Pó de arroz x Ditadura (por Paulo-Roberto Andel)

medici 1970

Quando não se tem uma pauta diária razoável para esta quarta-feira, qual a prática tradicional da imprensa esportiva marrom para encher linguiça? Tentar ridicularizar o Fluminense.

Deu no UOL: “Em meio a onda de racismo, Fluminense cogita ressuscitar pó de arroz”

Deu no GE: “Evangélico fervoroso e reservado: o irmão Fred dentro da igreja”

O leitor distraído dirá que não tem nada de mais.

Quem explorar a argúcia verifica claramente que a primeira matéria é completamente descabida – e tendenciosa – pela questão da temporalidade e as falácias distorcidas a respeito.  Veja a imagem gentilmente compartilhada por Rodo, da Equipe Pó de Arroz – http://www.portalfluminense.com.br – via Twitter, do time de aspirantes do Fluminense em 1910. Um onze com vários jogadores negros.

fluminense 1010 aspirantes

Quanto à segunda, apenas uma tentativa frouxa de fazer chacota do artilheiro, que não costuma dar a menor audiência para os marrons.

A torcida do Fluminense tem todo o direito e deve buscar todos os meios legais para resgatar uma de suas maiores tradições nas arquibancadas: o pó de arroz é festa, alegria, marca de uma das maiores torcidas do mundo.

Fred tem todo o direito de avançar na prática religiosa como bem entender. É direito seu inalienável. Qualquer coisa que se diga de suas diversões passadas tem cheiro de hipocrisia barata.

Ontem, matéria do mesmo grupo GE destacava a seguinte manchete: “Filme sobre a ocupação do Alemão tem Cauã Reymond como traficante: ‘Queria um desafio como ator’”

cauã 2014 2

Nenhum comentário sequer sobre a foto ilustrativa. “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”. Silêncio sepulcral. Deixe passar. Qualquer palavra a respeito não seria de bom tom contra o Mais Protegido.

Já que a imprensa anda tão preocupada com o racismo que pode ser estimulado pelo Fluminense, uma boa dica de pauta cai bem nestes dias; afinal, o fim do mês de março corresponde ao aniversário de 50 anos da ditadura cívico-militar que explica muito – de ruim – do Brasil atual.

Em 1982, por ocasião da inauguração do edifício Flamengo Park Towers, anúncio de grande circulação no Jornal dos Sports foi publicado pela Gávea, enaltecendo a conquista e oferecendo o título de “Flamengo VIP” a seus torcedores eméritos que ajudaram o clube a erguer o edifício e se capitalizar.

Alguns nomes de pessoas de bem fazem parte da lista.

Contudo, ela chama atenção pelo seguinte: os nomes dos donos de alguns dos principais jornais do Rio (O Globo, O Dia, Jornal do Brasil e Jornal dos Sports) – pode-se dizer do país à época – estão presentes na lista de agraciados. Basta ampliar a foto.

Dentre eles, sem encabeçar a lista para não “ferir suscetibilidades”, o de Emílio Garrastazu Médici.

medici dunshee

O mundo é pequeno mesmo…

rmp zozimo dunshee

Não é à toa que João Saldanha referia-se regularmente ao termo “Fla-Imprensa”.

A suposição de que o Fluminense estimularia o racismo através do pó de arroz beira o desespero ridículo de quem já não tem como agredir as Laranjeiras.

A homenagem rubro-preta a um dos símbolos da ditadura que assolou o Brasil, um fato.

Resta saber onde estão exatamente as coincidências e a má-fé. Pensando bem, todos sabemos.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: r7

6 Comments

  1. Caro Paulo,

    a velha impren$a canalha brasileira. meias verdades, meias mentiras, alinhavadas com alguns fatos e certa verossimilhança. manipulação. e o po-de-arroz transformado no manto dos novos cavaleiros da KKK brasileira – “viradores de mesa!!!” – a ser combatidos pelos ‘homens de bem’ das redações.

    (mas sinto repugnancia ainda maior pelo silencio reinante na Alvaro Chaves.)

    o imperio ataca – apenas nossa uniao podera nos defender.

    abs e ST!

  2. Desculpe Andel se falei no lugar errado, mas não tinha opção de comentar onde vi o comentário deste senhor.Abraços.

    1. Paulo-Roberto Andel: Caro Carlos, a casa é tua e de todos os tricolores de bem, que espero sempre ver em situações de respeito ao contraditório e à urbanidade.

      Aqui é um espaço democrático.

      Só moderamos os comentários porque há quem insista em utilizar o espaço para a prática de crimes, daí a necessidade.

      Todo respeito ao seu ponto de vista.

      Sou filho e sobrinho de presos pela abominável ditadura cívico-militar.

      Sou um homem de esquerda, assim comos meus companheiros Marcus Vinicius Caldeira e Walace Cestari, colunistas daqui, o são. Outro companheiro nosso daqui, Zeh Augusto Catalano, é um homem de direita.

      Fosse naqueles tempos, não existiria este blog e nem a possibilidade de conversarmos, mesmo se houvesse a tecnologia atual.

      Quanto aos excessos, permita-me discordar radicalmente de você: foram muitos, milhares e eu fui indiretamente vitimado pela ditadura dentro de minha própria casa. Até hoje famílias choram seus mortos, desaparecidos, incendiados, degolados, estuprados.

      Permita-me também discordar quando se fala em vidas humílimas de presidentes da ditadura: Figueiredo, por exemplo, morou no Condomínio Praia Guinle, o mais caro da cidade até hoje.

      Desnecessário dizer de tramas econômicas que levaram o Brasil à série E da economia nos anos 70/80 – não estão divulgadas porque simplesmente não havia imprensa para cobri-las.

      Em tempo: nunca fui militante do PT, embora próximo e distante ao mesmo tempo dele por conta de minhas raízes brizolistas.

      Grande braxxxx.

  3. …não existia( na escala que se tem hj) na época da ditadura, só ver pelo modo de vida dos ex presidentes 5 “estrelas”, todos morreram só com suas pensões e sem conta na Suíça ou filhos bilionários…Longe de mim querer defender a ditadura, de forma cega como militantes do PT olham e defendem com unhas e dentes, seu partido. Mas analiso de outros ângulos.

  4. Bom trabalho.

    Sempre que posso compartilho com meus amigos suas postagens.

    Continue na mesma batida, guerreiro.

    Saudações,

  5. Anthenor Nicolau, acho q vc deveria se informar um pouco melhor quanto a ditadura e em especial ao Figueiredo, que foi o presidente, dentro de um contexto já formado pela sequencia de presidentes militares,que já estava programado que iriam fazer a abertura política para dar para o Congresso a escolha via povo , da Democracia, isto é escolher nosso presidente.
    Houve excesso no militarismo?? houve alguns sim, mas em menor escala do que a corrupção que assola o Brasil, corrupção esta que não…

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