Obrigado por nos odiarem (por Pedro Machado)

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No final do ano passado, fiz uma viagem à Salvador para acompanhar minha Dudinha num concurso que ela foi realizar. Naquele final de semana, acontecia penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2013 e nós, após o empate com o Atlético Mineiro em casa, praticamente dávamos adeus à primeira divisão do futebol nacional.

A prova que ela realizou aconteceu no dia seguinte ao jogo do Flu, no domingo. Acordamos cedo, tomamos café da manhã no hotel e fomos para a recepção aguardar o seu táxi. Após embarcá-la, fui dar uma bela corrida pela orla de Salvador.  Ao final do dia, após o término da rodada, embarquei em outro táxi para buscá-la.

O Bahia tinha acabado de vencer seu jogo contra o Cruzeiro no Mineirão e, com isso, tinha afastado qualquer chance de rebaixamento. Por infelicidade, exatamente no percurso entre o hotel e o local de prova, acontecia um evento chamado “Caminhada do Samba”, que reunia modestos 10 trios elétricos.  Com isso, tive tempo de sobra para ouvir o programa esportivo que passava na rádio local.

Em um dado momento, eles começaram a dar pitacos sobre a última rodada do campeonato. Foi quando um matuto bradou: “O campeonato ainda não acabou para o Bahia. O trabalho só estará completo quando rebaixarmos o Fluminense. É obrigação do Bahia rebaixar este time que é uma vergonha para o nosso futebol.” Os outros comentaristas também engrossaram o discurso, mas lamentavam o fato de que a Globo não iria nos deixar cair.

Busquei a Duda na prova e fomos comer uma pizza. Na mesa ao lado, estavam sentados 2 rapazes, um torcedor do Vitória e outro do Bahia. Adivinhem o assunto? Ele mesmo, o gigante Fluminense. O teor da conversa era o mesmo dos comentaristas da rádio. Embora estivesse já livre do rebaixamento, o torcedor do Bahia dizia que não iria sossegar enquanto não nos rebaixasse. E o torcedor do Vitória, concordava e apoiava.

Algumas semanas depois, viajei novamente para apoiá-la em outra prova, desta vez em Campinas. O campeonato já tinha acabado, mas a polêmica da Flamenguesa estava no auge. O julgamento ainda não tinha acontecido.

Como de praxe, seguimos nosso ritual dominical. Acordamos, tomamos café e fomos para o local de prova. Após deixá-la,  fui dar uma corrida do Parque do Taquaral. Na volta, fui aproveitar um pouco a piscina do hotel. Adivinha qual era o assunto dos hóspedes? O gigante, novamente. E eles falavam com um ódio, com uma raiva no olhar, que tive até medo de ser agredido, já que estava devidamente fardado com o manto tricolor.

Estes dois breves episódios (que aconteceram antes do julgamento) traduzem bem o que é o Fluminense hoje no cenário nacional: o time mais odiado do Brasil.

Olha, eu não sei vocês, mas adoro este sentimento. Acho muito melhor nós sermos os odiados do que os coitadinhos. Eu morria de raiva quando, no final dos anos 90, as pessoas falavam: “Eu até gosto do Fluminense também, coitadinho.”

De certa forma, este ódio acaba sendo transformado em respeito pelos adversários. Imagino como devem estar ao verem nosso bom início de campeonato. “Meu Deus, lá vem o Fluminense de novo.” “Os caras quando chegam, é foda.” “Se deixar eles dispararem na liderança, não sei não hein…”

Dias desses, fiz um exercício mental pra tentar entender a razão de tanto ódio. Ficou engraçado:

2003 – Agora eles vão cair, pra pagar aquela série B que devem. Escaparam na última rodada, fica pra próxima…

2006 – Desta vez, vai. Ih, não foi…

2008 – Estão abalados com a perda da Libertadores, não tem jeito. Ah não, de novo?

2009 – 99% faltando dez rodadas? Vai ser desta vez. Ihhhh, rapaz… Guerreiroooos, time de guerreiros.

2013 – Vai cair, vai cair… Caiu. Hahahahahaha… Não, espera aí… Olha o André Santos… Nãããããããããooo!

Adversários, continuem nos odiando. Cada vez ficamos maiores e mais fortes.

Rumo ao penta. ST.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: google

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