Rubens Galaxe e o espírito do Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

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Quando os tempos voam longe, é natural que os adultos comecem a fazer longas travessias em busca dos tesouros da juventude. A mocidade, a infância. Sonho geral, revisão geral.

Para alguns poucos, geralmente pernósticos ou rasos, parece apenas saudosismo, argumento que não se sustenta depois de uma reflexão mais apurada.

Olhamos para o presente e só então o que já passou pode ser visto com maior clareza.

Tenho pensado muito num dos meus heróis da infância: Rubens Galaxe.

Pentacampeão carioca, quando tal título era o mais importante do futebol brasileiro. Atravessou os anos 1970 como titular do Fluminense, onde merecia ter encerrado a carreira.

Sexto jogador que mais vestiu a camisa do clube, jogou da lateral direita à ponta esquerda. Só não foi escalado como goleiro e centroavante. Nunca reclamava, só dava entrevistas elegantes, lutava o tempo inteiro e não usava da violência. Respeito ao Flu, sua torcida e seus dirigentes, que faziam jus ao atributo.

Quando se pensa em uma das mais vitoriosas décadas da história do Fluminense, lá está o Rubens em todos os elencos. Foram vários, um a cada ano. O meu preferido foi 1980: o time da mocidade independente, a garotada dos juvenis, o reforço do craque desacreditado Cláudio Adão – a imprensa já era bem ignorante naquele tempo. O jovem Gilberto com a camisa oito. A Rubens, coube dar o toque de serenidade e experiência ao time campeão, ao lado de Edinho – por favor, não confundam o comentarista com um dos maiores craques tricolores de todos os tempos!

Rubens Galaxe era grupo, humildade e dedicação. A cara do Fluminense. Um escudo de carne, osso e amor. Anulou e ajudou a anular em campo alguns dos melhores jogadores de seu tempo. E teve a chance de jogar ao lado de muitos deles na revolucionária Máquina do Doutor Horta.

Depois que parou de jogar, trabalhou no clube mas nunca recebeu dos dirigentes o prestígio que merecia – fato corriqueiro até hoje no futebol…

Penso naquelas partidas com cem mil pessoas num Maracanã que não existe mais. O estádio de gente solidária e amiga, diferente da quase ditadura atual: aplaudia-se e vaiava-se quem se quisesse e ai do fanfarrão que se metesse a latifundiário do pedaço. Times com seis ou sete craques – mesmo – em vez da esqualidez solitária. O Fluminense era mais humano, mais gente, sem almofadinhas boquirrotos e cavaleiros das ciências curtas e apagadas. Alguns são dignos de pena, risos também.

O Flu, amado Flu, era Rubens Galaxe demais porque um dia foi Denílson. E Castilho, Waldo, Telê, Pinheiro. Antes, foi Batatais, Rodrigues, Pedro Amorim. Lá atrás, foi Welfare e Barthô. O curso natural das coisas exige a longa estrada da História. Não se pode esquecer do Marcão, nem do Conca em 2010.

Na quarta-feira passada, a torcida tricolor ficou muito feliz. Apenas uns poucos porque já deliram com a patologia da Libertadores, outros porque Ronaldinho era o único grande vilão, outros mais porque descobriram que, com vontade, este time deveria estar em posição muito melhor no Brasileiro, mas cumpriu uma grande noite pela Copa do Brasil, rara neste 2015.

O meu barato foi outro: saber que, depois de tantos anos, ainda era possível ver o Fluminense em campo como nos tempos de Rubens Galaxe, pelo menos uma vez ou outra, conforme o sabor dos interesses. Jogos como esse contra o Grêmio eram fichinha naqueles anos 1970. Não dava para imaginar um time sem pegada, gás e vontade com o coringa Rubens em campo. Jamé!

Nem falei do Cláudio Adão: se tivesse jogado cinco anos na Era Unimed, Waldo teria ficado preocupado com seu recorde imbatível. Adão era um monstro. Mas isso só faz sentido para quem tem mais de quarenta anos, ou que tenha compreendido o que é o espírito do Fluminense – uns livrinhos caem bem para os incautos. Vida que segue.

Do resto, o camarada Fagner Torres me representa bem demais no blog da ESPN. Existe vida inteligente no jornalismo esportivo, basta pesquisar e prestigiar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: exulla

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS

6 Comments

  1. Paulo, os amigos de Rubens agradece o seu maravilhoso texto. E ele, por certo, elegante como sempre foi também agradece. Um fraternal abraço do Valterson.

  2. Bons tempos Paulo, e esta geraçāo fantastica de 80 que durou pouco serviu para preparar o caminho do melhor time de Futebol do Flu que vi Jogar, e um dos melhores de todos os tempos. A geração de 83-86, que só nao foi tetra pela trapalhada no caso da dengue..
    Muito mais que os times de 76-77, pois eram times completamente diferentes formados e desmanchados pelo louco Horta, foram a verdadeira máquina de jogar Futebol.
    Mas tudo começou em 80 com Edvaldo, Tadeu, Delei, Mário, Zezé, Robertinho,…

  3. recentemente encontrei-me com adão na casa de um amigo meu e lhe perguntei:afinal ,qual teu time do coração?ele todo sem graça me respondeu:todo mundo acha que eu sou flamengo,mas sempre torci pelo fluzão.abraços!!

  4. Paulo,
    Uso as arquibancadas do Maracanã desde 1969. Uma coisa que compreendi ao longo destes anos: O Fluminense tem vida própria. Faz parte de nosso DNA as vitórias épicas e a instabilidade extrema, indo do céu ao inferno em curtíssimo espaço de tempo.
    Rebaixamento houvesse, nossos times de 72, 74, 77 até 79, 82, 89 e 90 seriam candidatos a nos levar ao que se consumou na segunda metade da década de 90. Não me surpreende esta queda no brasileiro e a linda classificação na CB.
    E nosso…

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