma de vida. Assim como o carioca, o samba normalmente é alegre e extrovertido, embora saiba ser triste e melancólico quando é preciso ser. O samba é cheio de ginga e ritmo assim como os malandros cariocas. O samba não tem classe social. Toca tanto nos morros cariocas quanto nas “casas de madame”.

Parafraseando o grande sambista Wilson das Neves: “O samba é o dom do carioca”. Com todo respeito, o carioca que não gosta de samba não é um carioca legítimo. É um carioca paraguaio (risos).

E o samba com o Fluminense? Por ser um time que sempre foi considerado – erroneamente – um time das elites cariocas e o samba um ritmo legitimamente do povão, ficou-se a crença de que samba e Fluminense era uma mistura azeotrópica. Pra variar a miopia das pessoas não conseguem enxergar o óbvio. Fluminense – a gênese do futebol no Rio – e samba, ambos do início do século passado, nasceram e cresceram lado a lado, por várias vezes se dando as mãos.

Não à toa na história da música popular brasileira grandes sambistas eram e são tricolores.

O genial Cartola, um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, é a expressão máxima dessa simbiose Fluminense e samba. Criador de sambas e músicas antológicas como “As rosas não falam”, “O mundo é um moinho”, “Acontece” (a que mais gosto), entre tantas outras. Cartola, mesmo sem os estudos completos, escrevia o que muito doutor de universidade consagrada não conseguiria.

Muitos dizem que as cores da escola de coração de Cartola se deu por influência de sua paixão clubística, o que é desmentido lá na escola, onde informam que o verde e rosa nasceu das cores dos dois blocos que se fundiram e originaram a agremiação. Mas vai saber…

Cartola morreu no ano de 1980, assim como Nelson Rodrigues. Foi enterrado com a bandeira do Fluminense para que não restassem dúvidas sobre sua paixão clubística. Tricolorzaço que muito nos orgulha!

Wilson Moreira é outro sambista fenomenal e que ao mesmo tempo é torcedor do Fluminense. Faz parte de uma dupla de compositores que é considerada “Lennon & Mcartney” do samba: Wilson Moreira e Nei Lopes. Embora pareça nome de escritório de contabilidade, essa dupla já fez vários sambas antológicos. “Coisa da antiga” é o que mais gosto. Recuperado de um AVC, Wilson continua na ativa, compondo e nos encantando.

Outro sambista tricolor de alto valor é Noca da Portela. Este é mais ligado aos sambas de escolas de samba, embora tenha feito músicas antológicas. A torcida canta um samba dele nas arquibancadas e talvez nem saiba disso. O famoso canto “Abram alas que o meu Fluzão vai passar” é de autoria dele para a minha querida Portela no carnaval de 1995. Aliás, ano em que a Portela foi garfada e perdeu para Imperatriz.

Chico Buarque é outro tricolor que tem seu nome também ligado ao samba. Suas músicas não se restringem a samba. Mas é inegável que é um sambista nato. Ou “Vai passar” e “Apesar de você” não são sambas? Ele ainda foi enredo de samba campeão na avenida justamente pela Mangueira do tricolor Cartola!

Hoje tem um tricolor de arquibancada e compositor de mão cheia que ganhou as últimas três disputas de samba na Portela, em parceria com Wanderley Monteiro e outros. Estou falando do amigo – embora afastado – Luiz Carlos Máximo. Além de compositor de sambas de enredo, Máximo tem sambas de grande qualidade gravados. Os meus preferidos são “Conceição da praia” e “Obi beijada”, este em parceria com o Wilson Moreira.

Um sambista ligado à Portela e às raízes da escola é o, também tricolor, Marquinhos de Oswaldo Cruz. Criador do evento “Pagode do trem”, em comemoração ao dia do samba, e do recém-criado evento “Feira das Yabás”, que acontece todo segundo sábado do mês na estrada da Portela, onde podemos comer comidas típicas e curtir uma roda de samba de alta qualidade a custo zero.

Outros sambistas tricolores mais jovens, menos famosos, mas não por isso menos importantes estão por aí. De cara lembro o amigo Marcelo Bertollo, vencedor de samba na Unidos do Viradouro e sócio do clube. Nosso amigo Walace Cestari, que disputa samba na Vila esse ano, tamborinista de mão cheia da bateria da escola. O sensacional cavaquinhista do Galocantô, Pablo Amaral, tricolor de arquibancada. Alessandro Cardoso – pra mim o melhor cavaquinhista da nova geração – também é outro tricolor da nova geração de sambistas.

Caldeira by . O Grupo de Sambas de Enredo, do qual eu faço parte, é composto em sua maioria por tricolores. Não nos esqueçamos de que, em 2010, a Mangueira abriu a sua quadra para homenagear a conquista do título brasileiro. O tricolor que foi com a camisa do clube entrou de graça.

Enfim, samba e Fluminense têm tudo a ver. Ambos representam o espírito carioca de viver e de encarar a vida. Ambos são instituições do Rio de Janeiro. Ambos representam o que há de melhor na música e no futebol.

Ambos são coisas que amo muito!

Vida longa ao samba e ao Fluminense!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira 

Imagem: Art Flu

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DR DISCUTINDO RELAÇÕES by .

3 Comments

  1. Boa, Marcus Vinicius.
    Acrescento aí o Donga, autor do célebre “Pelo telefone”. Era tricolor de frequentar a sede, segundo me disse a professora Lygia Santos, filha dele.
    O mestre-sala Delegado, embora flamenguista, chegou a fazer teste no Fluminense, no final da década de 1930.
    Também torcem pelo Flu, a porta-bandeira Selminha Sorriso, o patrono da Beija-Flor Anísio Abraão David e o cavaquinhista Eduardo Gallotti.
    Abraços.

  2. Lembrando que no nosso centenário (2002) algumas escolas queriam dinheiro do clube para fazer uma homenagem, o que foi negado. A Portela também deu essa moral. Camisa do FLUZÃO não pagava entrada e ainda tinha um ‘cartola’ inflável gigante na porta da escola, o mesmo que ficava na antiga geral.
    Samba e fluminense. Gostei da coluna, parabéns.
    ST

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