Odair deu um nó cego no time do Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, dizer que a vitória da noite de ontem foi enganadora é uma redundância desnecessária. Não há um único torcedor do Fluminense que pense diferente disso. O difícil é fazer uma análise mais qualificada do momento atual, porque Odair deu um nó cego no time do Fluminense.

Vamos tentar fazer uma análise a partir do jogo de ontem. Odair escalou o time do Fluminense sem alterações táticas significativas. Temos um time que, em tese, atua no 4-2-4, que tenta se recompor no 4-4-2 e faz a transição ofensiva no 3-3-3-1, evoluindo, numa fase mais aguda para um 2-2-3-3.

Vamos tentar explicar essa confusão analisando a partida contra o Moto Clube. Sofremos dois gols logo de cara porque a recomposição não funcionou no 4-2-4. O jogo foi feito nas costas de Gilberto e vejam os amigos que o Fluminense sequer sofreu, em ambas as ocasiões, um contragolpe.

A ideia de Odair parece ser jogar com duas duplas de lado de campo. No jogo de ontem, começou, de um lado, com Gilberto e Pacheco, de outro, com Egídio e Wellington. O atacante recua na fase defensiva e o lateral avança na fase ofensiva.

Funcionou na partida contra  o Botafogo, quando fizemos duas transições mortais pela direita e encontramos o terceiro gol em jogada de Marcos Paulo e Egídio pela esquerda. Não sem que houvéssemos levado um sufoco danado nos primeiros quatro minutos, com direito a uma bola no travessão.

Aqui entra a nossa saída de bola. É possível fazer a saída com a bola no chão com Digão e Nino? Sim. É possível, pois foi feito o ano passado. O problema da nossa saída de bola não está exatamente no zagueiro, mas na dupla de volantes e no posicionamento adiantado dos laterais.

Para sair a bola daquela forma o Fluminense tinha em Rodolfo um excelente passador, que participava ativamente da troca de passes, que não é o caso de Muriel.  Aliás, hora de compartilhar com vocês uma primeira constatação. Marcos Felipe é melhor que Muriel em tudo, inclusive nessa saída de bola, o que não é suficiente para torná-la viável.

O que a tornava viável em 2019 era o fato de termos dois volantes leves, ágeis e extremamente habilidosos: Alan e Daniel. Se Henrique, que vem fazendo o papel de volante que afunda entre os zagueiros, não tem as mesmas características de Alan, ao contrário, é bem burocrata, Yuri não tem o menor cacoete para fazer a mesma função de Daniel.

Só que o Fluminense, em seu melhor momento com esse esquema, tinha Alan, Daniel e Ganso para fazer a transição por dentro. Hoje, nós temos Henrique e Yuri. Além de perda espetacular na qualidade, ainda perdemos em quantidade. Quem vem fazer o apoio é Nenê, que, embora tenha qualidades, carece até de características para isso.

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O pior de tudo, no entanto, é que Nenê precisa buscar a bola onde  ela sempre vai parar, que é nos pés dos laterais. Com isso, amigas, amigos, a bola vai parar novamente nos volantes, porque não há com quem jogar pelo meio, ou avançamos pelos flancos, mas acabamos bloqueados.

Lembro da partida contra o La Calera, no Maracanã, em que o jogo transcorreu durante quase todo o primeiro tempo em um pequeno espaço do campo, pelo lado esquerdo, parecendo mais uma pelada de final de semana, sem que o Fluminense encontrasse o caminho do gol.

O pior de tudo é quando o adversário marca pressão na nossa saída de bola. Só há dois desfechos possíveis. Ou somos desarmados, ou somos obrigado a dar chutões.

É que o time do Fluminense está montado para atuar de forma reativa  e não propositiva. É claro que isso é um problema incontornável quando atuamos com adversários mais fechados e com o mínimo de qualidade, caso do La Calera. O adversário se tranca e nós não temos recursos para para criar situações de gol. Sobra-nos a opção dos lançamentos para a área, o que talvez justifique tamanha volúpia de nossos dirigentes pela contratação de Fred.

Teríamos o Fluminense atuando, enfim, no esquema da Idade da Pedra Lascada do futebol. Se essa é a ideia, caminhamos para uma catástrofe, talvez fadados a assistir em campo à exibição de um time com Digão, Henrique, Ganso, Nenê e Fred. Quase um time de showball.

A ideia de jogar com três atacantes e Nenê sugere aquela ideia antiga de fazer triangulações pelos lados até achar uma posição de cruzamento para a área, onde o centroavante tenta ganhar da zaga para cabecear. A princípio, é para isso que estamos caminhando com a ideia de Odair.

A verdade é que essa forma de jogar está matando Evanilson, que é obrigado a jogar centralizado, matando a mobilidade, que é sua melhor característica. Sem contar que a bola não chega, porque a ideia de jogo é muito ruim.

Então, temos o que aconteceu na noite de ontem. Primeiro, um pênalti, em que o defensor foi desastrado, cometendo a falta em um lance em que o goleiro estava na bola. Nenê, que sofreu o pênalti, cobrou com categoria.

Fomos para o intervalo com a desvantagem de 2 a 1, mas com o Moto Clube batendo cabeça em todas as fases do jogo, completamente acuado. Ao longo da segunda etapa, os maranhenses ainda colocariam a língua para fora, abrindo o caminho para os gols tricolores.

A saída de Yuri para a entrada de Ganso teve o cuidado de não mudar o esquema de jogo, mas melhorou a qualidade do meio de campo, sobretudo quando entrou Marcos Paulo no lugar de Pacheco, que não acertou rigorosamente nada em campo. Passamos a ter maior qualidade na fase ofensiva e Ganso foi malandro suficiente para receber uma falta na entrada da área. Nenê, mais uma vez, fez cobrança magistral. Reparem os amigos que foram dois gols de bola parada.

E o terceiro surgiu de um cruzamento de Nenê, o destaque da partida. Para concluir, uma jogada individual de Marcos Paulo. Quase nenhuma criação coletiva.

Reparem os amigos, então, que terminamos o jogo com Henrique, Ganso e Nenê fazendo o meio de campo. Alguém acredita que Odair encontrou a solução com um meio de campo de mais de 100 anos de idade. Aliás, ainda entrou o Yago no final, o que não quer dizer muita coisa.

Eu não acredito, realmente, que Odair mudará sua ideia de jogo reativa. Além disso, apoia-se totalmente em Nenê. Evanilson, com o time atuando dessa forma, será fritado, como foi Miguel, até a chegada de Fred como salvador da pátria, para atuar com o mesmo conforto que Henrique e Nenê, deixando o Fluminense sem conexão, presa fácil para qualquer Boavista da vida.

Infelizmente, amigos, amigas, eu posso até mostrar caminhos óbvios, que tornariam o Fluminense um adversário temível, mas esses caminhos não serão seguidos. O próprio fato de Miguel sequer ter sido relacionado para o jogo de ontem é um sintoma inquestionável de que há uma política mesquinha por trás do que estamos vendo em campo.

A impressão que se tem é de que Odair monta esquema para encaixar alguns jogadores, inclusive Wellington Silva, e não para vencer partidas. Portanto, não sei se cabe aqui pedir a demissão do técnico. O caso do Fluminense é muito mais grave. É problema de mentalidade, de política, de prioridades e de (falta de) projeto.

Não sei se vocês ouviram falar sobre a demissão de Cristóvão Borges no Atlético GO. Com 66% de aproveitamento e o time voando em campo, vindo de vitória de 3 a 0 sobre o Goiás, classificação na primeira fase da Copa do Brasil e duas goleadas, foi demitido, segundo a diretoria, por incompatibilidade com a orientação do clube, ou  algo assim.

Em 2019, o mesmo Atlético GO demitiu um treinador que vinha de oito vitórias e o havia colocado no G-4 da Série B. O time terminou o ano obtendo a vaga na Série A graças a uma inimaginável derrota, em casa, do América MG na última rodada.

Eu falo do caso por duas razões. A primeira é que se eu sou presidente do Fluminense já teria ligado para o Cristóvão. Com uma semana de treino ele coloca esse time para voar em campo. A segunda razão é que eu sei que isso não vai acontecer, porque Cristóvão é o tipo de treinador que não aceita interferência externa em seu trabalho. Parece que esqueceram de avisar isso aos dirigentes do Dragão do Centro Oeste.

Portanto, amigos, amigas, apertem os cintos e percam a esperança. O Fluminense não está sendo reconstruído e não tem uma nova mentalidade. Quem pensa em reconstruir o Fluminense, em gestão séria, governança, transparência, investimento, reestruturação, profissionalização e futebol competitivo não que ver Laranjeiras nem pintada.

Flumminense - Football tactics and formations

Porém, para não ficar só na cornetagem, vamos tentar destravar esse time.

Em primeiro lugar, vocês já devem ter observado que atuaremos com três zagueiros. Acredito que Hudson, por ser mais incisivo e intenso, comporia bem o trio defensivo. Com Ferraz, Nino e Hudson, teríamos uma defesa protegida e, acredito, boa saída de bola.

O que permitiria que tivéssemos Ganso fazendo dupla com Yago no meio de campo, atuando como dupla de volantes. Com características diferentes, são homens que fazem transição e chegam na frente para assistir e finalizar.

Podem alguns estarem assustados com os dos homens que completam a linha central. Com proteção, Gilberto pode atuar mais avançado e dentro de sua melhor característica, que é ajudar na construção das jogadas.  Não é que Egídio não possa fazer esse papel de ala, mas acho que Wellington, por suas características, tem mais condições de contribuir na criação e ofensivamente, sem perda de qualidade na defesa.

Miguel seria o típico camisa 10, atuando por trás dos atacantes, com liberdade para se movimentar por toda a intermediária ofensiva em busca de espaço, apoiando o homem da bola e buscando os passes decisivos, que são seu ponto forte.

Reparem que, em tese, apenas troquei um atacante por um zagueiro, mas o time ficou mais ofensivo, simplesmente porque mudei a visão do papel dos volantes, que passam a ser os responsáveis pela transição e pela coordenação da equipe em todas as fases do jogo.

E o Nenê? Quem é observador sabe que nesse esquema a única posição para o Nenê seria a do Miguel. A questão é que  Miguel tem características que encorpam melhor o esquema. É mais ágil, rápido e habilidoso, além do que, não gosto da ideia de ter Ganso e Nenê no mesmo time.

Para concluir, com dois atacantes, Evanilson e Marcos Paulo poderão atuar da melhor forma que sabem, com espaço para movimentação e sem dar referência à zaga (tudo  que nós sabemos que o Odair não faria jamais).

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

#credibilidade

8 Comments

  1. Cristóvão foi um dos piores treinadores dos últimos tempos passados pelo Fluminense, teimoso,sem nenhuma visão de jogo,péssimas substituições. Quanto ao comentário, divirjo quanto a qualidade do Digão nessa saída de bola,pois quando o adversário sobe a marcação ele é tão ruim quanto o Muriel no passe.Ano passado este estilo de jogo tbm não deu certo,nosso ano foi desastroso.Nao que eu concorde com o estilo implantado pelo Odair,muito menos com suas escolhas,mas que é preciso mudança na forma de…

  2. Parei na sugestão de Cristóvão como técnico. Cristóvão é horrível! Técnico pra série B, não para um clube que precisa fazer as coisas melhor e diferente de quem tem mais dinheiro.

    ST

  3. Ainda ontem postei lá no blog terno e gravatinha sugerindo a contratação do Cristóvão pois eu gostaria muito de ver nosso FLUMINENSE jogando daquele jeito de 2014 com posse de bola e propondo o jogo o tempo todo. ST.

    1. Aquele time dava gosto de ver jogar. Não fosse a politicagem, teria sido campeão brasileiro.

      ST

  4. Seu comentário, como sempre, foi muito
    lúcido.Concordo com tudo que foi dito, inclusive com relação ao Cristovão, por quem
    torço que volte ao Flu. Porque depois de Fernando Diniz, foi com o Cristovão, na época
    em que o Fred estava fora, na seleção, é que
    eu vi o Flu botar na rôda a seleção da Itália.

    1. O problema com o Cristóvão é que nossa torcida tem memória curta e a cabeça feita. Não analisam o trabalho de Cristóvão, mas uma série de episódios que não tiveram sua interferência, como aquele vexame frente ao América RN, quando ainda brigávamos pela liderança do Brasileirão com o Cruzeiro.

      A questão toda é que há saída, mas encontrar a melhor saída para o clube não é prioridade em nada na atual gestão.

      ST

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