Sobre o dirigente patético (por Paulo-Roberto Andel)

É difícil ser adulto na casa dos 50 anos em 2017 no Brasil, talvez em boa parte do mundo. É testemunhar, em nome da pretensa democracia, uma multidão que faz de seus direitos subjetivos os de ofensa, humilhação e covardia virtual – cara a cara o papo é outro -, acreditando que tais meios são garantia de vitória num jogo dialético, num cenário continental de barbarismo. Aqui em Pindorama, pelo que temos visto, vale tudo, em todos os setores, de modo que o futebol não está intenso a tais comportamentos. Nem de longe, tais ideários pertencem a muitos dos que nasceram no bravo ano de 1968.

Na era das redes antissociais, vale tudo. A mesma internet, que espalhou mil possibilidades de convívio e aprendizados positivos, é também o veículo disseminador de ódio, mentiras e distorções históricas. Acontece no futebol, acontece mais com uns times do que com outros.

O Sr. Antônio Tabet ficou milionário às custas de sua dita competência no mercado publicitário, inflamada pelo humor virtual – sem limites – acessado por milhões de pessoas. Flamenguista fanático, exerce toda a sua incorreção política por meio do microblog Twitter, admirado e decantado pela sua nobre arte. Quer dizer, nem sempre, porque não se trata de um torcedor qualquer, mas sim de um dirigente de um clube que possui milhões de torcedores país afora. Ao torcedor comum, cabe o direito de ser até ridículo; ao dirigente, não. Ao menos, sem consequências.

Alimentado pela euforia de seu sucesso profissional, Tabet tem trocado os pés pelas mãos – e estas por patas – em suas recentes manifestações virtuais. Primeiro contra o Botafogo, depois do acontecimento gravíssimo que culminou no assassinato de um torcedor – e nós mesmos, tricolores, temos um companheiro de arquibancada, o Scudi, internado depois da tentativa de assassinato que sofreu, motivada por ódio interclubes. Agora, com a velha fala mofada e hipócrita de sempre contra o Fluminense. Um daqueles flamenguistas que passaria vergonha se estudasse a história de seu clube por meia hora, no que tange a tapetões e situações no mínimo inusitadas do ponto de vista ético, exercidas por seus dirigentes. Se o Fluminense é o time do tapetão, o Flamengo é o dono da tapeçaria…

Há pouco mais de três anos, a irresponsabilidade de jornalistas levianos por muito pouco não levou o Tricolor a ter outros torcedores assassinados nas ruas, num mar de cólera que ainda provoca marolas até hoje. O motivo era a mesma sandice repetida agora por Tabet: o Fluminense é o time da virada de mesa. Falácia, distorção e irresponsabilidade, advinda de quem deveria promover o espetáculo e não a desinformação que alimenta rinhas e ódios. Neste exato momento, o futebol do Rio passa por tantos problemas extracampo que ainda não se sabe com certeza onde será disputada a final da Taça Guanabara – e um deles, claro, é a questão da violência, que nem passou pela cabeça do dirigente humorista. O futebol é algo sério demais para ser tratado como uma babaquice impensada de Twitter. E aos simplistas que veem exageros nesta opinião publicada, recomendo que pesquisem sobre a quantidade de mortos e feridos por questões de arquibancadas nos últimos dez anos, alimentadas por declarações estapafúrdias.

Como humorista, empresário e militante político, Tabet obteve riqueza pessoal, likes e vaidade. Como dirigente promotor de futebol no cargo de tuiteiro, sua conduta é desastrosa e constrangedora. Foi reprovado até mesmo por torcedores de seu próprio clube, dentre eles os que não se alinham com a corrupção da informação ou de qualquer outra coisa. Há pouco, para os mais distraídos, o Flamengo teve seu vice-presidente Godinho preso pela Operação Lava-Jato; felizmente, nenhum dirigente do Fluminense foi à internet para fazer troça sobre o causo. Não preciso falar da soltura do goleiro.

Pensando bem, talvez aí esteja demonstrada uma diferença clara de posturas, atitudes e maturidade.

Que a decisão de domingo que vem esteja muito acima das irresponsabilidades e leviandades via internet, praticadas por quem deveria combatê-las.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: curvelo

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