O meu Fla-Flu inesquecível

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Eu poderia citar o do gol de barriga, o do gol de Assis a minutos do fim do jogo, mas não. O meu Fla-Flu inesquecível é aquele que eu nunca tive. O meu Fla-Flu inesquecível é o Fla-Flu que nunca terei.

Meu pai era flamenguista e eu, seu único filho, tricolor. Meu pai viu a chamada “era de ouro” do Flamengo com Zico, Adílio, Urigueller, Júnior… Meu pai viu Dorval trocar a Gávea pelas Laranjeiras, meu pai viu jogos na geral, meu pai viu os mais importantes títulos de seu time. Para se sentir realizado, meu pai queria um filho flamenguista.

Daí eu nasci. Nasci e cresci não querendo saber de futebol mesmo indo a jogos do Flamengo com meu pai. Mas foi num Fluminense x Botafogo que, aos seis anos, meu amor pelo tricolor surgiu. Saí do Maracanã, da torcida do Botafogo, com um tio meu. O Fluminense havia ganhado aquele jogo e vi a festa da que eu chamo de “a torcida mais linda do mundo”. Cheguei em casa falando que era Fluminense e meu pai, com um olhar triste, respeitou a decisão de um menino de seis anos.

Quando mais velho, comecei a ir a jogos com amigos e parentes que torciam pelo Fluminense e fiz a promessa ao meu velho que eu iria a um Fla-Flu com ele, já que não era possível torcermos por um mesmo time e no mesmo lado da arquibancada, que torcêssemos cada um para o seu, mas juntos, na torcida mista.

Pois é, sempre que tentávamos ir a um Fla-Flu, acontecia algo. Ora ele precisava trabalhar, ora tinha uma festa de parentes, ora um compromisso inadiável aparecia.

O Maracanã fechou para obras, veio o Engenhão sem sua parte mista e eu não consegui levar meu pai a um Fla-Flu.

Mas a sua maior prova de amor por mim estava por vir.

Em uma noite de natal, meu pai, já divorciado da minha mãe, passou a data comigo e iria embora no dia seguinte. Quando acordei, minha vó dissera que meu velho descera para comprar pão e queijo para o meu café matinal, mas quando meu pai chega é que a surpresa acontece… O velho abriu o meu armário e vestiu a camisa grená com dourado do Fluminense que lá estava pendurada! Para muita gente pode não ser nada demais, mas para o meu pai, um Flamenguista assumido, isso era um mundo inteiro e para mim era simplesmente uma das maiores provas de amor que um filho poderia receber de um pai. Hoje mais do que nunca eu valorizo isso. Naquele dia eu jurei pra mim mesmo que iria a um jogo do Flamengo com o velho e ele falou: ”vamos ao Fla-Flu da reabertura do Maracanã, na mista!”.

Tive como um dos objetivos, conseguir uma camisa do Flamengo da década de 80. Quis o destino que eu fosse cobrir uma pauta com o Adílio no lançamento de sua camisa retrô e o mesmo me deu um exemplar que logo pedi para que autografasse e dei ao meu pai de presente para ele usá-la no nosso Fla-Flu.

O “Maior do mundo” reabriu e os imprevistos continuaram. Hoje faz um ano e vinte e sete dias que meu pai faleceu e nós nunca fomos a um Fla-Flu juntos. Hoje eu não poderei ir por estar trabalhando, afinal trabalhar com futebol tem dessas coisas…Mas no próximo eu vou, meu velho. O senhor estará comigo, eu tenho certeza. Vou na torcida mista do Maracanã vestido com o manto tricolor e a sua camisa do Flamengo no ombro tendo a certeza de que você assistirá ao jogo comigo.

Parafraseando Nelson Rodrigues, o nosso amor teve sua origem 40 minutos antes do nada e tem a vocação para a eternidade. Tudo passa, mas o senhor, o Fluminense e o “Clássico dos Clássicos” não passarão jamais.

Matheus Frigols

3 Comments

  1. Sensacional! Emocionante! Parabéns! Deixamos de viver quando podemos… O tempo passa, quando nos damos conta é tarde demais…

  2. AMIGO!!! Que texto mais lindo!! Juro que foi um dos mais encantadores que já li!! Parabéns pelas palavras, parabéns para o seu pai por ter um filho tão carinhoso!! E mais do que nunca: ele sempre estará com você!! Beijo grande da sua amiga e vence o Fluminense! 😉

  3. Você emocionou um pobre tricolor. Seu pai estará não só no Fla Flu, mas em todos momentos ao seu lado. Grande abraço!

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