O que está em jogo nas eleições tricolores (por Paulo-Roberto Andel)

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Muita gente reclama dos horários dos jogos do Fluminense, o que é muito compreensível. Sete da noite no meio de semana, sábado às três da tarde, sábado sete da noite. Raramente atuamos nos chamados horários nobres. Há vários motivos para se explicar isso, mas o maior deles é doloroso e simples: apesar da boa campanha no Brasileirão, o Fluminense não é visto como protagonista. Sua audiência é utilizada para alavancar horários cult. É o time (nem sempre) simpático aos olhares jornalísticos e só.

Nosso protagonismo ficou no século XX com a devida licença poética de apropriação da primeira década do século XXI. Nos anos finais, o Fluminense saiu rapidamente da terceira divisão para a disputa dos títulos brasileiros de 2000, 2001, 2002 e 2005, até a era de extremos compreendida entre 2007 e 2010. O tetra em 2012 é um último suspiro de prorrogação daqueles anos incríveis. Desde então, surgiu uma nova era (que já se desenhava no início da gestão Peter Siemsen em 2011) e, por mais desagradável que seja pensar nisso, em termos de expressão nacional o Fluminense foi praticamente nulo, limitando-se a comemorar vagas na Libertadores como se representassem o título. Não se trata de pessimismo, mas de encarar os fatos de maneira serena e madura.

A conquista do Carioca 2022 é afetivamente importante, sem dúvidas, mas ninguém pode ser louco de achar que o Fluminense gasta 100 milhões de reais numa temporada para ganhar o Campeonato Estadual e só. O mundo mudou, o futebol também e não há quem caia nessa conversa fiada. O querido Carioquinha é hoje um título de importância restrita, menor, e como me dói dizer isso – logo eu, que escrevi três livros sobre o gol de barriga.

O Fluminense caminha para suas eleições. Descontadas todas as hipérboles do processo, o que está em jogo não é uma guerra entre os candidatos A e B, nem uma disputa de vaidades, babados e sussurros políticos na sauna. Vai muito além disso. Também não se limita a fazer ou não a SAF, motivo de muita sede para alguns, mas que não necessariamente é a única alternativa tricolor.

O verdadeiro foco é decidir se o Fluminense volta à sua trajetória no século XX como protagonista, ou se mantém a condição de figurante no século XXI.

Na verdade, o Fluminense da figuração é uma agência de aluguel de camisas para vitrines e minutagem de ex-jogadores, onde só quem ganha além dos próprios são os eternos empresários do clube e, digamos, sua entourage. Uma agência burocrática que não constrói ídolos – porque negocia todos os jovens promissores por mariolas – nem conquista grandes títulos, alardeando desculpas esfarrapadas como falta de dinheiro para justificar a posição de coadjuvante nas disputas. Enquanto equipes de menor orçamento e tradição como Del Valle, campeão da Sul-americana, ou o Athletico, multicampeão no continente com uma arena fantástica, a realidade atual do Fluminense é esperar por um milagre monstruoso na busca pelo título do Brasileirão 2022. O Fortaleza é uma realidade e o Bahia vai crescer muito.

Nos últimos anos, salvo o querido Carioquinha, temos comemorado apenas títulos morais: o melhor mosaico, a taça dos clássicos, a “volta ao cenário continental”, a “festa mais bonita”, a “campanha digna”, a festinha anual na sede e outras quinquilharias que servem como ópio do povo tricolor, enquanto a tradição centenária de grandes conquistas é abandonada para favorecer milionários interesses pessoais, e uma grande pantomima distrai corações e mentes nas Laranjeiras.

Ou mudamos este cenário no voto ou o ex-Fluminense será uma realidade sem volta. A mudança definitiva de protagonista para figurante é a metástase tricolor.

1 Comments

  1. Oi Andel, 100 milhoes gastos pelo Flu? É uma quantia considerável pra se gastar com veteranos com pneus arriados e barangas superfaturadas como o CP, por exemplo. Perfeita a sua explanação e a coisa poderia estar pior, pois há não muito tempo, a eleição no clube não era direta, quem decidia o futuro do clube eram os beneméritos. Mas acho difícil maiores mudanças, como o voto online por exemplo, quem pode decidir isso não vai querer perder o privilégio, a teta é farta e tem muita gente mamando e se dando bem. Infelizmente, vamos nos eternizar no papel de coadjuvantes. ST

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