O podre poder (por Zeh Augusto Catalano)

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Minha filhinha tem três anos e poucos meses. Ainda não compreende o significado completo do futebol.  Chuta bolas (bem, incrivelmente) pela casa, sempre fazendo (já repete!) gols do Vasco. Tenho assistido os jogos do Vasco quase que em segredo, em silêncio, pois não há nenhum motivo para celebrações, só palavrões. Ainda tento esconder a (duradoura) atual fase do Vasco dos olhos de uma torcedora em fase de formação. Não é mentir, mas tentar omitir os insucessos vergonhosos, para que a figurinha não comece a pensar em outros times, influenciada por amiguinhos da escola ou outros vetores do mal.

Tenho, no entanto, ciência de que essa ação protetora só funciona porque ela ainda é muito novinha. Se tivesse seus cinco, seis aninhos, já saberia o que se passa no Vasco. Ou melhor, já saberia o que os veículos de comunicação falam sobre o Vasco. E é ai que a coisa piora, e muito.

Rio de Janeiro, minha cidade por 39 anos. Cidade maravilhosa, mundialmente famosa. Uns anos atrás, um jornalista (americano, se não estou louco) resolveu publicar uma matéria sobre as mazelas da cidade. Quase foi expulso da cidade. Agora pense que ao invés de divulgar as maravilhas do Rio, a imprensa se dedicasse a divulgar – principalmente para o estrangeiro, turista em potencial – apenas suas tristezas. Pobreza, Crack, moradores de rua aos montes, violência, desigualdade social, caos no transporte público, caos na saúde etc. Com certeza, teríamos uma queda na visitação da cidade. Durante copa e olimpíadas, veremos um Rio artificialmente impecável. Escondendo ao máximo suas mazelas.

Exatamente o oposto do que é feito pelos principais veículos da imprensa com o Vasco. Não sou tricolor, mas acho que com o Flu também, e com o Botafogo. É notícia ruim atrás de notícia ruim. De um tanto, que cansa. Você abre o caderno de esportes do seu time, e o que não lê é esporte. Dívidas, roubalheira, negociatas, atrasos de salários. Ok, isso é notícia. Isso explica o estado das coisas. Mas há limites, tanto de um lado quanto de outro. Não dá pra falar só de futebol. Não dá pra falar só de tristezas. Porque fazendo isso, você destroi o encanto dos pequenos torcedores. Você dá pra eles a certeza de que o futebol é uma chatice. Quase o preço do tomate. que motivação um moleque vai ter de torcer por um time do qual só se fala coisa ruim? Atenção: não é torcer prum time que só perde. É torcer prum time sobre o qual não se vê nada que preste. O Boston Red Sox, do baseball, passou oitenta e seis anos sem ganhar um título. Nesse meio tempo, estádios lotados, paixão eterna. A balela de que derrotas diminuem torcida tem a sua contraprova. No entanto, não há veículos tentando desmotivar o torcedor do Boston.

Semana passada, a interatividade bateu à minha porta. Compartilhei reportagem de veículo esportivo nacional mostrando que a torcida do flu havia imundiçado São Januário ao jogar lá sua partida da libertadores. Sim, a reportagem, para quem não viu, era sobre o fato de que depois de um evento com 10, 20 mil pessoas, o estádio tinha  ficado imundo, com papéis, copos plásticos etc. Fiz minha crítica e, para minha surpresa, o veículo veio até a minha timeline (!!!) para me convencer de que aquilo, a reportagem (em vídeo) é notícia, é jornalismo. Que interessa à coletividade. Que cumpre o papel social de informar.

Pois não cumpre. E não é sequer interessante, engraçado (podia ter um viés humorístico…), mas cumpre muito bem o papel de falar mais e mais mal de uma instituição pra lá de baleada.  Não é, definitivamente, o que eu quero ler no meu caderno de esportes. Então, me restam duas opções: ignorar e calar-me, pois sou o chato, o cricri, o defensor da teoria da conspiração, ou reclamar, mesmo me aborrecendo. É o que eu prefiro fazer.

Saudações cruzmaltinas e abraços,

Zeh Augusto Catalano

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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