Onde nos perdemos? (por Lennon Pereira)

Tenho parado para pensar no que se transformou o futebol de hoje em dia e me pergunto onde nós nos perdemos. Vejo torcedores do time X se referirem com ódio do time Y, como se esses fossem seus inimigos pessoais, ou como se o clube adversário fosse algo criado exclusivamente para afronta-los.

A rivalidade entre Cruzeiro e Atletico-MG, Corinthians e Palmeiras, Bahia e Vitória, Fla x Flu, Gremio e Inter entre outros, vem tomando proporções exageradas e exorbitantes. Não sou assim tão idoso, tenho apenas quatro décadas de vida e me lembro bem, de muitas vezes ir ao Maracanã na arquibancada do meio, ou nas cadeiras azuis com amigos flamenguistas, vascaínos e botafoguenses, assistir clássicos em paz, e sair feliz ou triste, mas sem ver nos olhos dos torcedores aquele ódio exacerbado do adversário, vejam que usei adversário e não oponente ou inimigo.

Essa questão me leva a reflexões mais profundas. Futebol é um esporte, uma disputa que deveria ser saudável e um momento de lazer. Ganhar e perder faz parte do jogo e é impensável para uma pessoa com raciocínio normal que o time A, ou B vá vencer todos os jogos e todos os campeonatos que disputar. É uma questão de sensatez.

Acredito eu que esse comportamento dos torcedores é um reflexo de um mal maior, reflexo de uma sociedade doente, em franco processo de decomposição.

Os valores estão perdidos, ou se perdendo. A educação é um lixo, a cultura está abandonada, a ética enxovalhada pela classe política, o respeito ao próximo cada vez mais em desuso. A televisão aberta invade nossas casas com o que há de pior em sua programação e a mídia massifica a mensagem de que todos tem que ter o objeto de desejo do momento.

Parafraseando o grande escritor Fernando Pessoa, “Consumir é preciso, pensar não é preciso”.

Convido meus amigos leitores e colegas de crônicas a vir comigo nessa reflexão, e quem sabe começarmos aqui um movimento de resgate da dignidade nos estádios, das torcidas e quem sabe ser um primeiro passo para a recuperação da dignidade do ser humano e da sociedade.

Não podemos mudar o mundo sozinhos, mas podemos dar exemplo em nossas atitudes. Temos em comum o amor pelo Fluminense, e o Fluminense tem em sua natureza e sua história, a vocação da grandeza, da inovação, do amor, da fidalguia, o branco da Paz e da Harmonia.quem sabe pode o Fluminense ser o ponto de partida de uma nova era? Se não na sociedade, ao menos na forma de torcer pelo futebol.

Se houver uma reflexão, já estaremos dando o primeiro passo.

Saudações Tricolores! Até breve.

Lennon Pereira

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

5 Comments

  1. Lennon, comungamos desse protesto à intolerância, os torcedores tem que entender que somos iguais em nossa diferenças, em nossos anseios, em nossas carências, em nossas possibilidades e limitações, e não são bandeiras, escudos ou uniformes diferentes que nos tornarão seres diferentes, o que fica são as ideias, os pensamentos e os gestos, em suma o que somos, e não o que temos. STT, Waldir e Waléria Barbosa

  2. Caro Lennon, só para botar mais lenha nesta reflexão : na década de 70 , minha mãe e minha avó me levavam ao maraca já que minha avó morava na Tijuca e ir ao maraca era só mais um passeio para ela. Acredite se quiser…

  3. Bons tempos aqueles. Meu pai, um flamenguista convicto, mas não fanático, me levava para assistir os Fla x Flus (acho que papai entendia que esse era o jogo que resumia todo o espírito esportivo: a massa e a elite, convivendo pacificamente, num belo espetáculo de cores) , na torcida organizada do Flamengo é claro, e eu, mesmo sendo tricolor desde 1000 anos antes do paraiso, admirirava a charanga animada do Jaime de Carvalho, mas nunca fui hostilizado quando comemorava o gol tricolor.Os adultos entendiam o sentimento infantil e respeitavam o comportamento democrático de meu pai rubronegro.O povo perdeu a aducação e deu lugar à intolrãncia ao diferente.

  4. É isso aí Rosa, as relações interpessoais estão cada vez mais degradadas…

  5. Tenho 58 anos, Vou ao Maracanã desde a época de criança, minha família é Tricolor , era uma ótima época. Hj em dia falo com minha filha que sou da época que não existia esse inferno de torcidas organizadas. Todo mundo torcia junto. Era maravilhoso. Continuo indo aos jogos com minha filha e meu neto, e claro torcendo para o fluminense. Mas nunca será a mesma coisa.

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