Por que Mário normalizou a destruição do meu livro? (por Paulo-Roberto Andel)

Ontem, definitivamente, ficou para trás uma das maiores farsas que já vi alguém sofrer na vida. Por acaso, e somente por isso, fui a vítima. Mesmo tardia, a justiça se fez.

Dois dias depois de ter sido agraciado com o título de Torcedor Ilustre do Fluminense, em Sessão Solene do CDel em 21/07/2014, um ex-funcionário do Fluminense ingressou na Justiça contra mim, pleiteando uma indenização de R$ 150.000,00 mais a DESTRUIÇÃO dos exemplares de meu segundo livro, “Duas vezes no céu”, que conta a temporada 2012 do Fluminense – por sinal, a última de grande êxito até aqui.

No ano seguinte, a editora que me contratou fez contato, desesperada: havia uma ação judicial contra mim, não apenas contra ela, que tinha me contratado e, por isso, controlava todo o processo de produção da obra, me cabendo apenas ceder os originais (texto sem imagens) e receber graciosos R$ 3,60 a cada exemplar vendido.

Em tese, a ação se deu pela falsa alegação de que eu teria manipulado uma fotografia de um autor freelancer, que conseguiu gratuidade de Justiça, para promover a capa do meu livro e lucrar com isso. Como se sabe, isso era a primeira das muitas mentiras que cercaram o processo. O autor era funcionário do clube e mais: não poderia negociar ou requerer nenhum valor sem a autorização do próprio clube, dono de suas imagens – e daí veio a farsa do freelancer.

No link abaixo, a história toda foi narrada pela querida Elika Takimoto, de quem só espero o melhor como Deputada Estadual brilhantemente eleita neste 2022.

A FARSA JUDICIAL CONTRA MIM.

Dias depois, essa história foi parar na Veja. Eu, que tinha um cargo de confiança numa instituição sindical, tive que prestar esclarecimentos sobre o tema, e felizmente fui muito bem acolhido pelo meu saudoso diretor, Dr. Antonio Carlos Mendes Gomes, que me disse algo definitivo: “Paulo, eu confio em você e isso me basta. Agora, quando você começou com esse negócio de futebol, eu senti que viria alguma sujeira pra te calar. Não se deixe abater, e se precisar do nosso Departamento Jurídico, é só acionar.”

Procurei o clube. Fui direto em quem deveria mandar: Peter Siemsen. Ahahaha. Cafungou três ou quatro e-mails, me prometeu providências -mentirosas, é claro – e, a seguir, me indicou que falasse com a então estrela política emergente do clube, Mário Bittencourt. Foi o que fiz.

No primeiro e-mail, sem saber, fui apresentado ao estilo administrativo padrão Bittencourt, que já ouvia falar de muitos anos antes, quando ele era anônimo e advogava para um grande amigo meu, hoje meu sócio. Simples e direto, me disse que poderia fazer um acordo. Acordo… ACORDO?

Peraí: eu passo um ano escrevendo um livro enaltecendo o Fluminense, um funcionário – vascaíno – do clube entra na justiça pleiteando a destruição do meu livro – sem jamais ter me procurado, ou à editora que me contratou – e o Vice-Presidente do Fluminense propõe um ACORDO? ACORDO PARA A PLEITEADA DESTRUIÇÃO DE UM LIVRO SOBRE O FLUMINENSE? DESTRUIÇÃO TRAMADA DENTRO DO CLUBE.

Não somente rechacei a oferta como disse claramente o que pensava daquele absurdo. A seguir houve uma troca de e-mails e creio que o fundo do poço tenha sido quando Mário disse entender plenamente meus argumentos, mas também entendia o lado do ex-funcionário. Prefiro não comentar o que pensei e escrevi sobre isso, e, por mais que seja um eleitor com total reprovação quanto à administração de Mário – que só viria anos depois -, só consigo atribuir essa declaração como um lapso de lucidez. Não se trata do meu livro, como poderia ter sido de qualquer outro escritor: nenhum dirigente do Fluminense pode ter dúvidas ao escolher lado entre um bem cultural do clube e a sua destruição. A dúvida neste caso simboliza uma aberração, uma anormalidade.

Quando um autor publica uma obra sobre o Fluminense, em geral ela é feita com parcos recursos e preserva a história da instituição, que produz anualmente um livro de arte, também importante mas insuficiente para dar conta da bibliografia que o clube merece. Por outro lado, o Fluminense não oferece nenhum tipo de suporte ou apoio que incentive os escritores a produzir sobre o clube. Enfim, esse é um longo assunto que fica para depois. Uma coisa é certa: 80% da bibliografia tricolor foi realizada com esforços particulares. Aproveito para desfazer uma estupidez que é propagada aos quatro cantos quando o assunto é livro tricolor: a preconceituosa distinção entre livro “oficial” e “independente”. Os “oficiais” nada mais são produtos que dão royalties ao clube, isso quando vendidos, já que a luta pelo mercado literário é muito difícil. Há livros “oficiais” péssimos e “independentes” ótimos. Não existe história oficial, a não ser em ditaduras, o que ainda não é o caso do Fluminense.

Alguém consegue imaginar o que teria acontecido em São Januário se um funcionário – tricolor – da casa entrasse na Justiça pleiteando a destruição de um livro sobre o clube, sendo presidente Eurico Miranda? Ou, no próprio Fluminense, mas com dirigentes como Francisco Horta, Manoel Schwartz, David Fischel, Roberto Horcades e mesmo Celso Barros – nome estelar da história do clube, absurdamente boicotado nesta gestão?

Sem qualquer êxito nas tratativas, deixei os contatos com o clube. Gente de expressão na imprensa tricolor, muito alinhada com o atual presidente, se afastou de mim para depois tomar rasteira semelhante. É do jogo. Muita gente me dava tapinhas nas costas no clube, mas sabotava nos bastidores, talvez preocupada com o crescimento do meu nome, preocupada com seus empregos e salários. Havia no ar a sensação de que eu era um incômodo por causa da minha independência: não precisei de absolutamente nada do clube para escrever 21 ótimos livros sobre o Fluminense – um dos maiores números na história do futebol brasileiro -, apenas do meu esforço individual e das editoras que me acolheram.

Anos e anos se passaram. A injustiça continuava. Meses atrás, veio a sentença e a justiça: eu nunca fiz nada para sabotar o trabalho de ninguém. Ganhei a ação. A cólera do derrotado o levou a recorrer, mas perdeu ontem por 3 a 0 em caráter definitivo. Que a história o abrace com o obscurantismo que merece.

Enquanto isso, sigo minha trajetória. Há muito a ser escrito. Há muitos originais a serem editados.

A única pergunta sem resposta é: por que Mário normalizou a destruição do meu livro? Por que não defendeu a instituição Fluminense em sua vida cultural? Não pode ser apenas uma questão pessoal, já que não me conhecia.

Parece algo tão sem resposta quanto as naturais dúvidas que pairam sobre as contratações de Cristiano da Silva, Caio Paulista, Felipe Melo, Bigode e grande elenco.

Contudo, no meu caso particular, a Justiça foi feita. Os que tentaram me derrubar, dentro e fora do clube, foram derrotados.

Venci.

Deixo aqui meu abraço e apreço a Marcello Luna, meu querido amigo e advogado que se empenhou nesta causa desde o começo. Não há palavras para agradecê-lo, mas dizer que Luna é um dos grandes quadros que o Fluminense desperdiça – e espero que retifique esse erro em breve.

2 Comments

  1. Andel, você deveria ser homenageado por tudo o que tem feito pelo clube, de forma independente e sem interersse eleitoreiro. Este sujeito vascaino, se ainda estiver por lá, deveria ser dispensado sumariamente, e nunca compreendi por que isso não ocorreu na época do processo. O Bittencourt se serve do clube, essas contratações absurdas, muitos veteranos, empresários mandando e agora T. Neves, cheira a algum por fora pra todos envolvidos….ST…

  2. É realmente surreal e inaceitável que se defenda a destruição de um livro. Nem mesmo a obra literária horrenda de Hitler foi destruída. Portanto defender uma ideia como essa, tona-se inexplicável.
    A história talvez não revele os motivos da mente do nosso presida, afinal, o que está na cabeça de cada homem, talvez só ele e Deus saibam. Mas, a história ao menos consegue mostrar que o que há dentro desta cabeça está completamente errado.

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