O que é que o baiano tem? (por Ernesto Xavier)

JURMinha família é baiana. Viajo para a terra de Jorge Amado desde que me entendo por gente (e até antes disso). Por isso minha relação com a Bahia é tão estreita. Temos casa no sul do Estado, em uma cidade chamada Prado, um paraíso. Todos os anos, passamos uma temporada por lá. Certa vez, no meio do ano, fazia um pouco de frio e chovia na cidade. Não tinha muito o que fazer. No meu quarto havia uma prateleira de livros deixados por meus tios. Talvez eles também já tivessem passado pela mesma situação que eu em temporadas anteriores. De certo que ler sempre foi uma de minhas atividades prediletas.

Naquela semana devorei algumas preciosidades, que guardo na memória até hoje. Após ler John Fante e Charles Bukowski, me deparei com o brasileiríssimo João Ubaldo Ribeiro. Meu primeiro contato com sua obra foi então “Vencecavalo e o outro povo”, uma obra prima que varia entre o erudito e o popular, com narrativas hilariantes, expondo um Brasil tão verdadeiro e absurdo, que chega a doer. A partir dali passei a me debruçar sobre a obra do autor e a ler sua coluna no jornal O Globo.

Um ano depois daquele primeiro “contato”, tive a chance de assistir uma palestra sua na faculdade. O escritor e jornalista era tão grande exemplo pra mim, que tento seguir (humildemente) o mesmo caminho. Por coincidência (ou não), eu vestia uma camisa vermelha do Olodum naquela ocasião. Sentado na segunda fileira do auditório, era fácil ver o menino negro e franzino, que destoava de todo o resto.

Quando iniciou a sabatina, lá estava eu preparado para enchê-lo de perguntas, porém antes que eu pudesse me manifestar, ele pegou o microfone e disparou:

“Menino do Olodum, você é baiano?”

“Quase. Diria cario-baiano”

E o final da palestra foi praticamente um bate-papo entre nós dois. Perguntei tudo que gostaria de saber sobre sua obra. Devo ter sido um pouco chato, é verdade, mas aquela era uma oportunidade única. E foi. Nunca mais o vi de perto. Mas ele esteve presente em tantas letras e páginas que se seguiram.

Este torcedor do Vitória-BA, um rubro-negro, portanto, era amante do futebol bem jogado. Falava de futebol de uma maneira peculiar.

Quando um fanático por futebol morre, outro, de igual importância deveria nascer. Sem estes ícones, nosso esporte e a literatura esportiva ficam mais pobres. Hoje está tão complicado ler algo que preste sobre o assunto…

Perde o futebol. Perde a literatura e o jornalismo. Perde a vida.

CURTAS

– Cristóvão, não desista. Precisamos de inteligência no meio-campo. Sua tentativa deve prosseguir. Temos a chance de mostrar ao Brasil que tipo de futebol deve ser implantado por aqui.

– O Fred ainda vai calar a boca de muita gente.

– Dunga? É isso mesmo? Faço bem em me importar mais com o Fluminense.

– Vence o Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @nestoxavier

Foto: Esporte Clube Vitória | Twitter

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