Quando a Colina tremeu (por Paulo-Roberto Andel)

Hoje, hei de me ater a outros propósitos que não os da descrição natural de uma partida do nosso time. E tenho meus motivos. Todos já sabem do que aconteceu ontem em nossa vitória contra a Ponte Preta – um massacre! Não, não começou com jogadas de beleza plástica ou de fartos recursos – quando fale de um massacre, quero dizer de um time disposto a jogar e ser campeão contra outro que, ao ter conseguido um golaço no primeiro minuto da partida, dispôs-se às práticas ranhetas da “cera”, de parar o jogo desde o começo, da catimba que pouco ou nada tem a ver com a qualidade de um time.

O fato é que poderíamos ter feito dois, três, cinco gols, tamanhas as chances desperdiçadas pela nossa frente. Fred, quase infalível, por muito pouco não marcou no semi-voleio do primeiro tempo e na cobrança espetacular de falta no segundo, a milímetros do ângulo esquerdo do excelente Edson Bastos – que ontem defendeu até lufadas de ar. A Ponte fez seu belo golaço com Luan e muitos nem tinham visto o que acontecera. Mais uma vez, parece que o Fluminense é catalânico no sentido de buscar a dificuldade como um alimento de seu própria alma – nada para nós é fácil e, quando parece ser num dia, o revés é imediato. Contudo, o nosso time hoje tem uma capacidade de se desvencilhar das dificuldades como quem aperta o botão e liga o ventilador para se refrescar numa primavera quente.

Preciso falar dos nossos admiráveis maníacos. Fizeram uma festa com trajes de gala no velho estádio da Colina. O cinza e o preto das paredes e arquibancadas foi coberto pelas três cores da vitória. Um bandeirão dos nossos deslizou como nunca pelas mãos e cabeças dos nossos apaixonados torcedores. Posso jurar que, atrás do gol, num dos lugares onde estive, perto da Bravo, vi uma jovem senhora que, estivesse eu com mais dez ou doze drinques acima do tolerável, parecia a meus olhos Scarlet Johannsson – o que pode ter embevecido o olhar matreiro e favelost de Fausto Fawcett. A beleza das nossas mulheres presentes a campo, a beleza de todas as idades, enfrentando inclusive as dificuldades de se adentrar o velho e admirável São Januário.

Ontem, como raras vezes e por conta dos meus problemas de coluna, acabei mudando involuntariamente de lugar várias vezes durante a partida. A cada lugar novo, o cenário era um só: o Fluminense atacava, o Fluminense combatia, o Fluminense não deixava a Ponte respirar. Muito antes do terço final da partida já merecíamos ter aplicado uma sonora goleada. Não posso deixar de louvar a luta admirável de Edinho enquanto esteve nas quatro linhas, um leão. De Gum, não há o que dizer: quem carrega um guerreiro no nome dispensa apresentações. Sim, muito podem achar que não, mas sentimos a falta de Neves e Deco – quem não sentiria? E Carlinhos, reconhecidamente talentoso, titubeou em vários lances. Reparem que menciono aqui alguns nomes e mais outros, os de sempre – Cavalieri, Fred, Jean, Nem – mas quero ressaltar que o Fluminense destas rodadas há muito deixou de ser o brilho individual – é um time na essência, na raiz, um time que joga junto o tempo todo e é um onze desde a hora de acordar até o sono dos justos. A virada de ontem foi a de um time e de uma torcida como poucas vezes se viu neste campeonato. Fred podia ter feito dois, Digão outros dois – um de cabeça e outro com o pé.

Vi de tudo em São Januário. A lembrança de meu querido pai, Helio, quando lá estivemos há trinta anos para um jogo contra a Portuguesa da Ilha, 4 x 0 para nós. Quando Vinicius não parava de cutucar Marcus nas arquibancadas, alguma coisa me fez rever meu pai e a criança que eu fui. Depois do intervalo, tentei reencontrar os amigos, mas não havia espaço para uma pulga nas arquibancadas. Para o segundo tempo, subi as tenebrosas escadarias da Colina, tudo em cinza e preto, um rigor de morte: o Fluminense estava ferido de morte. Tentei ficar perto das torres de luz, no alto, mas a multidão se amassava por um centímetro de vista – entre eles, um rapaz que sofre de nanismo, um popular anão. Lentamente, desci as escadas quando desperdiçamos um ataque. O Atlético havia vencido seu jogo contra o Sport, o Grêmio vencia o Botafogo e todos os nossos corações pareceram desconfortáveis por algum tempo pequeno. Então pensei na criança que eu fui e me juntei aos de meu coração: os jovens ao ataque, grudados no alambrado de vidro, clamando pelo nosso gol. Em campo, o Fluminense escutou a procissão de sua torcida e martelou dez, vinte, trinta vezes. Abel mostrou que merece respeito: colocou o time para frente e ousou nas substituições.

Quem espera sempre alcança e o pênalti foi muito bem-marcado. Ninguém da Ponte contestou. Quando Fred converteu a cobrança e os jovens do alambrado fizeram-se de foguetes sem direção, olhei para a direita, vi o esplendor da torcida do Fluminense em delírio numa ponta a outra da arquibancada e creio ter vivido um dos momentos culminantes da minha vida – quando a monumental Colina tremeu. É fácil ficar emocionado em grandes finais ou na volta olímpica de grandes títulos. Naquele batalhão de gente, eu revi a minha infância, a minha história como torcedor de futebol. São Januário foi Maracanã até o fim do jogo, o Maracanã dos anos 80 – e a Ponte, com seu uniforme, sugeria o próprio Vasco em campo. Ao virarmos o jogo, eu já tinha voltado para o escanteio esquerdo de nossa defesa. Vi de longe o gol de Gum e novamente gritamos como nunca. Como é lindo ver a torcida do Fluminense celebrando uma grande virada!

Não pensemos neste jogo como uma partida muito difícil e sofrida, nem numa jornada onde não mostramos nosso melhor futebol. O Fluminense neste momento não cogita a opulência das artes plásticas em campo; pensa em ser tetracampeão. Todos queremos esta conquista como um esfomeado urra diante de um maravilhoso prato de comida. Não pensamos em nada que não seja este quarto título. Eu confio na linda Juliana. Vencemos porque soubemos ser heroicos com simplicidade e dignidade. Vencemos porque somos o melhor time do campeonato e quem é melhor está preparado para virar jogos, superar adversidades, aplicar um sonoro não no ouvido das cracatoas que cantam o mar das obviedades. O Fluminense não nasceu para ser óbvio: há trinta rodadas, estamos contrariando a sapiência da imprensa especializada.

Mais uma rodada se foi, mantivemos a enorme vantagem e, se muitos apontam o tricolor como um time “apenas eficaz” ou “sem-brilho”, não posso deixar de perguntar: hoje, quem brilha mais do que nós? Que torcedor de outros times não gostaria de ter a nossa arquibancada para si. Senhores da lógica, desçam de suas tamancas efeminadas e poupem-nos do ridículo!

O Fluminense tem a vocação dos triunfos, é um grande líder e tem tudo, absolutamente tudo para escrever mais um de seus lindos capítulos em dezembro, doa a quem doer. Hoje, a oito rodadas do fim, só um lunático não empenharia sua fé nisso.


Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Imagem: Marô Sussekind

Contato: Vitor Franklin

16 Comments

  1. A imprensa está superdimensionando um lance de uma suposta falta próxima a área, me lembrei imediatamente de um lance de falta mal marcada próximo a área ano passado, num fla x Flu, lance que o botinelli acabou marcando um gol de falta, e toda a imprensa (principalmente a que pulou atrás do gol), disse que era apenas uma falta próxima a área, não era um lance decisivo de jogo, portanto não se caracterizaria de forma alguma má intenção da arbitragem (todos nós certamente nos lembramos disse, foi consenso na mídia) e que o Fluminense não tem nenhum motivo para reclamar.

    Mas agora tudo mudou…

  2. A grobo já pulou de galho:

    Depois de passar o ano todo passando jogos do framengo à exaustão, agora a grobo vai transmitir os jogos do Fluminense nas rodadas 32, 34 e 35 (só foi divulgada as transmissões até a 35ª rodada).

    Vai transmitir os mulambos, não é disso que vcs gostam?

  3. sandro meira ricci apita a decisão de quarta-feira

    No 1º turno ele não deu um penalti claríssimo também no engenhão sobre o Carlinhos, diante do corinthians.

    Muita atenção com ele!

  4. Os otários torcedores da ponte fizeram um B.O. fictício pelo jogo de ontem e estão divulgando no facebook.

    112 anos de história e nenhum título sequer, se esse clube tivesse o mínimo de vergonha na cara, já teria fechado as portas faz tempo.

  5. O jogo foi estranho, perdendo da Ponte Preta até os 30 e tanto do segundo tempo é para deixar qualquer um perplexo e desesperado. Achei que ia vivenciar o pesadelo do Atlético GO. Fomos com tudo e, como o ditado “tanto bate até que fura”, conseguimos virar o jogo. As carpideiras galináceas e gaúchas estão com os olhos vermelhos e a garganta rouca de tanto torcer contra. O Flu marcha firme rumo ao tetra. O resto é choro de perdedor.

  6. Paulo,

    já que você achou maneiro, da próxima vez vou falar pro Vinicinho ficar te cutucando o tempo todo! KKKKK!

    1. Paulo responde: Marcus, deixa de ser chato. Não basta ser pai, tem que ser cutucado. Ahahahahahaha.

  7. Sensacional, caro Andel!
    Eu estava na arquibancada bem atrás do gol, bem no alto (por medo de chuva) junto aos camarotes, ouvindo o Luiz Penido, nos fones, que disse que em seus 40 anos de jornalista esportivo foi a primeira vez em que sentiu a cabine tremer, depois do primeiro gol do FLUZÃO!
    Foi mesmo (mais) um jogo pra entrar pra nossa história!
    SSTT!!!

  8. Em relação ao regulamento proposto para o estadual de 2013 e 2014, pra se ter uma ideia da aberração, o melhor índice técnico não é aferido pelo maior número de pontos na soma dos 2 turnos, e sim, pela número de pontos nos 2 turnos SOMADO AO SALDO DE GOLS!?! dividido pelo número de jogos. É o maior monstrengo que já vi na minha vida.

  9. Enquanto cada tricolor não perceber que está numa guerra contra a flapress, ela vai continuar com seu trabalho tendencioso contra o Fluminense, de tanto martelar, será que na dúvida agora em jogos do Fluminense, os juízes vão fazer o que?

    Não posso estar presente em todos os jogos do Fluminense, principalmente quando é fora, então infelizmente tenho que assistir os jogos no premiere, pois tem exclusividade de transmissão, mas fora isso, não vejo absolutamente mais nada em sportv, globo, não acesso sites das organizações, há muitos outros veículos de informação, como este blog, para acompanhar as notícias do Fluminense.

  10. Não acompanho o que sai na flapress, mas imagino que o lance do gol em que o vágNEM love ajeita com o braço tenham colocado debaixo do tapete.

    O Fluminense tem 9 pontos de vantagem sobre o vice-líder, observem o número de jogos transmitidos pela TV aberta do Fluminense mesmo com a melhor campanha da história dos pontos corridos.

    É quase uma censura.

    1. Já tinha reparado nisso também. É incrível o quanto querem mesmo torcer contra. E ainda querem me convencer que esse cara é tricolor…

  11. Além dos 2 penaltis não marcados para o sport, mais uma vez um jogador do adversário do atlético mineiro é expulso, será que a mídia vai enfatizar isso?

    Gente, o globoesporte.com está em guerra contra nós, e nós deveríamos estar também em guerra contra eles, então boicotem, não acessem nenhuma página das organizações mulambentas.

    Quarta-feira contra o grêmio e domingo contra o atlético/mg, os 2 adversários diretos, é realmente final de campeonato, acho que se o Fluminense pelo menos não perder esses jogos, aí amigo, ninguém tira mais.

    Todos ao jogo do Fluzão na quarta, nem que remarquem pro deserto do Saara.

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