Onde está o carisma? (por Paulo-Roberto Andel)

ANDEL RED NEW

Um dos princípios elementares do Fluminense anda em falta. Outrora eternizado em heróis do gramado, valorosos treinadores, grandes dirigentes e torcedores especiais, o carisma anda desaparecido das prateleiras tricolores. Mau sinal.

Não tem jeito para os simples mortais: ou se nasce com ele ou se espera a próxima reencarnação, se reencarnação houver. É que nem o charme.

Ah, o carisma.

Totalmente alheio a declarações estapafúrdias, falácias eleitoreiras, obreiros da politicagem, papagaios de pirata, patrulheiros da opinião alheia, haters chinfrins, matérias encomendadas, imagens com subcelebridades duvidosas, edições da história, oposições e situações de ocasião, candidatos a subsubsubsubpopulares, “formadôris de openião”, rabugentos situacionistas de plantão, campeões de “odiência” e, claro, caçadores de emprego sem muito trabalho, a começar pelos que não querem largar o osso.

O que dizer deste verdadeiro sambódromo do ódio perpetrado nas redes sociais tricolores, por quem nele vê o grande terreno para a manutenção do status quo?

O carisma não está nas desculpas de bola na trave, do gramado, do calendário, das gestões anteriores, do regulamento, dos secadores tricolores, das dívidas, da antiga investidora, do ex-patrocinador caloteiro, da velha camisa, da torcida que não veio.

Dinheiro não compra carisma; nem fotos, nem currículos o compram. Panfleteiros não conseguem um punhado de carisma. Aquilo que você não sabe explicar com palavas, mas que se reconhece no outro. Tudo que está ausente no campo, no corpo, em trechos de arquibancada e outros arredores há muito tempo, mas que não reparamos ou fingimos não ter notado.

O Fluminense perde e ganha, sobe ladeiras, desce ao subsolo, vai à cobertura, apanha do esforço inusitado da boquirrotagem, mas vive por aí. Perdeu ontem, mas podia ter sido tudo muito diferente. Um detalhe aqui, outro acolá. Precisa melhorar muito para alcançar os padrões de altíssimo respeito que, um dia, lhe foram corriqueiros.

Este clube precisa se reencontrar com seu carisma e vivenciá-lo. A torcida precisa muito disso. E pobre, pobre demais daquele que se julga mais importante do que realmente é.

Eu poderia lamuriar sobre gols perdidos, erros de arbitragem, faltas não marcadas. Louvar os incríveis erros administrativos em troca de uns trocados, agrados ou pequenos favores fúteis. Ficar latindo raivosamente contra todos os atos, julgando, condenando e dizendo que tudo está errado. Mas prefiro procurar pelo carisma, esse precioso bem que um dia pareceu uma tatuagem do Fluminense, e cuja falta leva a um bolo chocho e sem gosto vendido como o último pavê de bombom.

O carisma é para poucos. Não há retuíte ou láique que o compre.

É para muito poucos.

Nenhum deles, fake.

O carisma é o amor, é a sinceridade, é a dedicação e o trabalho de quem realmente vê o Fluminense como um objeto de paixão, não como uma simplória oportunidade pessoal. Logo, longe de quase tudo o que aí está, em mais de um lado para não dizer quase todos.

Que ninguém se iluda: a derrota para o Botafogo na Ilha foi uma gota neste oceano descrito acima. E se fosse uma vitória, seria tão gota quanto.

Estamos muito distantes do que já fomos um dia, em estampa, finesse e caráter coletivo. Aí está o grande fracasso, que explica muito do campo e dos arredores. Mas vai passar, tal como ensinou um poema de Chico Buarque.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

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