Off Brazil (por Jorge Dantas)

Portal del Sol-3
UM POUCO DA REALIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO VISTO DE FORA

Acabei de chegar de uma viagem pela Europa, onde dediquei uma parte do tempo para visitar alguns estádios e conversar um pouco com a gente local sobre futebol, coisa que nunca havia feito em viagens anteriores.

Estive em Wembley, mas não cheguei a entrar no estádio, que estava fechado no dia da minha visita.

Contudo, conversei com alguns torcedores e estive nas lojas do Manchester United, do Chelsea, do Liverpool e do Arsenal.

É fácil notar que os ingleses são apaixonados por futebol e dedicam uma boa parte de seu tempo e orçamento com o esporte bretão. As lojas faturam alto e têm todo tipo de objetos com a marca do clube: camisas, cachecóis, canecas, canetas, gorros, luvas, agasalhos, bonecos mascotes, bandeiras, livros, fotos e muito mais do que se pode imaginar. Os clubes ganham muito dinheiro com a renda que vem dos associados, em geral dezenas de milhares, com as arrecadações dos jogos (os ingressos são vendidos para toda a temporada e os jogos são sempre lotados), com a exposição na mídia e com polpudos patrocínios. Os torcedores parecem ser muito mais fanáticos que nós e comemoram com muito entusiasmo as vitórias e conquistas dos clubes nas ruas e bares das cidades. A organização dos negócios dos clubes é evidente e não escutei falarem em dívidas com governo ou de outro tipo. Futebol é um negócio muito bem sucedido e lucrativo por lá.

Impressão semelhante tive na Espanha e em Portugal. Em Barcelona visitei o Camp Nou e fiquei impressionado com a organização do estádio e com o circuito de visita, tudo limpo, bem decorado e com atendentes de primeira, jovens bem apessoados falando inglês, espanhol (naturalmente), italiano e português, pelo menos. A todo instante o visitante é tentado a consumir, sejam produtos do clube ou fotos virtuais com seus ídolos. Na sala de imprensa é possível tirar fotos com uma réplica da taça da Liga dos Campeões. Depois o visitante é levado a passar pela lojinha do clube, onde sempre deixa alguns euros pra trás. As exposições das taças e troféus que o Barcelona conquistou em todos os esportes que pratica impressionam. Fotos de times antigos e atuais, de atletas, vídeos de gols, exemplares de chuteiras, camisas e bolas antigas, tudo deixa o visitante boquiaberto. Alguns setores da exposição são interativos e o visitante pode escolher vídeos, entrevistas, manchetes, etc. É um show!

Em Madri visitei o Santiago Bernabéu e, do mesmo modo que no Camp Nou, pude constatar a organização e a profusão de troféus expostos. A diferença para mim é que o Real de Madri tem uma história mais forte, tem mais ídolos e mais conquistas. Di Stéfano é uma lenda cultuada com muito orgulho pelos merengues.

Durante a minha estada em Madri aconteceu o jogo do real contra o Borussia, da Alemanha. As ruas da cidade estavam repletas de torcedores alemães com suas camisas amarelas e pretas, bebendo todo o estoque de cerveja dos bares. Cantavam e faziam barulho, porém de forma ordeira. Os alemães trouxeram um caminhão-loja com as cores do clube e vendiam camisas e tudo mais do Borussia. Fiquei impressionado de ver como são fanáticos e organizados. Nunca vi nada sequer parecido no Brasil.

Já em Lisboa visitei o Estádio da Luz, sede do Benfica. Tudo muito semelhante ao que vi na Espanha, lojas do clube cheias de gente comprando, estádio cheio de visitantes e muito fanatismo e participação dos torcedores.

Um detalhe: em todos esses lugares as pessoas falam fluentemente outros idiomas, em especial o inglês.

Uma outra coisa que notei é que os europeus em geral não se interessam pelo futebol da América do Sul. Poucos conhecem nossos times e os que veem jogos eventualmente criticam a qualidade dos estádios e a pouca presença de público nos jogos. Os europeus não conhecem nossos times como conhecemos os deles.

Diante do que vi e ouvi concluo que estamos muito atrás dos europeus quando se fala em organização do futebol. É até difícil imaginar como, com toda a nossa desorganização e inabilidade para divulgar e faturar com as marcas dos clubes brasileiros, conseguimos ser cinco vezes campeões do mundo. Talvez o talento individual dos nossos jogadores tenha feito a diferença e compensado as improvisações e a falta de visão dos nossos dirigentes. É uma curiosa e triste realidade.

Comparando o que vi com os movimentos dos nossos clubes e percebo que somos muito tímidos quando se trata de usar a mídia e a organização para divulgar nosso futebol e conquistar o torcedor. Uma pena ver tanto desperdício, falta de visão e de capacidade de gerenciamento. Nossos clubes não sabem ganhar dinheiro e o amadorismo dos nossos cartolas assusta. Temos muito que caminhar para sermos excelentes. Ainda vivemos no século passado, sem estrutura, sem visão e sem planejamento de qualidade. Há muito que trabalhar para modificar esse cenário.

UM TÍTULO FÁCIL PERDIDO

Triste saber lá na Europa que o Flu perdeu o título para o Botafogo. Poderíamos ter recuperado a hegemonia carioca, mas infelizmente ainda não tivemos nosso time completo este ano.

E A LIBERTADORES?

Vi o vídeo do jogo contra o Emelec e fiquei mais preocupado ainda. O time jogou sem confiança, errou muitos passes, deu espaço para o adversário e quase levou um gol de empate que poderia ter eliminado o time da competição. A chave é boa para o Flu, mas o time tem que fazer a sua parte. Do jeito que está jogando não está assustando ninguém. Vamos ver.

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

6 Comments

  1. “Uma outra coisa que notei é que os europeus em geral não se interessam pelo futebol da América do Sul. Poucos conhecem nossos times e os que veem jogos eventualmente criticam a qualidade dos estádios e a pouca presença de público nos jogos. Os europeus não conhecem nossos times como conhecemos os deles.”

    É por essas e outras que vemos os europeus entrendo em campo com comportamento apático e blasé no Mundial de Clubes FIFA…pra eles,o grande triunfo já aconteceu antes,a UEFA Champions League.O mundo da bola é europeu,no entendimento deles,jogar o mundial é mera formalidade para alguns(já houve caso de time que abriu mão de ir jogar no Japão,nos anos 1980 e mandou em seu lugar o vice europeu).Infelizmente,nossa bagunça administrativa e política ainda nos põe como ilustres desconhecidos no velho mundo.
    Parabéns pelo post!!

    1. Traz a tona o velho complexo de vira-latas, que os europeus nos rotularam e que, pior, aceitamos e entronizamos isso como uma verdade que nos condena a uma situação de inferioridade em tudo, inclusive no futebol, apesar dos cinco títulos mundiais.

  2. Rods comenta:

    Jorge, o que se vê na Europa é realmente de outro mundo. Temos muito, mas muito o que aprender. Eles exploram suas marcas de forma a deixar todos felizes. Vc percebe como os torcedores usam seus euros (ou libras) sem dor. No Brasil tudo é 90% amador.

    Quanto ao Flu, pode ficar mais confiante. Me sentimento é que agora deu liga!

    ST!

    1. A ignorância mascara a incompetência. Acho que o Fluminense poderia ter um conselho de torcedores para discutir ideias, apenas, não projetos, que seriam feitos pelo clube na medida das suas possibilidades. Mas, a criação de um comitê de inovação é fundamental para que o clube rompa a barreira do obscurantismo. Tem muita coisa que poderia ser feita com patrocínios ou pouco investimento, mas com exectativa de lucro vigorosa. O problema é que pensam as mesmas coisas de sempre e aí não se criam inovações radicais, só incrementam ideias velhas, óbvias. Eu gostaria muito de participar de um forum desses. Que tal a ideia?

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