O valor de Fred (por Felipe Fleury)

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Quando Fred renovou o seu contrato com o Fluminense – segundo consta por um valor inicial inferior ao que recebia, oitocentos mil mensais, com reajustes anuais progressivos até o patamar de novecentos e cinquenta mil reais em 2019, último ano de seu contrato – algumas vozes se levantaram para denunciar o que seria um péssimo negócio para o Flu e um ótimo para o jogador. Já em fim de carreira, segundo os críticos mais mordazes, e sem condições físicas de ser o atleta de outros tempos (neste ponto esquecem a sua recente artilharia na última versão do campeonato brasileiro e a que já se esboça neste estadual), esse novo contrato seria uma espécie de nababesca aposentadoria. Dinheiro fácil até o fim de sua carreira como jogador de futebol.

Não tenho uma bola de cristal para prever o quanto Fred renderá dentro de campo, se fará ou não jus a esse vultoso salário com a bola nos pés, ou mesmo se o Fluminense terá saúde financeira para pagá-lo.

Mais do que a discussão de valores, porém, o sim de Fred à proposta tricolor representou não somente o seu desejo de continuar no clube, mas, sobretudo, o seu aval, uma espécie de “eu acredito”, a um novo projeto que outros atletas rejeitaram. Acreditar nessa nova realidade financeira, sem o lastro do derrame de dinheiro proporcionado pela finada Unimed, e colaborar, com seu status de líder e ídolo, para que os novos e, certamente, árduos tempos sejam de esperança por um futuro melhor, foi uma demonstração inequívoca de fé de que muitos olvidavam. Sua decisão, provavelmente, influenciará outros jogadores a seguirem o mesmo caminho – Jean e Wagner, por exemplo – e mostrará a todos que o Fluminense está vivíssimo, em que pese toda a negatividade, intra e extramuros, que vivenciamos desde o rompimento com a ex-patrocinadora.

O aceite de Fred, assim, teve, num primeiro momento, um valor preponderantemente simbólico. Simbolismo que representa no âmago de seus companheiros, dos dirigentes e da torcida um fator psicológico importante para que a equipe acredite no seu potencial e lute por títulos, dirigentes esmerem-se por honrar os acordos firmados e torcedores acreditem num ano melhor do que os dois últimos.

Mas Frederico também é goleador – não nos esqueçamos disto –, duas vezes artilheiro do campeonato brasileiro, edições 2012 e 2014, e sétimo maior artilheiro da história do Flu, com a possibilidade real de alcançar a vice-artilharia nos quatro anos que lhe restam de contrato. Ser o vice de Waldo, com 319 gols, não é para qualquer um; e, se fizer mais 43, atingirá o feito, ultrapassando Orlando Pingo de Ouro. Escreverá seu nome no pedestal dos maiores ídolos da gloriosa história Tricolor.

E se alguém ainda consegue questionar o seu custo-benefício, deveria saber que o nosso goleador, mesmo fora das quatro linhas, pode trazer ótimo retorno financeiro para o Fluminense. A confirmação da sua permanência, por exemplo, foi suficiente, por si só, para antecipar a renovação do patrocínio da Frescatto por mais um ano, garantindo mais quatro milhões de reais para os cofres tricolores – oito milhões por dois anos de contrato. E eu não duvido de que o seu nome vinculado ao clube por mais quatro anos seja fundamental para que fato semelhante também possa ocorrer em relação ao contrato firmado com a Viton 44 e, ainda, para atrair novos investidores.

Fred, portanto, também faz dinheiro e, bem explorado por um marketing eficiente, pode fazer muito mais.

Escrevi há alguns dias sobre idolatria e subjetivismo. Aceitemos ou não, Frederico é ídolo. Se não o seu, o de milhares ao seu redor. Minha filha, de oito anos, é sua fã. Para ela, falar em Fluminense é falar em Fred. Uma colega, flamenguista, já foi até as Laranjeiras e obeteve um autógrafo e uma selfie com seu ídolo. E assim é por todo o Brasil. Dom Fredon arrasta atrás de si uma legião de fãs, tricolores ou não.

Esse potencial, contudo, pode e deve ser melhor explorado. Fred vale não apenas pelo que é, mas pelo que pode vir a ser. O seu nome, associado a qualquer ação de marketing, qualquer produto, pode se traduzir em expressivo retorno para o Fluminense, seja financeiro, ou de exposição de sua marca, o que, invariavelmente, também se traduz, no fim das contas, em dinheiro. Quando se pretende impulsionar o projeto de associação ao clube, poder-se-ia pensar numa forma mais efetiva de se utilizar o garoto propaganda da empreitada. Ações presenciais e frequentes com o artilheiro, por exemplo, poderiam tornar-se um chamariz eficaz para atrair mais sócios.

Quanto vale Fred, então? Muito para os seus fãs, pouco para os seus detratores. Afora as opiniões extremas justificadas pela paixão, Frederico representou, representa e ainda representará muito para o Fluminense; seja por suas participações em dois títulos nacionais, seja pelas artilharias, pela liderança e dedicação dentro de campo; seja também pelo crédito de confiança que deu ao novo Fluminense, pela sua capacidade de atrair investimentos ou pela sua condição de ídolo de miríades de torcedores, fator crucial para um marketing agressivo e rico em contrapartidas para o clube.

Falta, entretanto, ao Fluminense, um marketing à sua altura.

Raro, se muito, um atleta profissional que ame o seu clube no futebol moderno. Mas se houvesse algo próximo do que se pudesse ter por esse nobre sentimento, talvez esta seja a relação que vivem Frederico e Fluminense, entremeada de guerra e paz, gáudios e tristezas, como nos casamentos mais duradouros. O “fico” do artilheiro estabeleceu um liame definitivo de cumplicidade e respeito recíprocos que a história se encarregará de contar aos futuros torcedores como uma das relações mais longevas e gloriosas do Fluminense.

Muito já critiquei Fred e muito ainda o criticarei, por certo, mas isso não me impede de reconhecer nele o seu valor como um dos mais importantes atletas que já envergaram a camisa tricolor.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#SejasóciodoFlu

1 Comments

  1. Esse amor de Fred pelo Fluminense vai até a hora em que chegar uma boa proposta vinda de um país que ofereça uma boa qualidade de vida e um contrato longo. Ou será que todo mundo já esqueceu das intenções dele antes do fiasco do Brasil na Copa? Foi artilheiro do Brasileirão? Ok. Mas qual foi o custo disso pro resto do time, que teve que jogar pra ele? E os contra-ataques que ele estragou com sua falta de habilidade? Não é um lixo, mas o custo ainda é alto.

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