Pauliceia Flu (por Daniele Brandão)

No cruzamento entre Ipiranga e São João. Não entendo muita coisa de São Paulo, mas quero chegar logo ao estádio. O taxista fala alguma coisa que eu ignoro completamente – não é agora que vou falar de política.

Na verdade não estou num período muito agradável, assim como o clube do meu coração. Parece uma onda que vem carregando toda a sujeira das profundezas do mar e joga sobre mim. Então ignoro. Uma demonstração de grosseria não seria nada bem vinda.

Minha camisa tricolor está dentro da bolsa… melhor evitar aborrecimentos que acontecem com mais frequência quando se é mulher. Bem no painel tem uma bandeira do oponente de hoje colada. Ihh! Já já ele inventa de dizer alguma coisa. Eu digo que vou ao estádio a trabalho, o que não deixa de ser verdade. Como assim a trabalho? A trabalho, não tenho muito mais a falar. Acho que o tom da minha voz disse “não se intrometa” com mais eficiência que as próprias palavras diriam.

Ele me olha com desconfiança, não que eu me preocupe. Lembro de minha mãe dizendo “você precisa ser simpática!” – isso não é tão possível quando se precisa viver na defensiva. Não basta o apuro da viagem… O medo desgraçado de avião quase me fez desistir já estando no aeroporto, e a turbulência confirmou o arrependimento.

Acho que ele está dando voltas só para me enrolar. Agora é a minha vez de desconfiar… Deveria ter usado o aplicativo! O assunto agora é o jogo de logo mais, como eu temia. Ele se diverte com a situação do Flu e lembra que seu time preferido está muito perto de erguer a taça. Respondo com alguns breves comentários enquanto minha cabeça está a mil, o tempo se arrasta e o percurso parece cada vez mais longo. Não tenho nem mesmo ânimo para observar a cidade.

Me arrependo cada vez mais em estar nesta situação – quem diria? Era melhor ter ficado em casa para passar raiva na frente da TV, só mantendo o padrão. Não consigo mais entender o que acontece com a equipe. Parecem mais perdidos que eu. E só a visão do velho Claudio e sua turma, com tantas reportagens de peso, aliviaria a possível indignação… eu já estava contando com isso.

Talvez eu esteja errada em desconfiar, não sei. Paranoia ridícula. Percebo que estamos próximos do local do jogo pelo fluxo de pessoas vestidas na camisa do adversário da hora.

Mas não quero esperar mais! Pago a corrida – agora, o valor nem tem importância – e salto do carro bem antes, apressada em direção à entrada do estádio. Sinceramente não sei o que me aguarda lá dentro… Deveria querer saber?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FluminenseDNL

Imagem: Dan

1 Comments

  1. Em casa dava pra fazer como eu…fui dormir no 3º gol…..mas, parabéns pela coragem.

    ST

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