Para ser o primeiro (por Paulo-Roberto Andel)

Os meses passaram e finalmente o Fluminense chegou ao posto que lhe cabia. Primeiro na tabela do campeonato brasileiro. Sim, pode ser apenas um momento. Há quem diga que o Atlético tem um jogo a menos, mas não custa lembrar que, desta vez, seu adversário na partida atrasada, tão acostumado a facilitações que derrubem terceiros, desta vez não poderá oferecer três pontos ao adversário de bandeja. E ter chegado à liderança ontem tem um significado ainda mais simbólico: o alvinegro mineiro tinha dominado a ponta da tabela praticamente o primeiro turno inteiro.

Para ser o primeiro, não basta ter um time com craques: é preciso saber jogar sem eles, quando os desfalques aparecem. Que time do Brasil resistiria às ausências de Deco e Fred? Sim, o primeiro tempo não foi dos mais auspiciosos? Deixamos espaços generosos em nossa defesa? Não finalizamos como devido? Pois bem, mesmo dispersivo em certos momentos, Wellington Nem foi decisivo: quando precisou, se atirou à bola; quando foi necessário, voou de cabeça. A verdade é que só tomamos o gol de empate por conta da enorme infelicidade do raçudo Digão, símbolo de 2009. Pouco importa se a partida não teve o brilho intenso que desejamos: se em alguns momentos isso faltou em campo, os nossos admiráveis maníacos foram reforçados em larga escala e finalmente tivemos um público condizente com a – então – possível liderança. Muitos cantaram, alguns chatos reclamaram o tempo inteiro pela “falta de espetáculo”. Ora, que rumem para o Teatro Municipal!

O Fluminense brigou para ser líder. Não chegou até aqui à toa. E hoje se percebe um aspecto fundamental dentro desta equipe que busca o tetracampeonato em cada centímetro: a luta. Três jogadores me chamam muita atenção neste momento, neste ponto: Wagner, Edinho e Samuel. Todos com inícios tíbios no clube, todos contestados tecnicamente, todos muito importantes ontem. Wagner, uma luta sem par, mesmo com os eventuais erros: brigou por cada pedaço de grama. Edinho, afora a disposição, acertou pelo menos dois lançamentos espetaculares a dezenas de metros – e se isso não lhe atesta pujança técnica, consolida seu compromisso com nossa camisa e mostra que, mesmo quando esperamos isso dos jogadores mais categorizados, os outros também podem ser importantes. De Samuel, falo mais tarde: o gol de ontem disse praticamente tudo. Superamos também a violência santista, muitas vezes exercida pelo patético Dorval.

Para ser primeiro, é preciso ter também sorte: se ela não sucedeu na infelicidade de Digão, mostrou-se viva noutros lances. Nas arquibancadas do sul, uma família pé-de-coelho: meu querido amigo Ricardo Bolinha, acompanhado de seus jovens filhos Caio e Cauã. Nenhum deles, tricolor. Todos, felizes por um jogo de futebol. Bolinha, vascaíno de coração, já esteve comigo em muitas partidas no Maracanã e no Engenhão, quase todas vencidas pelo Fluminense (bom, também já secamos o Botafogo em duas oportunidades admiráveis que contarei noutro dia). Com Bolinha nas arquibancadas tricolores, os três pontos positivos são praticamente uma certeza nos últimos vinte anos.

Para ser o primeiro, é preciso mostrar força, garra, atitude. Tudo isso o Fluminense de hoje tem de sobra e todos esperamos que assim continue até dezembro. Não é o time da perfeição. Ainda erraremos, ainda tropeçaremos, mas estamos vivos e firmes. As viúvas da luta contra o rebaixamento roem o rancor do sucesso – já os quinze mil fanáticos saíram felizes noite adentro após deixarem o Engenhão. Hoje, somente hoje, apenas um verdadeiro boboca há de lamuriar a burrice de Abel – o grosso da massa sente cada vez mais o cheiro de um tetracampeonato tão ansiado. E foi bonito ver a mesma massa gritar com vigor o nome do nosso treinador.

Mas ainda é cedo. Muito cedo. Ontem foi somente o começo, um momento, um ponto.

A reta demonstra que ainda poderemos voar baixo. Deco, Fred, Marcos Junio, reforços admiráveis e desejados.

E quero falar de Samuel. Na diagonal atrás do gol, exatamente numa linha reta imaginária entre seu chute e a bola que morreu no ângulo esquerdo, acompanhei de perto o momento que olhou para o gol, viu Rafael adiantado e colocou com a categoria de um craque. Não, Samuel não é um craque, mas um garoto em formação que mostra a possibilidade de ser muito útil para o Fluminense. Um garoto que pode ter feito um gol decisivo para tudo o que sonhamos em dezembro. Samuel não é craque? Sim, mas o gol foi de um senhor craque.

A cerca de dez minutos do fim, ver as bandeiras tremulando de leste a sul foi um colírio para a alma. As pessoas felizes a meu lado no setor mais popular do estádio. A alegria e a esperança reinantes mais do que nunca. As cores do Fluminense cada vez mais cheias e vivas!

Para ser primeiro, é preciso haver encantamento, sabor, compromisso, desejo, garra de coração e não somente da boca para fora.

Tudo diferente, mas muito diferente mesmo, dos ratos que já saboreiam queijo nos quatro cantos da Vila Belmiro.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

Imagem: globoesporte.com

Contato: Vitor Franklin

 

8 Comments

  1. Cara tá um saco assistir os jogos com esses comentaristas,que perseguição sem cabimento contra o nosso FLUZÃO ,isso porque é uma tv por assinatura,a gente paga pra ouvir merda.ST!!!

    1. Ele parece até José Carlos Araújo, que se diz tricolor para ficar mais à vontade para meter o pau no clube.

  2. Enviei para fale conosco do SporTV:

    Envio lista de desfalques do Fluminense ao narrador Luis Carlos Júnior que só deve ter recebido a lista de desfalques dos jogadores do Santos (Fred, Deco, Leandro Euzébio, Valencia, Marcos Júnior e Ânderson).

  3. * Os 3 gols do Flu foram marcados por jogadores formados na base.

    * Está difícil realmente assistir jogos no PFC, ontem, o narrador Luís Carlos Júnior a todo momento enumerava a lista dos desfalques do Santos, citando jogadores inclusive que nunca ouvi falar como Alison e o lateral Paulo Henrique (de tanto ele repetir, até decorei), mas em nenhum momento citou qualquer desfalque do Flu (Fred, Deco, Leandro Euzébio, Valencia, Marcos Júnior e Ânderson).

    1. Um detalhe: acho que o Samuel não foi formado na base do Flu, mas do Inter.

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