Parreira 78 (por Paulo-Roberto Andel)

Os tricolores podem falar muito de Carlos Alberto Parreira, que completa 78 anos neste sábado. Do treinador lançado pelo Fluminense em plena Era Máquina (e que antes disso já era campeão do mundo em 1970), do breve retorno em 1984 fazendo do Fluminense uma nova máquina de jogar bola e ganhando o Brasileiro, do incrível desafio da Terceira Divisão em 1999 – quem seria destemido a ponto de arriscar sua carreira naquela situação? Parreira, Fluminense e vitória são expressões de um trinômio inconfundível.

Sua incrível carreira internacional e a conquista da Copa do Mundo de 1994 falam por si, mas gostaria de lembrar uma das mais gloriosas passagens de minha carreira de repórter. Em 2006, a três meses da Copa do Mundo na Alemanha, Parreira era o treinador da Seleção e fui entrevistá-lo com Raul Sussekind e Alvaro Doria – nossa entrada na CBF e as situações envolvidas dariam um belo conto, mas o fato é que depois de várias células foto-elétricas e portões automáticos, lá estávamos nós na sala de reuniões da Confederação – naquele momento, um dos lugares mais importantes do mundo.

Depois de mais de duas horas de conversa, Parreira falou de tudo com elegância e sinceridade. Fizemos todas as perguntas que queríamos. Ao final, Raul sacou uma bandeira do Fluminense que usamos em N entrevistas, que hoje tem autógrafos extraordinários e alguns eternos, dados por grandes tricolores já falecidos. Parreira pegou a bandeira, olhou até mais do que o esperado e começou a autografá-la. Quando terminou, tive curiosidade em ler o escrito: “Fluzão, obrigado por tudo!”. Imediatamente ele olhou para mim, e com um surpreendente – e raro – sorriso, comentou o que escreveu, provavelmente por conta da minha reação diante de uma frase tão humilde. “É isso mesmo. Fluzão. Sem ele, eu nunca poderia estar aqui falando com vocês nesta situação, dar autógrafos, ser um profissional bem-sucedido. Tudo o que tenho na minha vida eu devo ao Fluminense. Eu não seria nada sem o Fluminense. Obrigado por tudo, obrigado por vocês”. Então nos cumprimentamos, nos abraçamos e nós três saímos em êxtase da CBF, a ponto de pararmos num shopping da Barra e telefonamos para outra grande tricolor que nos proporcionou uma tarde de risos: Ângela Ro-Ro. A entrevista com ela acabou não rolando.

Quase quinze anos depois dessa tarde com Parreira, eu me lembro dela como se fosse agora. A sorte me permitiu entrevistar alguns dos mais famosos torcedores e personagens do Fluminense na história, mas nenhum deles me pareceu tão sincero em sua declaração de amor ao Fluminense quanto Carlos Alberto Parreira. E para quem possa duvidar, aí estão os fatos e uma longa carreira vitoriosa que não me deixam mentir: Parreira é um dos escudos do Fluminense em carne e osso, desses que andam pelo mundo escrevendo a história.

2 Comments

  1. Andel, penso que o maior trabalho de Parreira no Flu foi o da série C, reerguendo o clube. Quanto ao título de 84, Parreira levou a taça, mas o DNA do time foi de Carbone. ST…

  2. Paixão verdadeira e gratidão humilde de um grande homem do esporte vindo do Tricolor. Quando puder, por favor, escreva sobre “as situações envolvidas”, certamente outro belo texto de sua lavvra. ST****

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