Para colorir a América (por Walace Cestari)

GAZETA DO POVO

O Fluminense entrou em campo vestido com a tradição. Porque somos três cores. São elas que nos definem e determinam o que valemos em cada batalha. E somos valorosos. Os quinze mil de sempre apoiaram como nunca. Bandeiras que produziam os bons ventos que guiavam o time. Em cada dividida havia mais que as chuteiras de nossos guerreiros, havia o grito apaixonado que vinha das arquibancadas. Queríamos a luta. Ansiávamos a batalha.

Técnica apurada não era o que se esperava. O primeiro tempo mostrou um Flu aguerrido, guerreiro, com toda a vontade que os críticos julgavam estar perdida. Mais que isso, o time foi inteligente, trocou passes ante um adversário fechado, que insistia em parar as jogadas com faltas. E, na etapa inicial, combinamos com maestria a garra com a técnica. Mostrando entrosamento e qualidade, passes curtos criavam jogadas agudas, rápidas. A arquibancada atacava junto com o time.

Vozes e pernas em um só objetivo, unidos pela escala cromática da tradição. E a inspiração veio como tocados pela aura da volta de nosso capitão. Fred, ainda que sem suas totais condições físicas, liderava o comando de ataque e disputava todas as bolas como um verdadeiro leão. Carlinhos, tomado pela musa-arte, apresentava-se como opção, além de arrancar por entre adversários que ainda o devem estar procurando. Thiago Neves fez os melhores quarenta e cinco minutos desde sua volta ao tricolor. Wagner disputava o Oscar de melhor coadjuvante, apresentando-se no ataque e na defesa, belos passes e preciosos carrinhos.

No incerto gramado, não escapávamos das botinadas equatorianas. E em uma das muitas faltas sofridas, diante de uma esperança verde, que incerta verte no peito certo dos tricolores, nosso dez faz a bola pairar na área adversária. Eram inúteis os esforços dos zagueiros: Fred estava a postos. E, com o faro habitual, em epifania típica dos grandes herois, agraciado pelos deuses do futebol com a arte de fazer gols. E de sua cabeça saiu o tão certo grito de milhares: Fluminense um a zero. O verde fazia mais verde. A esperança era real.

A segunda parte reservava aos tricolores o habitual sofrimento. O branco estampava-se nos rostos assustados de uma torcida que insistia em incentivar. Gritávamos, mas pálidos pelo temor. O pavor rondava a área e, sem fidalguia alguma com a bola, disparávamos chutões para todos os lados. Pressão. Deu branco no ataque. A Joia de Xerém que fizera boas jogadas na primeira etapa encontrava-se distante, alheia ao jogo. Nem corria, mas nem chutava. Diante de boa oportunidade, optou pelo mais difícil.

E veio Rhayner em lugar de um esgotado Thiago Neves: aplausos mais que merecidos para quem deu carinhos à bola enquanto esteve em campo. Mas o menino-querido da torcida trazia consigo o sangue que faltava. Endiabrado, fez dupla com Carlinhos – que continuou no segundo tempo a brindar os amantes do futebol com belíssima exibição – e levou os equatorianos a conhecer o desespero. Encarnado era a cor que faltava e veio nas duas vezes em que não houve solução para o adversário senão a violência.

Com dois jogadores a mais, o sangue que fervia acalmou-se. Fred poderia sentar-se no banco, o garoto Samuel protagonizaria o próximo ataque. E, de pé em pé, em jogada desenhada numa mesa de botão, Samuel e Rhayner envolvem a zaga e dão o prêmio ao melhor jogador da partida: Carlinhos balança as redes. Balança junto todo um estádio, Flu dois a zero. Bruno, vítima de batalha feroz, sai ferido para dar lugar a Diguinho. A lateral ganhou mais constância com Jean marcando implacavelmente as investidas contrárias. O Flu, aquela altura, era inapelável.

O tempo corria e ainda foi tempo de correr alguns riscos. A equipe do Equador ainda levou algum perigo à área de Cavalieri. Nada que pudesse estragar a noite mágica das três cores. A esperança venceu todos os temores e reacendeu o sangue guerreiro. Estávamos em simbiose. Após o apito final, a marca que foi nossa tantas vezes: o time reuniu-se no centro do gramado e agradeceu à torcida. Enfim, voltamos a ser o que éramos. Em branco, verde e grená somos todos os onze em cada batalha. Time ou torcida, agora já não faz diferença: o grito de Nense vai ecoar por toda a América.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Gazeta do Povo

4 Comments

  1. Espero que o Abel acerte o time após essa parada de quinze dias e, mais do que isso, que o preparador físico faça com que os craques das noitadas corram. Se o Nem e o Tiago recuperarem a forma técnica acho que temos grandes chances de papar o título. Belo texto! Sds Tricolores…

    1. Obrigado, Fernando!

      Vamos confiar no Abelão, ele já provou que sabe como fazer um grupo e tirar dele o que ninguém espera!

    1. Obrigado, Andel! Já disse que é uma honra fazer parte de um time tão espetacular?

      Graaaaande fase essa!

Comments are closed.