É, está difícil. Infelizmente estamos perdendo uma oportunidade de ouro. O que poderia ser um projeto espetacular, vencedor, que nos colocaria definitivamente no cenário futebolístico como um time de classe mundial, reconhecido e respeitado internacionalmente parece ter se esgotado ou pelo menos pausado.

Ganhamos dois títulos brasileiros em três anos e vimos participando da Libertadores nos últimos anos. Uma bela chance de consolidar a nossa imagem de clube vencedor e conquistar admiradores mundo afora, ou, pelo menos, a curiosidade internacional.

Tínhamos tudo, e talvez ainda tenhamos, mas aos poucos estamos perdendo essa grande oportunidade por conta de políticas e decisões erradas, pelo que me parece, cujos reflexos costumam acontecer mais adiante, muitas vezes sem que se perceba ou anteveja. É a tal história do sapo sendo cozido em panela de água que esquenta aos poucos. Como o anuro não se dá conta do aumento da temperatura, permanece imóvel, desatento. Quando tenta reagir já era, está cozido.

A idéia de ter um técnico de longa duração, que pudesse dar um padrão moderno de qualidade ao Fluminense se esvaiu. O estabelecimento de um plantel de alto valor técnico, que pudesse levar o clube a seguidas conquistas não progrediu e o Flu, diante das dificuldades financeiras que sobre ele se abateram, dá os primeiros sinais de crise. A descida da ladeira pode ter apenas começado e se os boatos da venda do Fred se transformarem em uma realidade, aí então a coisa poderá se degradar de vez.

Estamos vendendo nossos craques e desfazendo o elenco sem reposições adequadas. Acabamos de perder um técnico cobiçado sem termos uma alternativa de boa qualidade disponível no mercado. Não estou aqui discutindo se o Abel deveria ou não ficar, mas de um projeto de longo prazo, que não está mais dando certo por erros também da diretoria do clube.

Não sei qual será o futuro do Fluminense neste brasileirão, não sou pitonisa, mas, assim como os versos do Alceu Valença, os sinais de perigo já se escutam, não ao longe como sinos na colina, mas ao pé do ouvido, sussurrando. O descontentamento da torcida reflete o emocional do time e a sua aparente incapacidade de reverter os resultados. Estamos vendo aqui mesmo no Panorama Tricolor demonstrações de leitores insatisfeitos com tudo, até com o que se escreve aqui, sinais de desespero. O tal complexo de vira-latas parece que toma corpo nas horas difíceis, traz lembranças de traumas passados e revela a fragilidade do nosso otimismo. Tudo muito natural e compreensível.

Não acho que a saída do Abel seja a solução para o time, que está visivelmente desmotivado e sem confiança. A expulsão do Fred contra o Vasco parece concretizar o estado emocional do time: nervoso e insensato. Faltou e continua faltando liderança dentro e fora de campo. Time sem comando, com salários atrasados e sem perspectivas acaba se dissolvendo.

O Flu ainda tem tempo para se recuperar na competição. Tem time para brigar do meio da tabela pra cima, mas precisa urgentemente mudar de atitude. E o exemplo deve vir da diretoria e do patrocinador.

A torcida quer um time de guerreiros, mas como exigir isso dos atletas se não há comando? Nenhum grupo de trabalhadores consegue sustentar resultados se as condições de trabalho não são favoráveis. Abel está sendo apenas o bode expiatório. Eu também não estava feliz com a forma de jogar do time e tinha a percepção de que o Abel teria que mudar ou ser mudado. Como ele não mudou, saiu. Mas resta a preocupação: quem o substituirá? Se não encontrarmos um técnico moderno, líder, motivador e respeitável estaremos atirando na água.

Espero que Deus ilumine nossos dirigentes para que acertem na escolha e que o próximo técnico ajude a tirar o Flu dessa tragédia anunciada.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri