O Timinho voltou (por Walace Cestari)

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Não era questão de “se”, mas uma questão de “quando”. A certeza pairava no ar tanto quanto o pó de arroz que vinha das arquibancadas. Não havia um só tricolor em São Januário ontem que não compartilhasse da doce sensação da classificação. Estava escrito há dois séculos e meio: o Flu vai jogar as oitavas da Libertadores.

As condicionais e hipóteses foram deixadas no fundo dos armários. Vestidos de confiança, os tricolores de sempre, somados àqueles de ocasião, tomaram conta de, enfim, um estádio de futebol. Em que pese a localização, São Januário faz o ato de torcer ser mais verdadeiro que o gélido Engenhão.

O que importa se não jogamos o que podíamos? Só os idiotas da objetividade prendem-se aos detalhes sórdidos dos números em uma partida de futebol. Tínhamos o melhor dos números a nosso favor e ele estampou-se no placar. Se, ao final do primeiro tempo, havia a apreensão, essa atendia pelo nome de ansiedade, pois o gol sairia. Era questão de tempo. E saiu dos pés de um burocrático Rafael Sobis. A burocracia mostrou-se necessária para carimbarmos nossa vaga na próxima fase. Um gol bastava. E, mais uma vez, goleamos pelo placar mínimo.

Não fizemos grande partida. Longe disso. Os jornais de hoje devem estampar críticas ao time. Wagner não esteve bem. Gum apresentou-se inseguro. Nem não parecia o mesmo jogador. Ora, por que falar disso? Um dia pouco inspirado não muda o que é essa equipe: vencedora. Prefiro olhar através das lentes da virtude. Houve entrega. Houve luta. Do outro lado, houve uma equipe bem armada, disposta a atacar e que levou perigo algumas vezes a nossa meta.

Por isso, fico com a raça do menino Rhayner. Como corre o garoto! Não desiste jamais, briga, volta, puxa contra-ataques, dribla e quase sai premiado da noite de ontem com um golaço. Mas, parece que ainda falta algo para que faça, de vez, as pazes com as redes. Por enquanto, a trave lhe aplica travessuras. Mas, para que gols? Rhayner é a própria armadura dos guerreiros em campo de batalha. Faz pulsar o coração do time, traz a torcida para junto da luta e mostra o valor de cada gota de suor.

Se fomos atacados, como não lembrar de Cavalieri? Intransponível. Ergueu-se uma parede colossal em nossa meta. Os atacantes adversários pareciam não acreditar. Soa como se a história fizesse Berlim dividida em plena pequena área. Uma muralha irremovível, insuperável, de meter medo a qualquer conquistador que ousasse enfrentá-la. Terão os adversários experimentado a frustração de ter diante de si um obstáculo de tal envergadura. Como ser tão ágil? Tão elástico? Como pode ser humano?

E Felipe? O veterano que entra faltando quinze minutos e descortina um repertório de passes magistrais? Cria jogadas de sinuca deixando nossos atacantes frente ao gol do oponente. Virtuose. Um concerto digno das melhores orquestras, executado com o talento de pés traquejados. Pena que essas chances tenham sido desperdiçadas. Maduro e sereno. Senhor dos caminhos do gramado, o camisa 16 saiu mais uma vez ovacionado de São Januário. E com toda a justiça.

Que venha o Emelec. Pois é agora que começa, de fato, o campeonato. Não restemos receosos. Não devemos temer nada, nem ninguém. Deixemos a imprensa bajular seus favoritos, isto é bom. Já jogamos o fino em outras Libertadores, fomos os melhores em primeiras fases e tudo isso nos rendeu o  amargo encontro com a derrota. Queremos jogar bem? Não sei se precisamos. Escolho a pureza do suor vertido em muitas outras goleadas como essa. Um a zero. E nosso grito de campeão será ouvido por toda a América. O Timinho voltou.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: foxsports.com

5 Comments

  1. Tal de André Rizek dizendo que o Flu não o empolga! E o Kiko?

  2. Walace,

    Como nao concordar com voce quando a verdade eh irrefutavel, porem uma coisa que nao me sai da cabeca apos assitir ao jogo ontem, nao fui ao estadio porque trabalho em alto mar, portanto assiti pela tv, mas nem o Roger falou sobre isso ontem, se o Abel queria um homem no meio para ajudar ao Wagner na criacao de jogadas, porque nao entramos com Felipe desde o inicio, com Jean mais recuado no lugar do Edinho? Afinal Jean eh homem de marcacao ou nao eh? E com dois velocistas no suporte ao ataque com o apoio dos laterais nao tinhamos ninguem na area para cabecear, onde estavam Samuel e Michael? Gostei da vitoria ontem, mas ja nao agueto mais sofrer desnecessariamente nos jogos do meu Flusao.

    1. Não tenho certeza de que se o Felipe tivesse jogado desde o início as coisas seriam tão diferentes. Ele já não tem mais a idade para impor correria e parece que Abel queria algo assim. Para pôr o Felipe, abriríamos mão de um de nossos três atacantes.

      Fato é que Wagner não fez boa partida e Jean andou meio apagado, mas acho que podem compor bem esse meio campo em uma proposta de 4-3-3. Ao optar por Felipe, o poder de marcação diminui e ainda perdemos um velocista lá na frente. Entrando no meio do jogo o Felipe tem mais condições de desequilibrar, como faria ontem, se não fosse o mau dia de nossos atacantes.

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