Odair Hellmann e o freio de mão (por Marcelo Savioli)

PODCAST DO PANORAMA: CLIQUE AQUI.

Amigos, amigas, primeiramente devemos fazer uma pequena imersão histórica. Em fevereiro do ano passado, no mesmo Maracanã de ontem, pela primeira fase da mesma Sul-Americana, o Fluminense empatou em 0 a 0 com o Antofagasta, clube chileno, assim como o La Calera.

O desfecho do confronto, como todos sabem, foi uma mais que previsível vitória do Fluminense no Chile, que nos rendeu a classificação para a segunda fase. Na ocasião, após o empate no Maracanã, afirmei aqui que seria uma enorme zebra se o Fluminense não se classificasse no Chile.

A razão era pura e simplesmente o fato de que o Fluminense, já no começo de 2019, tinha um modelo de jogo bem claro e definido. Claro que, como ontem, esbarramos numa quase intransponível barreira defensiva, mas era evidente que o Antofagasta não repetiria uma formação tão recuada dentro de seus domínios.

O mesmo espero do Unión La Calera no próximo dia 18. Um time que se limitou a dar um único chute a gol durante 90 minutos e que é bem inferior ao Fluminense. Só que o Fluminense atual tem um problema em relação ao do ano passado. Temos um técnico que vem se repetindo no exercício de escalar mal a equipe.

Depois de seis partidas na temporada, não sabemos qual a verdadeira cara do Fluminense, exceto que Odair adora jogar com muitos volantes, que ele diz que não atuam como tal, pelo menos não todos.

As dificuldades que tivemos no primeiro tempo estavam anunciadas já na escalação. Odair repetiu o desenho tático do primeiro tempo do Fla-Flu, se é que se pode chamar aquilo de desenho tático. Hudson e Henrique fazendo a ligação, Yago mais avançado pela direita e Matheus Alessandro jogando aberto pela esquerda, enquanto Nenê e Miguel flutuavam entre a esquerda e o meio, sem que houvesse um homem encarregado de entrar na área.

Eu acho que, se alguém cronometrou, mais da metade do primeiro tempo deve ter transcorrido com a bola sendo disputada em uns 50 metros de campo, sempre ali no lado esquerdo de nosso ataque. Por que? Porque o desenho tático do Fluminense era torto, assim como no primeiro tempo do Fla-Flu, em que também não criáramos nada.

O que conseguimos foram duas ou três boas oportunidades na base do abafa, sem nenhuma jogada trabalhada que evoluísse até uma finalização satisfatória para o gol chileno.

Hudson e Henrique não imprimiam rapidez e intensidade à transição. Os laterais pouco contribuíam com o jogo. Nenê e Miguel se emaranhavam num mar de pernas chilenas, enquanto Matheus Alessandro passou o primeiro tempo inteiro tentando, embalde, chegar à linha de fundo.

Uma substituição equivocada no intervalo já foi suficiente para melhorar a equipe. Odair colocou Marcos Paulo no lugar de Yago, quando o substituído deveria ter sido Hudson, que errava passes sucessivamente. Aliás, acho que Hudson conseguiu nos enganar bem no começo, mas está longe de ser um bom homem de ligação. Tanto que Diniz queria adaptá-lo como zagueiro no São Paulo.

O jogo do Fluminense começou a fluir e surgiu a primeira jogada trabalhada, com Nenê deixando Miguel na cara do gol. Miguelzinho, que está sendo queimado sistematicamente pelas escalações de Odair, colocou azeitona na empada do “azar” e deu um peteleco em cima do goleiro.

Então, Odair colocou em campo o centroavante, o finalizador. Entrou Evanilson, saiu Matheus Alessandro. Não demorou e Marcos Paulo deixou o atacante na cara do goleiro. Evanilson não perdoou, mas logo depois o La Calera empatou com um belo tiro de fora da área, no único ataque chileno no jogo.

Mais uma vez, Odair fez a substituição errada, tirando Miguel para a entrada de Araujo, quando deveria ter tirado um dos volantes. O La Calera ainda ficou com menos um, mas nós não conseguimos aumentar nossa capacidade ofensiva e pouco criamos.

Apesar de todos os erros, é possível que tenhamos uma jornada até tranquila no Chile, mas é preciso que Odair encontre um time titular, um esquema tático produtivo e uma forma de jogar.

Eu vejo o Fluminense atuando no domingo, contra o Botafogo, já em regime de experiência para um time definitivo, com: Muriel (Marcos Felipe); Ygor Julião, Matheus Ferraz, Lucas Claro e Egídio (era para ser o Mascarenhas); Dodi e Yago; Nenê, Miguel, Marcos Paulo e Evanilson.

Em resumo, uma formação no 4-2-4, com os laterais jogando mais presos e os dois volantes mais soltos, para fazerem uma transição mais ágil e menos burocrática. Por isso, Yago e Dodi, que são jogadores que têm essa característica. Na frente, um quadrado ofensivo, com muita movimentação e troca de posições, com Miguel, Marcos Paulo e Nenê tendo a função de fazer a aproximação com volantes e laterais para envolver a marcação adversária.

Eu tenho certeza que o técnico, por estar no dia a dia do clube, vê coisas que nós não vemos. A explicação dada por Odair para não escalar Marcos Paulo e Evanilson desde o princípio faz todo sentido. Os jogadores não aguentariam o ritmo depois de apenas alguns treinos.

Só que há algumas coisas que só o técnico vê e que não dão certo. Coisas como a escalação de Felippe Cardoso no jogo com o Boavista. Coisas como repetir o ataque torto e uma dupla de volantes sem jogo de cintura para fazer uma transição de qualidade.

Por coerência, o mínimo que Odair poderia ter feito seria ter formado a dupla de volantes com Yago e (Henrique ou Hudson), escalando Lucas Barcelos ou Matheus Pato, que são atacantes de centro, para dar opções de passe à frente a Miguel e Nenê, descongestionando o lado esquerdo do nosso ataque, por onde atuava Matheus Alessandro, que poderia até ter maior liberdade de se movimentar.

Então, eu não vejo tanta dificuldade para formar um time titular competitivo, mas nosso treinador parece daqueles que gosta de jogar com o freio de mão puxado no primeiro tempo, mais pensando em evitar sofrer gols do que em fazê-los. Essa é a receita para matar a torcida de tédio, perder engajamento e criar na equipe uma mentalidade medíocre.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

1 Comments

  1. Esse time empolga muito menos do que o do ano passado, mesmo com peças melhores. Além disso, entristece ver o jogo do Flamengo, por exemplo, com tanta intensidade, principalmente nos 15′ dos tempos, e o nosso lento, morto, jogando no erro do adversário. Parece que estamos indo na contramão de todo o bom senso. O que é uma pena, pois, como disse, esse ano temos peças melhores.

    OBS.: Dar liberdade ao Matheus Alessandro talvez seja justamente o devia ser evitado. O menino não faz a menor ideia…

Comments are closed.