Perseguindo o escudo do Flu (por Paulo-Roberto Andel)

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Houve um ano, provavelmente 1980, em que o escudo do Fluminense era quase como que uma respiração para mim. Eu tinha mais grana de mesada, na verdade semanada, e economizava tudo que desse para comprar botões de galalite, vendidos no famoso Shopping dos Antiquários e na Tia Dália, ambos em Copacabana. Cada novo craque tinha um significado especial.

O time do Flu tinha feito um Brasileiro medíocre e uma Taça Guanabara pavorosa. E daí? Eu queria o escudo cada vez mais, as cores, as bandeiras, a nuvem de poeira cósmica do pó de arroz. Queria ser Edinho ou Robertinho ou Deley. E comprar botões novos era renovar o amor em casa e nas mesas Estrelão. Os botões de galalite vinham com o escudo pintado em dourado – nada a ver com esse rapaz de hoje -, o que lhes dava um clima de medalha de ouro.

Às vezes o dinheiro era tão curto que só dava para comprar o menorzinho, chamado de “pirralhinho”, diâmetro de dois centímetros e meio, sem escudo. Valia do mesmo jeito.

Na escola, aproveitava o intervalo do recreio para ficar desenhando o escudinho do Flu, esperando o domingo para vê-lo se multiplicar no placar sagrado do Maracanã: ele se multiplicava como se estivesse andando pelo painel de luzes.

Na tradicional loja de esportes da rua Figueiredo Magalhães, de propriedade do ex-árbitro e atleta de lutas Carlson Gracie, entre Edmundo Lins e Barata Ribeiro, se podia comprar o escudo bordado do Flu. Era lindo. Então você comprava uma camiseta Hering branca, um número verde daqueles de colar com o calor do ferro de passar, e logo sua mãe te dava uma bela “camisa oficial” do Tricolor.

Escudo, escudo, escudo em todos os lugares. Eu nunca deixei de perseguir o nosso escudo. De lá para cá, muita coisa mudou, muita gente veio, muita gente disse adeus, mas o escudo continua intacto nas memórias, nos afetos e na presença dos tricolores. Eu tento desenhá-lo nas palavras de livros e crônicas. Ele está na minha toalha de banho, na minha caneca, num pin e em borracha, no trabalho, que comprei de um camelô no Maracanã.

Muitos anos depois da Tia Dália, tive a honra de entrevistar Gilberto Gil. Ele disse que sua primeira paixão pelo Flu era no escudo, na heráldica. Imagine: você mergulha no teu time com o aval de um dos teus grandes ídolos.

O escudo que nos leva a mil caminhos. Máquina de sonhos, fantasia. Anagrama de paixões, desejos e uma inevitável vocação para o nosso eterno presente.

LOGO MAIS

Jogo duríssimo. Torceremos como sempre, mas depois de uma fila de jogadores, dirigentes e treinadores trocados, especialmente nos últimos quatro anos, parece claro que, independentemente do resultado contra o Grêmio, o que precisa mudar nas Laranjeiras é a mentalidade. Andar com fé eu vou. Ah, sim: quem critica os erros atuais é tão tricolor quanto aquele que minimiza as obviedades.

Panorama Tricolor

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Imagem: pá